Perdemos o bonde da história
A verdade nua e crua é essa: distraídos e pouco apercebidos do que começava a acontecer no futebol brasileiro de uns quatro ou cinco anos para cá, ficamos para trás. Iludimo-nos e, pior, dormimos demais nesses precitados pregressos anos, por pensarmos, por exemplo, que o nosso futebol estava definitivamente nivelado por baixo; que o futebol carioca estava acabado; que ninguém mais teria condições de segurar aqui ou mesmo repatriar jogadores de nível técnico diferenciado.
Por acreditarmos inocentemente nessas afirmações, vimos, nesse mesmo lapso temporal, o Coritiba cair duas vezes e o Paraná uma, só não ocorrendo a mesma coisa em relação ao nosso Atlético porque, literalmente, nossa torcida não permitiu, tamanho o empenho que encetou em todas as oportunidades e foram quatro – em que o Clube esteve às portas da 2ª. divisão.
Parece que estamos acordando agora, ainda meio sonolentos e não muito conscientes da atual realidade que nos cerca.
Precisamos urgentemente lavar a cara com água gelada e admitir, finalmente, que aquelas nossas crenças não passavam de meras e infundadas conjecturas, pura retórica vazia de conteúdo elaborada por mentes provincianas tão-somente dotadas de uma visão de antolhos, pois, afinal, o futebol em nosso país, nos dias de hoje, não está nivelado, muito menos por baixo v., por exemplo, o paulista e o carioca, que oferecem ao torcedor jogadores como Diego Souza, Ronaldo, Washington, Robinho, Fred, Adriano, entre outros -, ou, então, até mesmo o mineiro e o gaúcho, com Kléber gladiador e D’alessandro, para não citar mais de dois. Nesse mesmo período de tempo, distraídos, acabamos virando unicamente restauradores e/ou fornecedores de atletas mais qualificados para esses precitados centros futebolísticos (Washington, Dagoberto, Keirrison, Miranda, Borges) e o que é pior, tendo que aceitar quando, principalmente nossas jovens e promissoras revelações, são entregues a preço de banana para empresários e clubes, principalmente de São Paulo, que por sua vez os encaminham para outros clubes auferindo lucros extraordinários.
Estou falando mais especificamente de Henrique, Pedro Ken, Marlos, Giuliano, Ronaldo e, mais recentemente, Alex Sandro. A propósito, não tenham dúvidas de que os próximos a serem transferidos ou, antes, fugirem daqui, serão o Manoel (Manél), o Wallyson, o Marcelo e o Renatinho. Vejam: alguém pode acreditar mesmo que os empresários desses meninos, ou mesmo eles próprios, não se aperceberam desse final de feira que virou o futebol paranaense? Crucificar esses jovens tão-somente por possuírem a ambição profissional de prestarem seus serviços num centro futebolístico que lhes garanta efetivo sucesso em todos os sentidos é muito fácil; difícil é aceitar que, em idênticas circunstâncias, por exemplo, um filho nosso seja obrigado a permanecer, nada obstante o seu potencial diferenciado, numa ambiência de tamanha mediocridade, onde a desculpa para não evoluir é a eterna choradeira em relação ao favorecimento de que são alvo os clubes dos nossos ditos tradicionais centros futebolísticos.
Chega, pois, de reclamar; vamos sim estudar, planejar ainda que a médio e longo prazo -, para reverter essa inconcebível tendência que temos de simplesmente lamentar, ao revés de trabalhar para mudar.
Será que não existe nesta abençoada terra paranaense sequer uma inteligência capaz de encontrar uma solução caseira para essa problemática? Gaúchos e mineiros a encontraram há mais de trinta anos; por que não nós?
O nosso Atlético, no início deste século, chegou a nos fazer pensar que, finalmente, ao menos ele, encontrara a solução. Não encontrou.
O que ocorreu foi que apenas aproveitou os vácuos que se abriram a sua frente pela momentânea decadência técnica dos nossos denominados clubes tradicionais (Corinthians, São Paulo, Flamengo, Grêmio, Cruzeiro e outros), derrocada essa que teve origem na grande evasão então havida de seus maiores craques para o futebol do exterior, posto que completamente enlouquecidos pelos acenos dos dólares e euros.
A atmosfera hoje é bem outra.
O que nos faltou e aí não falo somente do Atlético – foi mesmo um planejamento mais definitivo para fazer chover sempre, ainda que algumas vezes mais, outras menos, mas sem que a chuva cessasse. Ao que tudo nos leva a crer, infelizmente, razão tinha mesmo aquele medíocre comentarista da mídia paulistana que, nesse tempo de falsas ilusões, chegou a nos rotular de nuvem passageira.
Na verdade, se é que temos mesmo o firme propósito de resolver essa questão maior, não podemos trabalhar somente no varejo, v. g., ingressando com medidas na justiça desportiva e/ou comum para tentar solucionar um ou outro caso até porque temos levado fumo em quase todos-; temos, isso sim, que mudar o panorama como um todo, estruturando-nos em todos os sentidos para bem administrar o nosso futebol no seu inteiro conjunto já a partir de uma radical mudança de mentalidade de nossos dirigentes, da nossa imprensa e dos nossos torcedores.
Ainda que não seja exeqüível e/ou concebível a malsinada idéia da Arena ATLETIBA sou contra, pois acho que temos muitas outras alternativas para salvar o futebol paranaense-, penso que o Petraglia, quando a formulou, ao menos estava imbuído desse relevante desiderato maior.
Gostaria de não mais ter que ouvir ou ler coisas como: os paranaenses têm complexo de inferioridade, ou de vira-latas, ou de que somos provincianos e tímidos por natureza.
Vamos sim trabalhar seriamente pelas coisas que são nossas, mas sem lamentações ou tentativas imperfeitas de desvalorizar ou desmerecer as que não são; vamos nos preocupar com coisas de grandes proporções, pois as verdadeiras águias não apanham moscas.
Nesse diapasão, dia chegará em que, por exemplo, poderemos ter o prazer de receber fujões de outros centros futebolísticos em nossos clubes. Já pensaram?
Antes acender a pequena chama de um único fósforo, do que blasfemar na escuridão.
Uma só andorinha, por certo, não faz verão, mas DÁ PRENÚNCIO DE AURORA.
Apesar e tudo, feliz aniversário Clube Atlético Paranaense, por tudo quanto você significa para os nossos corações!!!