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24 mar 2010 - 13h02

[Promoção 86 anos do Atlético] A camisa rubro-negra só se veste por amor

Na vespera do natal de 64 nascia neste ”mundão de meu DEUS” mais um atleticano, este que escreve estas lembranças, no Bairro das Mercês, mais precisamente.

Meu pai um cearense não gostava de futebol, aliás odiava, era um erudito por excelência, boêmio de coração.

Minha mãe, esta sim amava os esportes, me incentivava a praticar. Levava-nos sempre onde a suas econômias podiam levar, eu e meus irmãos. Ela era coxa-branca, e sempre escutava em um velho rádio valvulado os jogos deles, coisa que eu não dava a menor importância. Não me via e nem ligava para o futebol.

Certo dia (toda bela história tem um certo dia), fomos ao Passeio Público, era um lugar muito mágico para um menino de 6 ou 7 anos, afinal, era o zoológico. Dali fomos ao Santuário de N. S. do Perpétuo Socorro, ao fundo, o velho Belfort Duart, naquela época em construção. Ao redor balões, pipocas, algodão docê, sorvetes e laranjas vendiam até io-iôs. Enfim, tudo o que uma criança podia sonhar. Mas (e sempre tem um mas…) ao fundo dentro do Belfort dava pra ver dos portões um Atlétiba, e perguntei:

-Mãe quem ta jogando?
-É um Atlétiba filho.
-O que é isto?
-Atlético e Coritiba, aqueles de verde e branco são os coxas.
-O do rádio?
– Isto.
– E o outro não tem no radio?
– ( risos)
– Mãe! Compra uma camisa do Atlético?
– Quando tiver dinheiro eu compro.
– AH COMPRA, COMPRA…

A camisa só chegou vários anos mais tarde, quando nem me lembrava mais desta história. Antes vieram os bonés, as flâmulas, bandeiras. Todos presentes de um atleticano amigo lá de casa.

Com esta camisa fui aos meus primeiros jogos, fui mascote, pulei a velha cerca da Baixada, vi o milagre do Ziquita, subi nos cedros que havia por lá, corri dos guardas que insistiam em não deixar eu pular a cerca e ver o Furacão, fomos até o torneio da morte, as camisas dos jogadores desbotavam junto com a minha (anos difíceis!). Enfim, perdemos, ganhamos, saímos da Baixada, erguemos o Pinheirão, voltamos, reerguemos a Baixada (salve, Farinhaque!), quase fechamos, ressurgimos, temos o melhor CT, o melhor estádio é a Arena, invejado por paulista e cariocas, somos campeões brasileiros e assustamos a América. E dias melhores virão.

O menino cresceu, casou, teve filhos atleticanos, com balões e io-iôs já não brinco mais, vieram e foram os amigos de infância que não vejo há tempos, minha mãe já não está mais entre nós, meu pai também. Aquela velha camisa dei para um garotinho que vi nascer. Já vieram muitas outras.

O Furacão passou a fazer parte da minha vida desde aquela tarde de Domingo. Parabéns, Atlético, parabéns, atleticanos, pelos seus 86 anos.

Afinal, “a camisa rubro-negra só se veste por amor”.



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