O Fala, Atleticano é um canal de manifestação da torcida do Atlético. Os textos abaixo publicados foram escritos por torcedores rubro-negros e não representam necessariamente a opinião dos responsáveis pelo site. Os autores se responsabilizam pelos textos por eles assinados. Para colaborar com um texto, clique aqui e siga as instruções. Confira abaixo os textos dos torcedores rubro-negros:
11 set 2011 - 20h57

Eu sou teu sangue, meu velho!

“A vida é assim!” – é o que sempre me diz seu Valdir, 73 anos de idade, viúvo, pai de quatro filhos, avô de sete netos e duas vezes bisavô.

Família grande, e seu Valdir vive só, num lar para idosos, no Tarumã, em Curitiba. Vive só, ou, por outra, convive com idosos que tiveram a mesma sorte que a sua; ou, por outra, o mesmo destino.

A um canto do quarto, seu Valdir ocupa uma cama. Noutro canto, ocupa um pequeno armário e dentro dele guarda poucas roupas – inclusive uma camisa do Atlético, puída. Guarda, também, um rádio com toca-fitas, uma caixa de sapatos com fitas cassete, um álbum de fotografias e mais nada.

“A vida é assim!” – justifica-se seu Valdir, de olhos baixos e num fio de voz, enquanto organiza suas poucas roupas, sua caixa de fitas e suas lembranças, diante dos olhos de visitantes bissextos.

Um lar para idosos, na verdade, não é um lar, mas, sim, a fragmentação de muitos lares. Todo mundo sabe disso: os idosos que estão lá sabem, seus filhos e netos sabem, a sociedade sabe. O abandono dos idosos é desses temas insolúveis e que implicam em múltiplas responsabilidades, por isso o pacto cínico, covarde e conivente do silêncio coletivo e da indiferença difusa.

Ao abandono dos idosos se somam outros abandonos. O das crianças nos orfanatos brasileiros (no Brasil, adotam-se – preferencialmente – bonecas: meninas de cabelos loiros e olhos claros, não se adotam crianças).

O abandono das meninas que vendem o corpo nas ruas para comprar crack. O dos meninos que, se não forem salvos pela bola ou pelo pandeiro, acabam aliciados pelo crime organizado para traficar, matar e depois cumprir sua inevitável sentença de morte.

“A vida é assim!” – é o que sempre me diz seu Valdir.

Aí quando a consciência coletiva pesa demais, a sociedade civil organizada faz lá o seu Criança Esperança, leva seus alunos a visitas aos Asilos (em datas como a Páscoa) e acredita ter purgado sua culpa e resgatado sua dívida quando, na verdade, não fez mais do que a mínima obrigação.

Solidariedade por meio das mídias de massa é solidariedade ou é marketing pessoal/institucional? Serve para diminuir as marcas deixadas pela vida naqueles que sofrem ou se presta a fortalecer as Marcas no mercado de consumo?

Diante de tantas perguntas, a permanente resposta: “A vida é assim!” – é o que sempre me diz seu Valdir.

A um canto do quarto, seu Valdir ocupa uma cama. Noutro canto, ocupa um pequeno armário e dentro dele guarda poucas roupas – inclusive uma camisa do Atlético, puída. Guarda, também, um rádio toca-fitas, uma caixa de sapatos com fitas cassete, um álbum de fotografias e mais nada.

Em dia de jogo do Atlético, seu Valdir veste a Camisa e liga o rádio. Sente falta das narrações do Lombardi Júnior. Reclama: “Esses caras não sabem narrar futebol. Tem mais piada do que jogo e vivem perseguindo o Atlético!”.

O velho rádio sobre a mesa, a cadeira desconfortável e o volume que oscila conforme o andamento da partida. A mão trêmula no comando dos botões.

Atlético no ataque e o som vai se elevando a ponto de ecoar pelo quarto e chegar aos corredores. Gol do Atlético é assinalado no volume máximo; gol adversário é a senha para desligar o aparelho por pelo menos três minutos.

Depois da pausa, a mecânica se reinicia. Volume oscilando, coração batendo forte, reclamações: “Mas até dentro de casa? O juiz nos rouba até dentro de casa? Mas esse treinador não vai fazer nada? Só bola parada? Mas não tem uma jogada ensaiada esse time?”.

O velho rádio e toca-fitas. O Atlético em campo. Quando há derrota, a mão trêmula nos botões muda a função do aparelho: o rádio dá lugar ao toca-fitas. Quando há derrota, seu Valdir, imensamente triste, põe pra tocar: “Velho, meu querido velho/Agora caminha lento/Como perdoando o vento/Eu sou teu sangue meu velho/Teu silêncio e teu tempo…” – e depois chora baixinho, enxugando os olhos com a Camisa do Atlético. Perguntado da tristeza, seu Valdir responde “A vida é assim!” e vai organizar, em silêncio, suas poucas roupas, sua caixa de fitas e suas lembranças.

Quando há vitória, a mão – trêmula também pela emoção – move os botões mudando a função do aparelho e o rádio dá lugar ao toca-fitas. Quando há vitória, seu Valdir, imensamente feliz, põe pra tocar: “Covarde sei que me podem chamar/Porque não calo no peito essa dor/Atire a primeira pedra, ai, ai, ai/Aquele que não sofreu por amor” e depois vai organizar, cantarolando, suas poucas roupas, sua caixa de fitas e suas lembranças.

Quando há vitória do Atlético, seu Valdir aponta os retratos, no álbum de fotografias, e as personagens vão ganhando nomes: “Este aqui sou eu, no tempo em que usava bigode! Leonor, minha senhora, que saudades! Minhas crianças: Maria Amélia, a Rita, Ricardo e o caçula, Alberto. A casa ficava na Água Verde, hoje não tem mais. A pequeninha no colo da Rita é a Isabelzinha, minha primeira netinha, já é mãe! Mãe do João Vítor, um guri que você precisa ver! Forte igual um touro, vai jogar no Atlético um dia, vai me dar muitas alegrias. Semana que vem a Isabelzinha vai trazer o João Vítor, aí você vai ver! Semana que vem”.

No último domingo, contra o Grêmio, a tarde terminou triste para o seu Valdir. No próximo domingo, contra o poderoso Flamengo, no Rio, ninguém sabe o que será. Se o Atlético vai ganhar, se vai perder, se a Isabelzinha vai, enfim, levar o João Vítor para visitar o seu Valdir.

A vida são as derrotas, as vitórias, os bons e maus momentos, as lembranças, um álbum de retratos (são só retratos, mas como doem!), algumas canções – alegres ou tristes, não importa -, um punhado de roupas, uma camisa puída (desde que seja do time do coração).

A vida são as histórias que a gente carrega no peito pra contar, são alguns amigos e perguntas sem respostas.

No final das contas, “A vida é assim!” – é o que sempre me diz seu Valdir.

Será que tem que ser assim? Você, amigo, pode fazer a diferença. Ajude!

1. Asilo São Vicente de Paulo: Rua São Vicente, 100, Juvevê, Curitiba – PR 80.030-470, Fone (41) 3313-5353, Fax (41) 3313-5356, E-mail: asilo@asilosaovicente.org.br;

2.Casa de Repouso Santa Cecília: Rua Coronel José Carvalho de Oliveira, 1185 – Uberaba, Curitiba – PR, 81570-160, Fone (41) 3434-2098;

3.Instituto Paranaense de Cegos: Avenida Visconde de Guarapuava, 4186 – Centro, Curitiba – PR, 80250-220, Fone (41)3242-5487;

4. Sociedade de Socorro aos Necessitados: Rua Konrad Adenauer, 576,Tarumã, Curitiba, PR, 82821-020, Fone (41) 3266-1809.

P.S.: 10 de setembro – Dia Mundial de Prevenção do Suicídio

O suicídio é um grave problema de saúde pública, que afeta toda a sociedade e que pode ser prevenido.

No Brasil, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do SUS, de 2000 a 2008, ocorreram 73.261 mortes por suicídio, o que corresponde a 22 mortes por dia.

A incidência de mortes por suicídio é, em média, 4,5 mortes para 100 mil habitantes. Este dado, no entanto, varia de acordo com sexo, raça, gênero, etnia, classes etárias.

Além disso, pela diversidade de nosso país, a incidência de mortes por suicídio também varia nas regiões brasileiras. A REGIÃO SUL permanece tendo o MAIOR NÚMERO de mortes por suicídio.

São consideradas populações de risco: pessoas que fazem uso problemático de álcool e outras drogas, adolescentes e jovens em situação de risco, idosos, pessoas que vivem em instituições asilares, indígenas.

Diante deste cenário, o Ministério da Saúde, a partir de 2005, iniciou uma série de ações com o objetivo de reduzir o número de mortes e tentativas de suicídio, bem como, os danos associados com o comportamento suicida e o impacto causado em familiares, amigos e colegas de trabalho das vítimas; e, em 2006, implantou a Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio (ENPS).

A ENPS é coordenada por um Comitê Gestor, formado por especialistas e entidades e entidades da sociedade civil, como o Centro de Valorização da Vida (CVV).

A ENPS envolve uma série de ações que vão desde a melhora das condições de vida (saúde, educação, cultura, lazer, trabalho) e dos vínculos familiares e comunitários até a oferta de uma rede de serviços de saúde e de saúde mental que ofereçam tratamento e reabilitação psicossocial.

Sua proposta é desconstruir o tabu existente em torno do suicídio e potencializar os recursos existentes na comunidade, nas redes de atenção à saúde (atenção primária, saúde mental, urgência e emergência, hospitalar), e de apoio e proteção social (assistência social, educação, segurança pública), garantindo que os casos sejam abordados em todos os níveis de atenção e em suas complexidades. O acompanhamento cuidadoso das pessoas que tentaram suicídio tem se mostrado uma potente estratégia de enfrentamento (prevenção secundária).

O Manual de Prevenção do Suicídio para profissionais da saúde mental, publicado em 2006, é um bom instrumento para capacitação. Um outro Manual de Prevenção do Suicídio voltado à profissionais da atenção primaria será publicado em breve.

Hoje, 10 de setembro, é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (OMS). Países do mundo inteiro têm utilizado esta data para sensibilizar a sociedade sobre o tema.

Para saber mais sobre a ENPS, entre em contato com a Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde:

saudemental@saude.gov.br

Você, amigo, pode fazer a diferença. Ajude!



Últimas Notícias

Brasileiro

Fazendo contas

Há pouco mais de um mês o Athletico tinha 31 pontos, estava há 5 da zona de rebaixamento e tinha ainda 12 partidas para fazer.…

Notícias

Em ritmo de finados

As mais de 40 mil vozes que acabaram batendo o novo recorde de público no eterno estádio Joaquim Américo não foram suficientes para fazer com…

Brasileiro

Maldito Pacto

Maldito pacto… Maldito pacto que nos conduz há mais de 100 anos. Maldito pacto que nos forjou na dificuldade, que nos fez superar grandes desafios,…

Opinião

O tempo é o senhor da razão

A famosa frase dita e repetida inúmeras vezes pelo mandatário mor do Athletico, como que numa profecia, se torna realidade. Nada como o tempo para…