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21 mar 2010 - 22h52

[Promoção 86 anos do Atlético] Uma vida rubro-negra

Nasci no dia 26 de abril de 1983, às 22 horas e 56 minutos. Era noite de jogo do Atlético. Meu pai, grande atleticano que jogava com a 4 nas costas e era um becão daqueles que quando batia pênalti furava a rede, se revezava entre perguntar para as enfermeiras se a primeira filha já tinha nascido e perguntar para um senhor com um radinho na portaria do hospital quanto estava o jogo do Atlético.

No dia e na hora que eu nasci, o Atlético jogava. No dia e na hora que eu nasci, assim como eu venci e vim ao mundo, o meu Atlético também venceu!

Pois bem. Eu não queria ter nascido no dia 26 de abril… Queria ter sido como a minha irmã Mariana, vindo antes do tempo. Tivesse eu nascido no dia 26 de março, faria aniversário junto com o meu amor, o Atlético.

Bom, a vida foi seguindo seu rumo e o meu envolvimento com o futebol e especialmente com o Atlético só aumentava! O meu pai, seu João, o becão do chute potente, me levava vê-lo jogar bola e dava uma folga para minha mãe limpar a casa em paz! Eu gostava, prestava atenção nas jogadas, batia uma bolinha com ele ao lado do campo, ficava ouvindo aquela macharada comentando a partida. Fui aprendendo táticas de jogo, expressões futebolísticas e pegando intimidade com a pelota.

Não deu outra. Na escola eu não queria saber de pular corda ou brincar de elástico com as meninas, queria mesmo era jogar bola com os meninos. O professor não queria deixar porque eu poderia me machucar… Minha mãe então mandou um bilhete para o professor, me autorizando a jogar futebol com os meninos e se responsabilizando por qualquer eventualidade! Oba, minha felicidade estava feita! A partir daí, sempre fiz educação física com os meninos. Defendia as cores rubro-negras com unhas e dentes! No campinho de terra ao lado da escola disputei muitos Atletibas! Ganhei e perdi! Que fase boa aquela!

O tempo ia passando. Joguei futebol na escolinha do Paraná Clube (fosse hoje em dia que o Atlético tem escolhinhas espalhadas pelo mundo todo… bom, deixa pra lá)… Acreditem ou não, eu ia treinar com o calção do Atlético. Uma vez um rapaz tatuado (que depois fiquei sabendo era um integrante da torcida organizada) veio gritar comigo, dizendo que era um absurdo o que eu estava fazendo, agredindo a instituição do Paraná Clube com aquela atitude… Bom, ouvi e não respondi. Dei de ombros. A partir daquele dia, além de ir treinar com o calção do Atlético, também fui com o meião.

Meu pai me levava a todos os jogos do Atlético. Eu amava! Adorava! O clima antes dos grandes jogos era especial e inesquecível! O pai acordava bem cedinho, hasteava a bandeira do Atlético no telhado da garagem e ligava o rádio na Clube!! Era de arrepiar ouvir aquela vinheta sensacional de “É gol, que felicidade!!!”

Num desses jogos, uma quarta-feira à noite, o cara sentado ao meu lado no estádio reclamava pois teria que sair antes do jogo terminar… Ele me explicou que morava numa cidade da Região Metropolitana e o último ônibus saía do Terminal Guadalupe às 23 horas. “Onde você mora?”, perguntei. Ele respondeu: “Piraquara.” Opa, cutuquei meu pai e contei a história. Ele, meu pai, já me olhou com um sorriso maroto (nós morávamos em Piraquara!) e nós dois pensamos a mesma coisa. Levamos o ilustre amigo atleticano desconhecido para casa e já combinamos de ir juntos ao jogo no próximo domingo. E assim foi. Domingo após domingo eu e meu pai buscávamos o Edson (era esse o nome dele!) em casa e íamos para a Baixada. Ganhamos um grande amigo. O Edson era uma figura. Lembram daquele goleiro, o Ivan, que substituiu o Ricardo Pinto depois do massacre das Laranjeiras? Pois então… O Ivan era muito ruim! Pelo menos o Edson achava isso! Toda vez que o Ivan ia fazer aquecimento o Edson ficava grudado no alambrado gritando: “Vai embora Ivan!” Era um sarro! Até o dia que o Ivan foi ao alambrado falar com ele. E os dois ficaram lá, conversando como bons amigos e dando muitas risadas. O tempo passou e quis o destino que uma fatalidade levasse o Edson pra morar no céu. Novo ainda, levou a bandeira do Furacão com ele. Senti tanto pelo Edson não ter visto a inauguração da nossa Arena. Ele ia ficar bobo. Onde você estiver Edson, eu e o pai sentimos saudades.

Fiz 18 anos. E o melhor que podia acontecer, aconteceu: tirei minha carteira de motorista! Para quem morava em Piraquara, ter carteira de motorista significava muita coisa. Era a chance de sair com a galera da faculdade depois da aula e ir aos jogos do Atlético sozinha. Quantas vezes matei aula na faculdade…. quantas provas feitas em tempo recorde só pra dar tempo de sair da Faculdade de Direito de Curitiba e chegar na Arena! Ainda bem que não passei na UFPR. A FDC, ali na rua Chile, fica a 5 minutinhos da Arena! Lembro de uma prova em dia de jogo da Libertadores. Era de assinalar X com 20 questões começando às 21 horas. O jogo começava às 21h45. Fiz uma aliança com meus colegas: “Eu faço as 5 primeiras questões. Paulo, você faz da 6 a 10. Laura, vc faz da 11 a 15. E você Carina, fecha fazendo da 16 a 20.” Fiz a minha parte, peguei as respostas das outras questões com os meus colegas, agradeci e saí correndo. 21h30 eu já estava passando as catracas pra ver o El Paranaense.

Bem, Atlético é sinônimo de amor e o meu coração não ficou vazio por muito tempo. Aquele polaco do olho verde virou meu namorado e eu fui logo mandando: “Ou você me acompanha nos jogos do Atlético ou eu vou sozinha.” Ele resolveu me acompanhar. Na primeira vez do namorado na Arena pegamos o Santos do Diego e do Robinho…. perdemos. Não desanimei. Levei o polaco outra vez. E o Atlético perdeu mais uma… Era um novo atleticano que estava nascendo mas o parto foi difícil. O terceiro jogo foi aquele Atletiba em que o Ilan fez 2 gols, 1 de bicicleta! Pronto, nasceu! Tinha que ser num Atletiba! Aquele dia, os olhos verdes (ai) brilharam com o nosso rubro-negro!

A faculdade seguiu seu rumo, passei num concurso público, me tornei sócia Furacão (junto com o polaco), levei meu irmão, o Gabriel, ver a final da Libertadores comigo lá em POA, noivei, doutrinei meu afilhado e formei (mais) um novo atleticano, casei com o polaco e sonho com o dia em que levarei meus filhos na Arena!! Evidentemente que comprarei todas aquelas roupinhas da torcida baby e farei o book de gestante com a camiseta do Atlético!

Olhando a nossa torcida na Arena, admirando cada amigo atleticano desconhecido, vislumbro o meu futuro e já vejo o dia em que marcharei lado a lado com o polaco dos olhos verdes e a minha prole rumo a Arena, estampando no peito a camisa que só se veste por amor. Desejo que seja assim mesmo, até o dia em que, já bem velhinha, sentada ao lado do polaco dos olhos verdes, contarei esta história mais uma vez, para os meus netos.

* No dia 26/04/83 o Atlético jogou contra o Colorado e ganhou por 2 x 1, gols de Nivaldo e Washington.



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