[Promoção 86 anos do Atlético] Negociar com bandido
Já fiz várias coisas ‘normais’ para um apaixonado pelo seu time do coração. Mas, antes de chegar à história principal, cito alguns acontecimentos que marcaram minha incursão atleticana, nestes meus 29 anos de vida.
Meu falecido pai, gremista doente (creio que isso seja um pleonasmo vicioso), não conseguiu me convencer a seguir a herança azul. Até tentou, mas com seis anos, ao ver aquela camisa com listras verticais vermelhas e pretas, me apaixonei.
Quando o time perdia, sempre fazia questão de ir para a escola uniformizado com o manto sagrado. Me sentia mais do que nunca, na obrigação de demonstrar o que é o sentido de ‘não se abandonar’…
Em 1994, tinha um grande amigo que chamado Adilto. Acabaram contaminando ele, na escola, com conversas verdes e, apesar de nunca ter ido num jogo no Estádio do Alto da Glória, se dizia torcedor do adversário. Era um cabeça dura, não tinha discussão, era torcedor daquele time e ponto final! Até que, no ano 2000, já na nova Baixada, fizemos uma surpresa e o levamos a um jogo. Ver aquela organização, aquele estádio maravilhoso, aquele gramado, a vibração da torcida… não deu outra: nascia ali mais um atleticano que não deixou mais de frequentar o nosso templo.
Em 1998, quando tinha 18 anos, fui par de uma debutante de 15 anos. Foi bastante solene, mas naquela semana, acontecia o último jogo da seletiva da Libertadores. Como não podia cometer a gafe de ir sem roupa de gala, fui com a camisa número 8 do Furacão por baixo do terno.
Em 2002, conheci uma moça pela internet, conversamos duas semanas, nos encontramos várias vezes pessoalmente, até que ela me convidou para conhecer os pais dela. Fiquei nervoso, pensei ‘vou-num-vou’… mas, acabei indo. Era a mulher mais bonita que eu já tinha visto, combinava comigo em tudo: ‘era pra casar’. Era uma família maravilhosa. O pai dela estava fazendo um churrascão. Estava tudo ótimo, conversa boa, até que descobrimos que ele torcia para um time de São Paulo e eu era atleticano. Ele não se conteve e soltou: ‘Na minha casa, quem não torce para o meu time, não entra!’… na mesma hora levantei, saí de lá e fui embora… uma pena era uma moça muito bonita…
Mas acabei conhecendo a Fer, a mulher da minha vida, muito melhor que a anterior! Quando decidimos ter nosso filho, fiz os cálculos para que ele nascesse num dia muito especial… acabei errando por um dia e ele nasceu no dia 25 de março… mas está bom, está ótimo!
Em 2004, após deixar a minha Fer num local de prova de vestibular, estava voltando para casa. Era um dia chuvoso. Estava escutando aquele ‘bendito’ jogo contra o Grêmio em Erexim. Quando voltava para casa, sozinho no carro, saiu o terceiro gol do time gaúcho. Simplesmente escureceu tudo e acabei dando uma cacetada com meu golzinho na traseira de um ômega… acabou-se a frente do meu ‘meteoro branco’, mas o dano causado no meu coração por estar escutando aquilo, que foi o ponto crucial para não termos sido campeões, está tão dolorido agora, quanto naquela época.
Tem várias outras coisas, mas creio que a coisa mais excêntrica que já fiz, foi negociar com um ladrão. Explico: voltemos a 2001. Era meu primeiro ano na UFPR. Já estava no final do ano. Ao acabar a aula e voltar ao estacionamento, percebo que meu escortinho ‘lamborghini’ tinha sido roubado. Pior, me dei conta que o ingresso para a primeira partida da final conta o São Caetano, que eu tinha passado 2 dias na fila para comprar, estava dentro do carro. Meu mundo desabou. Quando fui procurar meu celular para ligar para polícia, não estava comigo… acabara ficando no carro! Após abrir o B.O., fui para casa, mas não conseguia tirar da cabeça o fato de ter ‘perdido’ meu ingresso. Até que tive um clique. Meu celular estava no carro… liguei para o mesmo e o ladrão acabou atendendo. O cara até que não era tão mau, pelo menos falando. Fiquei tentando ‘fazer amizade’ com o cara e comecei a descrever o quanto meu time era importante para mim. As viagens que já tinha feito para vê-lo, o paralelismo do escudo e cores do Atlético Paranaense em momentos importantes da minha vida, a dependência, alegria, tristeza, emoção, choro, riso… que este clube já tinha me causado. Enfim, acabei ficando uns 25 minutos narrando a minha vida e em todos os momentos tinha, pelo menos, uma pitadinha do Furacão do Paraná. Até que a ligação caiu e não consegui mais falar. Pode ter acabado a bateria do celular. Uma tristeza muito grande tomou conta do meu coração. No outro dia, no meio da tarde, na minha estação de trabalho (a empresa que eu trabalhava fica no Juvevê, é um grande prédio de uma multinacional), enquanto o boy estava entregando a correspondência, recebi um envelope sem remetente. Ao abri-lo, não acreditei no que vi… era o ingresso para a primeira partida da final contra o São Caetano. O ladrão comoveu-se com a minha história de vida e paixão e me devolveu o ingresso. Esse meu novo amigo até deixou um bilhete dentro do envelope ‘Não tenho time de futebol, mas entendi a importância que deve ter para você. Outra coisa, não rode com o tanque de gasolina quase vazio’. Acho que ele deve ter descoberto meu endereço de trabalho, por algum documento, crachá ou outra pista que deixei no carro. A recepcionista falou que quem entregou o envelope estava de boné e óculos escuros, mas nem quis mais saber. Fui neste jogo e na semana seguinte no interior paulista tive a maior alegria da minha vida!