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4 jul 2010 - 12h32

Quando o emocional sempre pesa

Observando os jogos das seleções da América do Sul se evidenciou algo: o emocional é o que mais pesa para um povo menos das vezes racional do que emocional. É evidente que Brasil e Argentina têm qualidades pra lá do que as outras seleções podem imaginar pra si. Melhores jogadores, capacidade de resolver as coisas em lances individuais, mais criatividade, mais tudo. Menos uma racionalidade e frieza presentes no jeito e nas seleções do velho continente.

Descobriram que o racional pode vencer o emocional, que a frieza e a obediência tática podem vencer o sangue quente e a habilidade desordenada. Mas não se pode falar também que a culpa é só dos nossos jogadores e técnicos. Tem algo por detrás dessa constatação que percebemos em nós mesmos, que faz com que nos indentifiquemos a cada lembrança e semelhança com a nossa vida diária. Ou será que pensando friamente (será que conseguimos?) um alemão faria defesa daquelas que o atacante uruguaio fez no último minuto de jogo de baixo do próprio gol? E depois de levar um gol, parecer barata tonta na própria defesa, tocando errado pra trás, pra frente, pro lado, ficando a mercê de uma racional frieza que sequer conseguiu acreditar que estávamos tão perdidos assim. Afinal se tivessem pouco mais de emoção do que razão os alemães teriam feito muito mais gols na nossa defesa (a melhor do mundo) vulnerável e desesperada ao extremo. Parecíamos o menino que entra na pelada sem conhecer ninguém no grupo e se apavora com os xingamentos e insultos recebidos a cada erro seguido de manifestação de desaprovação de alguém a ponto de entregar o jogo (tu já xingou ou foi xingado?).

Somos latinos, e o que temos de melhor, por vezes também é o que temos de pior. Nossa cordialidade, diferente de outros lugares, vem do coração (disse Sérgio Buarque de Holanda). Não está para abrir porta do carro ou dizer bom dia pros outros (“nem lhe conheço” alguém argumentaria), está pro amor e ódio numa mesma linha de raciocínio, disposta a ao que nos convém, aquilo que se necessita dependendo da situação (“existem casos e casos” outro explanaria). Situação que não se controla com emoção, pois, dela vem algo muito maior que a razão. Basta olhar alguém esperando a vez (racional), sem carros cruzando a rua, caminhando até a faixa para atravessar. Que falamos desse sujeito? Seja sincero!

Culturalmente estamos mergulhados numa sensação de “ser brasileiro e não desistir nunca”. O povo que já nasceu sofrido e teve que driblar todo tipo de violência e maldade para sobreviver parece ter sido auto-educado para acreditar que as coisas vão melhorar. Brasileiro é dos que mais joga na loteria no mundo. E a educação formal (veio dos jesuítas catequizadores) foi capaz apenas de nos dizer o que não pode, deixando de lado as explicações tão úteis pelo raciocínio que, por vezes, nos falta. Instituiu-se a lei do não pode ao invés da lei que educa e faz pensar. Aliás, questionar para nós é sinônimo de guerra ou tentativa de golpe. Quase não perguntamos para discutir e criticar, pensamos: sejamos educados. Criticar é sinônimo de briga. Damos jeito nos problemas não os resolvemos (aquele jeitinho, sabe qual?).

Ocorre que por vezes o jeito pode levar a problemas pra lá de graves, pode até nem funcionar e nos fazer passar vergonha. Talvez seja nosso modo de navegação social (diria Roberto DaMatta), nossa maneira de ser frente ao que nos foi colocado e isso é virtude e não desgraça. Mas, pode transformar torcedores adeptos da raça tão pedida nos comerciais em revoltados e descontrolados sujeitos nas saídas de aeroporto xingando e até agredindo. E a nossa justificativa para tanto ainda é transformada em verdade (por nós mesmos) facilmente quando de novo vem à tona a explicação do coração (“faltou amor a camisa”, “eu já sabia que ia dar nisso”). Devemos refletir mais sobre nós mesmos, sobre nossa cultura, sobre nossas posições sociais. Não podemos ficar a mercê duma construção histórica baseada numa vida levada por razões que não são as nossas e apenas estão emprestadas dos países que admiramos de longe. É preciso refletir para valorizar nossa genuína cultura.

Especialmente numa época eleitoral, onde a alegria da copa ou a tristeza dela pode até ajudar a eleger ou não gente (acredite é verdade), é necessário refletir mais sobre o que se faz. É preciso rever, criticar, se perguntar, trocar, mudar, alterar, ter coragem, raciocinar, por mais doloroso que seja. 2014 vem aí, mas, é preciso de um bocado dessas coisas da última frase para podermos organizar a próxima copa. Começando agora!



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