A hipocrisia da vaia
Não foi a primeira vez e, infelizmente, não acredito que seja a última. Um jogador atleticano é vaiado pela torcida do Atlético. Cada vez que ele pega na bola, só se ouvem vaias e xingamentos. Eu até seria capaz de entender se fosse um Dagoberto jogando com a nossa camisa e se o motivo da bronca da torcida fosse por falta de vontade do jogador em vestir nossa camisa.
Mas não é este o caso. O que vemos é uma das maiores promessas que saíram do CT do Caju nos últimos anos. Um jogador que se destacou na base e teve personalidade para ser lançado em um momento complicado no time principal. Assumiu a bronca e foi destaque em um dos melhores sistemas defensivos do Brasil no ano passado.
E o pior: o Manoel não foi vaiado por seu desempenho em campo. Se fosse pelo desempenho da temporada atual, poucos jogadores não seriam vaiados. É claro e óbvio que ele não repete as grandes atuações do ano passado, mas está longe de ser o problema do time.
O Manoel foi hipocritamente vaiado por causa da história da prima acreana. Está tudo bem se o time jogar mal e perder para o semiprofissional time acreano, desde que nossos jogadores não bebam e não conheçam melhor as moças de família de lá. Este é a mensagem escondida atrás das vaias direcionadas apenas ao nosso zagueiro.
Atitudes como a do Manoel são mais do que comuns, principalmente, para jovens futebolistas. Mas, em um momento de crise como o que vive o CAP, serve como explicação para tudo. Como se o fato do Manoel sair para se divertir explicasse os dois gols bizarros que sofremos lá no Acre.
O torcedor não tem sangue de barata, mas não pode ser tão ingênuo. Como é que se explica o fato que quem joga é vaiado, mas quem o põe para jogar não? Vaiar e xingar jogador dentro de campo não resolve nada, só piora a situação. Diante das circunstâncias, o Manoel deve ser negociado e deixar nosso já frágil sistema defensivo ainda pior. Quem sai perdendo com isto? Antes de tudo, somos nós, atleticanos.
Vendo de fora, parece que faltou ao Atlético alguém capacitado para melhor instruir o nosso jovem jogador. Alguém com moral e conhecimento, para chegar e dizer ao Manoel que a carreira de jogador é bem paga, mas é curta. Alguém para lembrar e mostrar tudo o que ele conquistou dentro do Atlético e que tudo isto ainda é muito pouco se comparado ao seu potencial.
Dentro de campo, ele fez um bom jogo ontem. Mostrou, mais uma vez, que não sente a pressão. Espero que, para o bem do Atlético, ele fique e faça mais uma grande temporada com a camisa rubro negra.