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25 mar 2011 - 18h19

Oitenta e sete anos de paixão

Oitenta e sete anos. É muito tempo. É muita água passada por debaixo da ponte. Aliás, em se tratando de um time de futebol, estas quase nove décadas de existência são ainda mais intensas, mais recheadas, de lembranças e emoções, pois não envolvem apenas uma vida, mas sim as de mais de um milhão de pessoas ao redor do globo, que vivem esta dádiva que é ser atleticano. Os membros integrantes de América e Internacional, na década de 20, certamente não imaginaram, quando do nascimento do Atlético, que aquelas assinaturas de união mudariam a vida de tanta gente dali pra frente. Mas elas mudaram. E como.

Vem o primeiro caneco logo no ano seguinte. Vem Caju, a Majestade do Arco, na década seguinte. Vem um reconhecido Furacão, 20 anos depois, para selar o que o destino já pintava como certo: a instituição sediada no então Estádio Belfort Duarte estava fadada ao ofuscamento frente a um clube que, em termos de infra-estrutura, pouco tinha a oferecer. Em contrapartida, este mesmo clube teve ao seu lado, desde sempre, coisa que “eles” nunca tiveram e nunca terão: a mais fervorosa torcida de que se tem notícia por essas bandas. O verdadeiro patrimônio do Atlético.

E essa torcida mostra raça. Aguenta firme no complicado período do “pós-Furacão”, sem títulos e com as dificuldades batendo à porta. No entanto, essa mesma torcida também vira testemunha do amor de Jofre Cabral, e da primeira revolução instituída na história do clube. Belini e Djalma Santos. Um goleador chamado sicupira. Uma lenda conhecida por Ziquita. Washington e Assis. Enfim, o Atlético começa a atrair a atenção de gente de outras partes do país, quebra recordes de público em estádios da cidade, e mostra que não estava lá por brincadeira.

“Joéis e Bergs” continuavam a mostrar àquele povo do quão mágico é ser atleticano. Entre Baixada e Pinheirão, chuva e sol, a fanática massa que vestia – e ainda o faz – vermelho e preto começava a pedir por vôos mais altos, por um clube mais ousado. Num fatídico e doloroso Atletiba, o Rubro-Negro renasce e embarca no período mais próspero de sua história. Em apenas 5 anos, vencemos nosso primeiro título nacional, ganhamos o centro de treinamentos e o estádio mais moderno da América Latina e debutamos, de modo brilhante, no principal certame do continente. Não obstante, quiseram os deuses pintar o Brasil de vermelho e preto em 2001.

Agora o atleticano é diferente. Agora o atleticano está mudado. Ir para o estádio somente para “agitar” com a Fanáticos, ou ficar perturbando os adversários na curva do laranja, independentemente do que ocorre dentro de campo, passa a ser coisa do passado. Há uma inversão de valores, e agora todos clamam por títulos, por grandeza, por uma faceta vitoriosa de sua história que o Atlético ainda estava começando a assimilar. Em meados da primeira década do Século XXI, o atleticano descobre que a Libertadores não é um sonho impossível. Descobre também que a “Disneilândia dos Covardes” fica na capital paulista, mais precisamente no Estádio do Morumbi.

Enfim, fato é que cá estamos nós, frente a este senhor de oitenta e sete anos de idade. E, francamente, como dói ver este senhor ser tão maltratado por pessoas incompetentes que cheiram a empáfia, e tratam o Atlético como apenas mais um afazer nas suas tão ocupadas vidas de homens de negócios. Pasmem, hoje em dia pagamos um paranista (que nunca deu certo em lugar nenhum) para contratar revelações da terceira divisão do campeonato paulista e medalhões que não passam de boas lembranças cravadas no passado. Aí já dá para se ter uma idéia de como as coisas vão atualmente.

Precisou passar mais de um trimestre e se encerrar as inscrições de jogadores no Campeonato Paranaense para alguém perceber que desde o começo do ano não temos um volante de verdade. Que desde o começo do ano não temos um zagueiro regular e de qualidade. Que desde o começo do ano a nossa lateral-direita está abandonada. E mais: eu sei que a tendenciosa crônica esportiva local sequer toca nesse assunto, mas, será que vão demorar muito para reparar na balela que é a nossa preparação física? Trata-se de um trabalho (mal) feito à distância, com os nossos jogadores visivelmente acima do peso, e perdendo divididas e piques contra atletas de equipes semi-amadoras do interior. E ao nosso ilustre presidente (pessoa pela qual não nutro, sinceramente, qualquer tipo de antipatia), resta o humilde pedido: por gentileza, se o Atlético está tomando muito tempo em seu dia, se você não vê a hora de acabar o seu mandato, siga o exemplo da diretoria anterior e peça penico. É feio? Claro que é. Mas mais feio ainda será continuar a sujeitar esta torcida maravilhosa ao seu descaso, e ao descaso dos seus (assalariados) comandados.

Mas apesar de tantos pesares, parabéns, Atlético. Não é à toa que por você nós deixamos famílias, esposas, oportunidades profissionais e tudo mais para trás. Os nossos corações pertencem a você, e nunca, nunca ousaremos abandoná-lo, haja o que houver, custe o que custar.

“O coração atleticano estará sempre voltado para os feitos do presente e às glórias do passado”.



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