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14 set 2011 - 1h13

A síndrome do cartola matou a galinha dos ovos de ouro?!

A recente história do nosso amado Clube Atlético Paranaense gerou impactos profundos na vida dos atleticanos que acompanham nosso clube nos estádios, e em especial no famoso “caldeirão do diabo” ou mesmo na “baixada”.

O advento da modernidade gerou danos profundos a quilo que chamamos de identidade do atleticano.

A construção da Arena que nos encheu e enche de orgulho ainda hoje, injetou um ânimo na paixão nos atleticanos, possibilitou acreditar ser um clube que estaria sempre disputando títulos e figuraria entre os grandes do Brasil. Em tese seria o casamento perfeito. Toda uma estrutura moderna aliada à força da nação atleticana, que há muito tempo se destacava das outras pela sua empolgação e vibração na hora de empurrar o time, formando assim o tão sonhado clube de ponta do futebol paranaense.

Não existe outra torcida no Brasil que tenha tanta admiração pelo seu campo de jogo como a do Atlético, ao entoar o grito de “uh caldeirão”, não estamos torcendo pelo nosso escudo, ou pelas nossas cores vermelha e preta, torcemos pelo nosso estádio e isto não é um fenômeno recente, antes mesmo da construção da arena estes gritos já ecoavam e davam forma ao verdadeiro caldeirão que sempre esteve encravado no coração do bairro Água Verde. Porém é em nosso saudoso caldeirão que pode estar nossa ascensão e queda, da elite brasileira de futebol.

Para um atleticano que acompanha time em seu campo ao longo destes 20 anos que eu pude acompanhar, através de meu pai, meu avô e meu tio. É inegável que nossa torcida mudou muito e principalmente após os 6 primeiros anos da inauguração da arena. Nosso clube tem em sua história um elemento que em muito foi deixado de lado pelos administradores e diretores de futebol. O Atlético era um dos poucos clubes do país que conseguia conciliar diferentes classes sociais dentro da instituição, e principalmente em dias de jogo. Não existia diferença ao entrar na baixada entre um empregado e um patrão, entre um dirigente do clube e um mero torcedor, todos ali eram apenas atleticanos, este ambiente democrático e plural em suas opiniões, fazia com que nosso clube conseguisse ser temido mesmo com o baixo orçamento.

Nossa torcida vinha de todas as partes de Curitiba só para celebrar a alegria de ser atleticano. Era comum encontrar pessoas já no período da manhã aguardando nos arredores da baixada o jogo que só iria começar às 16h.

Porém não é isto que vemos hoje, o Atlético passou a ser uma instituição privada, deixando assim de pertencer aos seus torcedores, pois quando falamos que o atlético é dos atleticanos estamos mentindo. O Atlético pertence apenas à elite e a classe média curitibana.

Os renegados torcedores que pegavam ônibus lá no fundão de Curitiba, não podem mais torcer pelo Atlético, 60 reais em um ingresso, ou 70 para assistir no máximo 3 partidas em média por mês, é muito caro. Sem falar que além do ingresso você não consegue ir ao estádio e não tomar ao menos um refrigerante ou comer uma pipoca, principalmente se estiver com o filho, ou uma criança.

Mas e o torcedor que mora no “Tatuquara” a exemplo, quer levar seu filho na baixada, pois é importante para ele que seu filho também seja atleticano, ele não pode ao menos pensar em ir sem ter mais ou menos 100 reais. Na hipótese dele ser sócio e só gastar com os ingressos, se este pertencer à classe D que tem renda familiar de 1200 reais mensais, ele gastará em torno 7% de sua renda indo ao estádio de futebol durante o mês. (Isto só o ingresso sem falar em alimentação e transporte).

Então para o padrão do futebol que o Atlético tem apresentado ao longo destes anos este valor é um absurdo! Nós moramos e vivemos no Brasil, não podemos nos organizar como instituição como se vivêssemos na Europa. A ganância de certos administradores que acreditam que o Atlético tenha que ter lucro, faz com que o valor pago pelo futebol em nosso clube seja muito alto. Quem faz com que o Atlético esteja em superávit é seus torcedores e principalmente sócios, porém é inadmissível que a elite curitibana que frequenta o Atlético pague o mesmo valor que o trabalhador de renda baixa, seja ele de qualquer região de Curitiba ou de nosso Estado.

A Arena em muitas vezes esta vazia, sendo que no mínimo nós devíamos colocar 18 mil pessoas em todos os jogos, pois é este o número de sócios que consta no site oficial do Atlético. Então tem algo errado acontecendo? Eu não sou sócio, pelo valor alto da mensalidade, porém vou a praticamente todos os jogos, e sempre vejo que a bilheteria não fecha antes do inicio da partida, (sinal que esta sobrando ingressos). Em frente à baixada tem cambista com 5 ou 6 smart de sócio em mãos para vender, se o preço esta alto na bilheteria, o valor do ingresso no “cambio negro” também é alto, pois alguns dos sócios visam lucro ao invés de torcer pelo Atlético.

Com a falta de opções para planos de sócios e o descompromisso com o torcedor atleticano os dirigentes do clube faz com que a própria instituição pela sua filosofia de trabalho que visa sempre o lucro esta matando aquilo que há muito foi nossa maior arma, e ainda funciona esfacelada é verdade como um elemento de nossa paixão de luta pela vitória.

A torcida, ou melhor, o torcedor atleticano, ou ainda a nossa “galinha dos ovos de ouro” esta sendo morta pelo próprio dono. A cartolagem e a esfera dos negócios dentro do Atlético criaram um pesadelo para o próprio Atlético. Seu principal aliado esta enfraquecido, sua camisa 12 está em crise de identidade. A geração arena como costumam chamar a nova geração de atleticanos, e nesta incluo eu, não conhece a história do clube, muitos porque não tiveram a sorte de como eu nascer em uma família apaixonada pelo atlético e disposta a ensinar o que é ser atleticano, e outros por que passaram a ser atleticano após o advento da modernidade no atlético e todo o trabalho de marketing feito pelo clube na ultima década.

É necessário desenvolver projetos de educação histórica dentro do clube, é preciso trazer de volta os velhos atleticanos impossibilitados de freqüentar a baixada pelo valor alto do ingresso, para assim sermos considerados um grande clube, com uma bela infra-estrutura e uma torcida de massa apaixonada e temida. Como sempre foi, e deve ser!!!

Faço minhas as palavras do eterno presidente Jofre Cabral amigo pessoal de meu avô paterno.

Não deixem morrer o meu Atlético!



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