Quem é que faz a alegria do povo?
O ano era 1982. Eu, nos meus 19 anos, após acompanhar aquele timaço formado por Roberto Costa, Lino, Jair Gonçalves, Ivair, Washington e Assis, que após 12 anos sem título, fazia uma campanha que nos dava esperança da conquista do campeonato, encontrava-me servindo o Exército Brasileiro pelo 20º BIB, estava impedido de comparecer ao jogo decisivo no Couto Pereira, pois estava envolvido em manobra de guerra na região de Marechal Hermes em Santa Catarina. Escondido, fiquei em um canto da mata com um radinho de pilha. Consegui, após muito esforço, sintonizar a B2 e acompanhar o jogo e a vitória por 4 a 1 que nos deu o campeonato. Fui obrigado a vibrar contido a cada gol e, principalmente, ao término do jogo engasgar o grito de é campeão. Eu que, como torcedor, tinha apenas há 7 anos visto a última vez que meu querido Furacão fora campeão, devido a pouca idade somente sabia ser atleticano por ter herdado de meu pai essa paixão. Mas, muito pouco discernimento tinha a respeito das coisas. Permaneci calado, camuflado em meio a mata, não poderia revelar minha posição ao inimigo e assim foi por mais 15 dias. Exercícios de guerra, sobrevivência, tiros, orientação e emboscadas.
Ao chegar em casa, fui direto ao meu pai, conhecido como Chiquinho Alfaiate ou Francisco Renisz, técnico de laboratório do Setor de Ciência Biológicas da UFPR e ele, com grande entusiasmo, passou a me relatar o jogo, cada gol e em especial o quarto, uma pintura disse ele, linha de passe entre Washington e Ivair com esse fazendo o passe de letra para Washington tocar no contrapé do goleiro, a festa no Couto e seu regresso após a partida. Fez ele o caminho do estádio para casa a pé, como se pagasse uma promessa, pois mesmo ele, que vibrou em 70, passara os anos 60 a seco. Também foi uma década magra de título para o CAP, nossa casa fica na BR 277, próximo à fábrica da Coca-Cola. Ele disse ter descido a Ubaldino do Amaral e atravessado o viaduto do Capanema, reduto do então adversário, o Colorado, envolto em uma bandeira do Atlético e gritando pelo caminho: Quem é que faz a alegria do poooovoooo? Atlééeéticoooo! E assim cruzou o reduto colorado e seguiu cantando até chegar exausto em casa, porém, feliz da vida. Eu então o abracei e como dois moleques pulávamos e gritávamos pela casa, em frente ao olhar espantado de minha mãe. Pude então esvaziar de meu peito o grito de “é campeão”.
No começo desse mês de Dezembro, completaram 3 anos de seu falecimento, devido à uma pneumonia aos 73 anos de idade e é essa a imagem que guardo do meu querido pai, lá no céu a gritar: “Quem é que faz a alegria do poooovoooo? Atlééééticooooooo!