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23 mar 2010 - 23h13

[Promoção 86 anos do Atlético] Amor à raça

Nasci no interior do Estado do Paraná, na cidade de Congonhinhas. Um dos maiores eventos da cidade, para os piás da minha idade, era ficar em um lugar chamado ‘subidão’, que era uma estrada de acesso da cidade e na época todas as estradas eram de terra.

Quando chovia o tal subidão ficava liso como sabão e a piazada se reunia em um ponto estratégico para esperar um caminhão ou um carro tentar subir na lama… era a maior diversão… eles patinavam… embicavam… rabeavam… mas não saiam do lugar, é nós lá.

Hoje fico imaginando o quê os motoristas pensavam quando viam um bando de piás parados em um ponto estratégico olhando para o caminhão, devia ser meio assustador.

Nesta época, não havia distribuição elétrica regular, não havia gás de cozinha em botijões, não havia telefone DDD e a TV era preto e branco – uma colorado RQ – que meu pai havia comprado.

O futebol só o varzeão da Vila Nova contra a Vila Velha – só havia os dois bairros na cidade. Ou o clássico Congonhinhas contra Nova Fátima (uma cidade vizinha), onde meu irmão contou-me ter ouvido um torcedor do Nova Fátima de 8 anos de idade ter feito a rima maravilhosa: uh… uh… uh… Congonhinhas não tá com nada!

Tínhamos acesso aos jornais de São Paulo e líamos a gazeta esportiva e conhecíamos bastante de futebol. A tv monopolizava, de forma que só podíamos assistir os jogos de Rio e de São Paulo. Por isso, um de meus irmãos torcia para o Santos – por causa da camisa branca e depois passou para o palmeiras – outro irmão torcia para corinthians – porque era ‘sofredor’ e eu gostava do Vasco da Gama, que fora o primeiro campeão nacional – por causa de Roberto Dinamite, ficava imaginando quando o cara iria explodir em campo.

Em 1976, mudamos para Curitiba e, a partir de 1979, passamos a frequentar os estádios de futebol nos famosos quadrangulares do Estádio Belfort Duarte.

Um dia, fui com meu irmão assistir um jogo na velha Baixada, ainda não era resolvido em relação a uma paixão clubística.

Na época, um jogador do Flamengo do Rio de Janeiro havia sido contratado pelo Atlético, era tipo uma preciosidade, alguém que era para ser visto de forma diferente, afinal ele ‘apareceu’ na Rede Globo.

Era um jogo contra um time do Mato Grosso, não me recordo exatamente, havia chovido e o campo estava molhado.

Havia algo de mágico no time do Atlético, algo que tocou fundo dentro do coração. Na lateral corria um negro muito forte e com muita garra, não havia bola perdida, não havia adversário, só havia vontade e raça.

O negro era o falecido lateral Soter e ele e os outros jogadores do Atlético todos se entregando ao jogo, com vontade, com gana e com raça. Não havia um jogador em campo que não estivesse com o uniforme sujo… As meias brancas estavam encardidas pelos carrinhos… a camisa estava com pedaços de grama e terra… campo molhado ou não era uma guerra com um só resultado possível… a vitória!

Contudo… dentro de campo havia um jogador que não estava com o uniforme sujo… que sequer a meia na altura da divisa com a chuteria havia sido molhada… afinal, ele corria com a ponta dos pés para não se sujar… não dividia jogada… não dava carrinho… era o tal jogador do Flamengo.

Neste instante, percebi algo de diferente e nosso Atlético Paranaense, diferente de todo o resto do Brasil, algo que me tornou não um torcedor mas um devoto… senti que algo invadiu minha alma e tomou conta… desde então não houve qualquer outro time que merece ser digno de meu olhar… só o nosso Rubro-Negro…

Rubro-negro é quem tem raça e não teme a própria morte!



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