Arauto da desgraça
Ninguém me tira a condição de sofredor indiscutível que sou, desde quando, pelos idos de 1973, optei pelas cores do Furacão, contra a maioria dos colegas que optaram pelo comodismo de torcer para os verdes.
Naquela década era fácil trilhar este caminho. Difícil foi o escolhido por mim.
Digo isto porque ninguém me tirará a ombridade e a razão para tecer aqui um comentário que há tempos me impregna a alma:
A comparar com os demais, penso que vamos cair. E até merecemos tal.
A instituição que orgulhosamente destino enorme parte de meu viver está a merecer uma ampla reforma de seus valores.
Talvez uma bela – e exemplar – punição nos faça bem.
Com isto que aí está perdemos a dignidade. Talvez a resgatemos com campanha menos vexatória na segundona ano vindouro.
Onde já se viu acumular derrotas e simplesmente esquecê-las, tipo ‘deixar para lá’… no próximo jogo tudo será melhor?
Não entra em minha cabeça esta mentalidade mequetrefe que tomou conta do nosso Rubro-Negro paranaense.
Para nossa sorte, outros clubes estão implorando por igual destino e, a esta altura, a matemática que tanto odeio ainda insiste em nos favorecer.
Nós, os aplicadores e usuários das ciências humanas, temos horror à ciência exata e fria da matemática.
Alguém se habilita a questionar a bravura de um Fluminense? A tenacidade de um Botafogo apesar da goleada sofrida? Mas esta última trata-se de uma equipe matreira, experiente e que não costuma se entregar facilmente.
Dos verdes me limito a constatar que fazem direitinho a lição de casa. Pelo menos se esforçam. Não dão tanta chance para o azar.
Falta uma peça a fazer companhia a Sport, Náutico e Santo André.
E sinceramente não vislumbro nenhum clube com tamanha disposição para fazer parte do seleto grupo rebaixado à Série B em 2010 do que o Atlético Paranaense.
Gostei do que vi o Vasco fazer neste ano. Tradição, trabalho e humildade fizeram muito bem aos cruzmaltinos. O mesmo remédio talvez nos faça o mesmo efeito.
O fato é que a casa cai e estremece de vez com apenas um ou dois empates nas partidas caseiras restantes contra o Cruzeiro e o Botafogo.
Para este arremedo de equipe que está a envergar a cores do CAP neste ano, os propalados empates são resultados absolutamente normais.
E daí sobra o apavoramento – e certamente a estapafúrdia e frenética movimentação da apaixonada torcida atleticana – fora, contra o caçula Barueri, que tem uma aura do extinto Pinheiros, time frio e que quando bem montado, mostrava-se habituado a pregar peças contra rivais maiores.
Tenho cá fundadas dúvidas se publicarão minha matéria, em nada depreciativa ou apocalíptica. Tão somente produto de constatação e sendo de observação ao vigente estado de coisas.
Apesar do sentimento de amor e devotada fidelidade ao Furacão, vejo com enorme receio e desalento as partidas restantes.