Julgamento de Manoel e Danilo será na próxima quarta
Exatos 20 dias após a polêmica atitude racista do zagueiro palmeirense Danilo ao defensor atleticano Manoel, durante uma partida pela Copa do Brasil, ambos voltarão a se encontrar cara a cara. Porém, o encontro será no tribunal, quando os atletas serão julgados pela Terceira Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O julgamento está marcado para o próximo dia 5, quarta-feira, a partir das 18h, no Rio de Janeiro.
A situação do palmeirense é a mais crítica. Caso seja condenado, Danilo pode pegar até 22 jogos de suspensão, pois foi incluído em dois artigos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). O zagueiro foi denunciado pelo xingamento e por ter cuspido no rosto do adversário. A primeira infração (artigo 254-B) prevê pena de cinco a dez jogos, enquanto a segunda (artigo 243-G) rende gancho de seis a 12 partidas.
Já o rubro-negro Manoel pode ficar sem jogar por até seis rodadas do Campeonato Brasileiro, pois foi denunciado duas vezes no artigo 250 (praticar ato de hostilidade), já que deu uma cabeçada em Danilo e depois admitiu ter pisado no palmeirense.
Entenda o caso
Na derrota para o Palmeiras, por 1 a 0, pela Copa do Brasil, Manoel acusou Danilo de chamá-lo de macaco, em um lance no primeiro tempo. Depois de cuspir na minha cara ele me chamou de macaco. Isso não é atitude de homem de falar mal do ambiente onde jogou e a gente sabe que ele é difícil de lidar, confidenciou o zagueiro, bastante abatido com o acontecido logo após a partida.
Na mesma noite, Manoel e representantes da diretoria do Atlético se dirigiram a uma delegacia policial na capital paulista para apresentar uma queixa-crime por racismo contra Danilo. O caso repercutiu em toda a imprensa nacional e gerou reprovações de jornalistas renomados, como Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho e José Ilan. Além disso, a acusação de racismo ganhou mais força quando imagens da ESPN Brasil constaram que a palavra “macaco” dita em campo durante a jogada era ouvida claramente. A própria reportagem do canal esportivo reconheceu que “pelo som ambiente e pela leitura labial era possível identificar as ofensas”.
Um dia depois de toda a confusão, Danilo compareceu ao 23º Distrito Policial, em São Paulo, e depôs espontaneamente sobre a acusação de injúria com elementos de preconceito racial. No mesmo dia, o palmeirense concedeu uma coletiva aos jornalistas paulistas na Academia de Futebol e se mostrou arrependido pela atitude. Embora tenha pedido desculpas a Manoel pelo gesto, o zagueiro não escondeu a mágoa em relação ao Atlético, dizendo que estava sendo usado pelo clube para criar um clima ruim para a partida de volta, em Curitiba. Danilo ainda se mostrou surpreso com a repercussão do caso pela imprensa esportiva e negou ser racista. “Fiquei surpreso porque sou jogador. Na delegacia, ouvi que eles tinham de prender bandido. Não sou branquinho, na minha família minha esposa é descendente de indígenas e isso gera uma situação complicada. Não sou racista e polêmico, como estão falando”, esclareceu.
Por outro lado, Manoel quebrou o silêncio e falou pela primeira vez sobre a polêmica dois dias depois do ocorrido, em entrevista ao site oficial do clube, e não escondeu o abalo psicológico com o ocorrido. “Fiquei transtornado e assim fiquei por muitas horas. Só agora estou absorvendo, mas a ofensa me afetou psicologicamente. Nem consegui dormir direito naquela noite”, confessou o zagueiro, que também lamentou que mais um caso de racismo aconteça no mundo do futebol. “Fiquei muito chateado com tudo isso, até porque nunca tinha acontecido comigo. Fui xingado e recebi uma cusparada no rosto. Isso é muito ruim. Depois dessas atitudes, posso ter feito coisas impensadas, porque estava realmente incomodado e transtornado pelas ofensas que tive”, disse na ocasião.
O segundo encontro entre os zagueiros, na partida de volta pela Copa do Brasil, foi marcado por protestos e muitos xingamentos direcionados ao ex-defensor do Furacão. Uma série de manifestações da torcida atleticana pode ser vista na Arena da Baixada em repúdio à atitude do jogador palmeirense, começando pela grande quantidade de torcedores com caras pintadas, além do mosaico, que mostrou a palavra “RESPEITO” no setor Getúlio Vargas. Além disso, vários torcedores levaram cartazes ao estádio protestando contra atitudes racistas.
Além disso, Danilo não ganhou o aperto de mão de Manoel antes do apito inicial da partida.
O zagueiro atleticano cumprimentou todos os palmeirenses, com exceção de Danilo, por quem passou direto, agitando a torcida atleticana que compareceu à Arena da Baixada.