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22 fev 2011 - 8h54

Considerações a esmo

Primeiro o Atletiba. Gostei do jogo, como espetáculo, cheio de emoções. Passei de descrente a perplexo, de desesperançoso a esperançoso, de desanimado a conformado, e por aí vai. Um coquetel de sentimentos que nem permite identificar todos eles.

Mas penso que o Atlético perdeu para ele mesmo. De novo. E de novo num Atletiba. Um time sem defesa e sem goleiro desmorona. O primeiro gol foi uma piada. Nem dá pra dizer que o Coritiba fez um jogão. Jogou pro gasto, nem precisava mais que isso, o Atlético é que praticamente jogou as bolas pra dentro de sua própria meta. Apenas o terceiro gol é que reconheço como um gol bem tramado, uma jogada bonita, uma conclusão com categoria. O quarto foi somente mais uma sobra de bola, com a colaboração do Fransérgio, que deixou David cara a cara com Sílvio e aí foi só encher o pé. Um gol que qualquer peladeiro de fim de semana faria. Acho, por exemplo, que o Atlético fez uma atuação mais bonita contra o Paraná do que o Coritiba.

Os cronistas de imprensa, com o ufanismo que lhes é peculiar, encheram a bola do Coxa e não faltaram adjetivos para exaltar imerecidamente uma apresentação razoável. Avaliação diferente, é claro, merece a campanha do Coritiba, sem os tropeços dos demais concorrentes.

Bem, e esses mesmos cronistas desceram a lenha em tudo quanto representa o Furacão. Presidência, diretoria e supervisão de futebol, contratações, jogadores, comissão técnica e até o Maestro. Não que não mereçam ou estejam acima da crítica. Mas que se esquecem que tudo que até sábado era bom, ótimo ou pelo menos razoável. Chegam até a distorcer a palavra de representantes do Atlético, pronunciadas na última semana, na frente deles, com o testemunho de milhares de ouvintes.

Um dos apresentadores chegou a dizer que o presidente Marcos Malucelli havia prometido contratar um técnico que fugisse da mesmisse. Nada mais que versão distorcida dos verdadeiros fatos. Ouvi a entrevista do presidente e o que ele disse na verdade foi que, por ele, fugiria da mesmisse, mas o responsável pela contratação de treinadores é o diretor de futebol. A contratação, então, ocorre ‘ad referendum’ do presidente e não diretamente por ele, mesmo porque, se fosse diferente, não haveria necessidade de um diretor de futebol e, por outro lado, seria absurda uma contratação a revelia do mandatário máximo da instituição. Ficou claro nas palavras do presidente o prestigiamento do cargo de diretor de futebol. Por fim, penso que é extremamente salutar a tomada de decisões de forma mais democrática e participativa possível, diferentemente do que era num recente e lamentável passado. O que deve ter ocorrido – a gente imagina – é o disparo de um alarme na cúpula do CAP que obrigou a tomada de uma decisão emergencial, contrária até à filosofia que se desejava implantar no clube.

Outro comentarista, de notórios saber e reputação, sabidamente rubro-negro, chegou a puxar da história do Furacão uma suposta arrogância de suas sucessivas diretorias, comparando-a a uma também suposta humildade coxa-branca, como causa para o que, para ele, é um péssimo time. Não cabe a mim, conhecedor medíocre de futebol, que tem apenas uma visão de torcedor, questionar tais afirmações, ou melhor, as premissas que levaram àquela conclusão. Limito-me a questionar a crítica, como ela é costumeiramente feita no futebol e na nossa sociedade em geral.

Crítico, para nós, é aquele que desce o cacete, da primeira à última palavra, da primeira à última linha. A palavra crítica perdeu seu significado original de ‘busca da verdade’ para se tornar sinônimo de ‘esculhacho’, censura, condenação. A impressão que se tem é que o sujeito se sente melhor, superior, se rebaixa o outro. ‘Vou falar mal até não poder mais para os outros acharem que sou sabido, que sei mais do que os que critico e que faço melhor do que eles’. Como dizem os ingleses, ‘bullshit’! Aquele que tem a verdadeira superioridade não julga o próximo, quando muito julga seus atos e mesmo assim de modo a não humilhá-lo diante de sua visão de si mesmo nem diante dos outros. É uma questão moral de não fazer aos outros o que não desejamos que façam conosco.

O mesmo tipo de conduta cruel ocorre nas artes em geral, na política etc… Mas um pouco de tato seria muito bem-vindo.

Passando por essas considerações, digamos, ‘psicológicas’, voltemos ao chão. No ano passado, o time do Atlético, segundo alguns críticos, era o pior do mundo. Bastou aparecer o Carpegiani e acertar o time e tais críticas foram perdendo mais e mais a sua força até ficarem vozes isoladas e teimosas. Não tínhamos um time brilhante, é verdade, mas chegamos em 5º lugar na primeira divisão do Campeonato Brasileiro, posição que considero mais difícil e honrosa do que o 1º lugar na segunda divisão. Porém, os críticos ao CAP se esquecem numa fração de segundo que o outro time voltou ontem da segunda divisão. Aliás, esquecem que o time rival esteve dois anos na segunda divisão nos últimos cinco anos, enquanto que o nosso time permaneceu da elite do futebol nacional.

Por outro lado, não dá para creditar apenas ao Carpegiani nossa colocação no Campeonato Brasileiro, pois ele não obteve o mesmo êxito no superpoderoso São Paulo, equipe com elenco muito mais qualificado teoricamente do que o Furacão.

Portanto, não concordo que o Atlético é um desastre tão grande quanto os apressados críticos querem nos fazer pensar. Nem concordo que o Coritiba tenha a administração futebolística disparadamente mais competente do Estado. Pelas razões que acabo de expor.

Eles foram mais felizes, sim, nas últimas decisões que tomaram quanto a seu futuro. Porém, o êxito atleticano no último ano é inegavelmente superior. Como disse a um amigo coxa numa discussão futebolística: ‘pra quem veio da segunda divisão, ganhar Atletiba é título!’. Só os ingênuos consideram isso a derrocada do Atlético e a consagração do Coritiba. O futuro há de demonstrar o contrário.

Quanto ao nosso time, penso, diferentemente dos críticos, que, no papel, temos mais time que os coxas. Só nos faltava um técnico. Coisa muito mais fácil de resolver do que, por exemplo, os problemas do Corinthians, que, mesmo tendo um técnico (considerado) de ponta, não conseguiu seguir na Libertadores. Ronaldo, que não é burro nem nada, percebeu isso e abandonou um barco sem muitas condições de seguir uma viagem muito vitoriosa.

Temos de contratar um goleiro de alto nível e não ficarmos jogando nossas fichas em apostas. Não é todo dia que surge um craque como Neto. Aliás, ele era muito bem conhecido pela comissão técnica e não se enquadrava numa definição de aposta. Penso que Silvio falhou nos três primeiros gols.

Temos dois bons zagueiros, Manoel e Rafael Santos. Não conheço muito bem o Gabriel, mas as atuações que vi dele não superaram o futebol dos primeiros.

Na minha opinião, Claiton tem lugar no time. Contra o Paraná, fez um partidaço. Posicionou-se muito bem na marcação e saiu jogando como há muito não via um volante fazer no Atlético. A propósito, ele fez o que qualquer jogador mediano deveria obrigatoriamente fazer, que é dominar o fundamento do passe. Fez vários lançamentos em profundidade, fez passes laterais precisos, abriu o jogo, fez até lançamentos de trivela. Duas atuações dele, duas goleadas. Entrosou-se como ninguém com o Maestro. Então, porque sacá-lo do time? Tenho certeza que o Geninho, com toda a sua experiência, não vai prescindir dele, a não ser que haja algum problema de relacionamento entre eles.

Bem, se existissem opiniões unânimes ou inquestionavelmente superiores sobre futebol, não existiriam tantos programas de debates sobre esse esporte. Prefiro, por isso, dar mais ouvidos a opiniões mais equilibradas e não tão precipitadas. Opiniões que não se focam apenas num momento, mas também numa visão de passado e futuro, onde se veja uma linha de atuação. O momento fotográfico nem sempre espelha a realidade como ela verdadeiramente é.

Lembro-me de ter falado àquele mesmo amigo coxa-branca no início do ano passado, que, com as contratações então pretendidas pelo Atlético, brigaríamos por uma vaga na Libertadores. Lembro de dizer ao mesmo amigo, no meio do ano, que ele deveria estar rindo na minha cara por estarmos mal na tabela. No final, minha previsão se verificou.

Digo a mesma coisa hoje, vamos brigar pela mesma posição. E digo que ainda vamos lutar pelo título estadual, com a força da nossa valorosa torcida. Essa torcida que pode recomeçar a cobrar esses nossos jogadores, porque eles jogam muito mais do que estão jogando.



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