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24 mar 2010 - 14h59

[Promoção 86 anos do Atlético] Na minha solidão

As crianças podem dar o reflexo perfeito da sociedade em que estamos enquadrados. Meninos e meninas são ótimos alunos do meio: põem em prática os ensinamentos societários com uma dedicação assustadora.

Tudo o que uma criança quer é ser parte de um grupo. É se encaixar num padrão e, quando isso acontece, defende com unhas e dentes, de forma cega e tola sua escolha, confrontando todos aqueles que optaram por outro caminho.

Criança não pondera. Não se utiliza de artifícios eufêmicos ou de condutas diplomáticas para não magoar o próximo. Não existe política da boa vizinhança entre os pequenos. Criança fala “na lata”, sem rodeios. Inexistem meias palavras no submundo da pouca idade: Ou fulano é legal ou é chato. Ou ciclano é bonito ou é feio. Quem não se encaixa no padrão está fora e ponto. Não existem conversas, pedidos de reconsideração ou vias recursais adequadas. O juízo é único, reto, pesado, firme, certeiro e imponderável.

Os pais gostam de futebol e as crianças, como reflexo óbvio, passam a gostar também (ou fingem que gostam). Geralmente os pais são decisivos na escolha do time do coração.

Meu pai sempre foi um palmeirense sem grandes convicções, talvez por isso eu nunca tenha me intitulado verdadeiro torcedor do time verde. Tinha no máximo simpatia, e era só.

Minha história com o futebol começa no ano de 1995 e já adianto: não é a história comum de um Atleticano: Não sou Curitibano. Meu pai não me levava ao Joaquim Américo para assistir o time. Não conhecia música da torcida, hino do clube e nem mesmo um mísero torcedor Atleticano que pudesse influenciar a minha decisão. Nada.

Pois bem, na cidade canção havia um primo mais velho que era Botafoguense (algo também raro por estas bandas). Lembro como se fosse hoje da gigante pintura que existia na parede do seu quarto: Era um símbolo do Botafogo, enorme, bem pintado, com a estrela solitária reluzindo reinando soberana no cômodo. No meio da estrela solitária havia uma caveira sorrindo.

Garoto que eu era me fascinei com aquilo. Estava surpreendido. Confesso que naquele ano passei (pela primeira vez) a acompanhar jogos de futebol na televisão e confesso também que minha acanhada torcida era dada ao alvinegro carioca (Não tinha como saber que o que havia me fascinado de verdade era a caveira e que anos mais tarde eu iria ver ao vivo e a cores uma “um tanto na maior” na torcida dos Fanáticos).

Bem, acho que sou é quente, pois naquele ano o Botafogo, de Túlio maravilha, viria a se tornar Campeão Brasileiro da séria A em cima do Santos. Comemorei a conquista (ainda que de forma tacanha), entretanto, ainda não poderia saber as reservas do destino para comigo.

Meu primeiro contato com o Rubro Negro aconteceu no final do ano de 1995. Lembro-me do exato momento. Lembro-me do lugar e quando a sensação daquele tempo volta confesso que o coração bate mais forte. Era dia de semana quando o Globo esporte resolveu fazer uma reportagem especial sobre os campeões Brasileiros da série A e série B do Campeonato brasileiro, mostrando diversos gols do Botafogo e do Atlético Paranaense, dando “close” em suas torcidas, reprisando os momentos que passaram no campeonato, terminando por exaltar as duas equipes.

Foi a primeira vez que vi a fanática torcida. As cores rubro-negras no estádio, as bandeiras tremulando e os gols mágicos de Paulo Rink e Oséias. A raça do time em campo, a vibração da torcida, os gritos ecoando no ar e no ubmundo infantil do meu subconsciente: tudo bem paralelo, intenso e verdadeiramente intenso. O coração bateu mais forte. Não sei explicar, mas foi naquele momento, naquele exato momento (eu ainda não sabia, mas não demoraria em saber) que havia me tornado Atleticano.

A curiosidade me bateu na porta e todo e qualquer tipo de recorte de jornal sobre o CAP era um prato cheio para a curiosidade. Conversas com os mais velhos e raros Atleticanos daqui me davam a oportunidade de conhecer mais daquele clube que tanto me cativara.

Em pouco tempo me intitulava Atleticano aos quatro cantos e para quem quisesse ouvir. Não me importava mais com o que os outros pensavam, se o CAP estava ganhando ou perdendo, se tínhamos estádio ou não, se possuíamos títulos expressivos, se alguém mais torcia. Nada mais me importava no mundo da bola. Só o CAP.

Na escola me tornei “chacota” e vítima de piadas tolas nas conversas de futebol. As crianças de 9 anos (minha díade à época) chegavam a duvidar da existência do Atlético. Quando me perguntavam para que time torcia e eu dava a resposta havia duas alternativas: Ou me diziam que não conheciam o clube ou perguntavam “mas e de São Paulo, qual você gosta?”, o que eu prontamente respondia que não gostava de nenhum. Só do CAP. Unicamente Furacão.

Parentes acharam graça na época, pensaram que era uma fase, supunham que eu era uma criança de personalidade forte e havia inventado aquilo para chamar a atenção. Colocaram em cheque meu amor pelo Atlético. Tentaram me presentear com as camisas de seus times.. Nada resolveu. Minha torcida era firme e apaixonada.

Lia tudo sobre o CAP nos jornais (não tinha computador na época), adorava as colunas do Carneiro Neto. Acompanhei por Jornais e noticiários esportivos a honrosa campanha do Furacão no Brasileiro de 1996. Xinguei Juiz, praguejei contra outros clubes e ao final, de uma forma que não compreendia, me senti feliz com a campanha do time, ainda que não tenhamos chego perto de sermos campeões.

Os torcedores mirins falavam da dupla de ataque Santista Giovanni e Camanducaia; eu rebatia com Paulo Rink e Oséas. Exaltavam as peripécias do goleiro botafoguense Wágner; contudo, eu preferia aclamar a muralha chamada Ricardo Pinto.
Louvavam Marcelinho Carioca e Vampeta, mas eu preferia Kelly e Tuta.
Corintianos enchiam os pulmões para exaltar a zombaria do capetinha Edilson fazendo embaixadinhas na final do Paulista, entretanto eu sempre achei mais engraçado ver o Nélio mandando a coxarada calar a boca após seu segundo gol em pleno Pinheirão
São Paulinos adoravam Kaka. Eu retrucava com Kleberson. Tricolores cariocas elogiavam Magno Alves mas eu sempre achei o Alex Mineiro mais decisivo (a semi-final do Brasileiro de 2001 que nos diga).

Embelezavam o Pacaembu, Palestra e o Morumbi e eu ria, em claro sinal de desdém, pois não conheciam a Arena.

Decidi que seria o Atlético e eu. Somente nós dois. Não precisava de mais nada. Estava completo na minha solidão.

Muitas outras experiências vieram, a visita à Arena da Baixada, as conquistas celebradas sozinho na quietude da sala de TV. A primeira camisa. Tudo sempre muito intenso. Apaixonante demais para uma criança, demasiadamente real e verdadeiro. Não precisava me incluir no grupo das outras crianças pelo time de futebol.

Estava completo e feliz, como sou até hoje (hodiernamente acompanhado por muitos outros Rubro-Negros de coração em um bar onde assistimos a todos os jogos e denominamos de nossa Embaixada – ainda que não oficializada).

Com a devida demora de quem se tornou Atleticano aos 8 anos de idade: Parabéns Clube Atlético Paranaense, pelos seus 86 anos!

Estou completo na minha solidão em Maringá. Nesse mundo onde outros vêem futebol eu só vejo o Atlético Paranaense.



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