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22 dez 2011 - 16h45

[Promoção Brasileiro 2001 – 10 anos] 2001, uma odisséia sangue forte

Stanley Kubrick estava errado! Não cito falhas em na sua genialidade cinematográfica, nem critico o fato de não havermos conquistado o espaço como seus delírios nos acometeram. Errou em achar que somente satélites podem nos ludibriar em bailes na edição das cenas, em pensar que no início do século a genialidade humana viria somente de computadores e sistemas de informação. Errou! A genialidade surge do ato de amor, em pés calejados, da dedicação, vozes em uníssono, num três dedos, no planejamento e na coragem. 2001 foi a Odisséia do sangue forte!

Como não ficar aturdido com um filme que nos remete ao espanto de um mundo futuro e possível? E como não se render e sentir fraquejado ao pisar num gramado em que a bola viaja aos gritos, jamais sentidos tão próximos dos atores em campo, onde o diálogo entre os protagonistas é impossível, pois o estrondo da paixão rubro-negra ensurdece? Como jogar bola contra essa gente que nutre seus jogadores com a saliva já seca de suas gargantas apaixonadas? De onde vem tanta paixão?

2001 foi o ápice da organização, do espírito de equipe, foi um exemplo para o país que o futebol é, antes de tudo, uma paixão, e com paixão não somos negligentes, brincamos nela, mas não com ela. O Brasil viu espantado o surgimento do torcedor real, do apoiador, do espectador que aceita o desfecho de cada filme e fica feliz com seu final, o aplaude feliz e chora com ele. Que grita, canta, empurra, incentiva! Não cansado, ou mesmo cansado, retoma e grita, canta, empurra, incentiva, cada vez mais. Talvez, e só talvez, seja por isso tenhamos sido vitoriosos como nação em 2002, a paixão rubro-negra ainda era latente em todos os brasileiros. Ficou evidente em um protagonista atleticano, coadjuvante de luxo na Coréia e Japão, de tanto colocar o coração no bico da chuteira e ser Xaropinho, ganhou o espaço e quase o conquistou sozinho, pegou no travessão!

Viver a realidade em forma de sonho, talvez seja esse o verdadeiro mistério da paixão. Em no início do século a viagem alucinada foi nossa. Esfregamos a lâmpada e deixamos um Geninho nos realizar desejos e ser títere de dois alas comandados quase que por controle remoto. Foi um deleite ver um volante com nome de mexicano louco destruir esquemas ofensivos, doesse a quem doer, inclusive a ele mesmo. Nos rendemos ao coração pulsante, visto quase sempre na boca do zagueiro líder Gustavo, além de outros dois cujos nomes para zagueiros não podiam ser melhores: Ataque aqui? Nem! Quer pedalar? Rogério arranca tua correia. A rendição fácil ao momento mágico de um bicho, um gabiru, um Adriano e seu amigo xarope, que mostravam ao Brasil o próprio Brasil, não com seus Silvas, mas um Souza, um outro mineiro liso como a graxa dos trilhos das minas gerais de sua terra e um maranhense tão aficionado por obras primas, que errava os gols mais fáceis para poder afundar com destreza magistral as redes adversárias somente com golaços, era o nosso anti-herói.

Kubrick recriou Homero, delirante grego, que poetizou um herói capaz de derrubar todo e qualquer obstáculo, sejam homens, deuses ou castelos para retornar ao seu local, conquistar seu sonho. A odisséia alucinada rumo ao espaço é contemporânea à da baixada, é também irmã dela, derrubamos gigantes, afundamos deuses da mídia e desbancamos castelos, antes mais suntuosos, com o nosso caldeirão. Somos campeões, são dez anos! Dez anos, será? Me desponta agora um erro de contexto! Isso errei, perdoem-me. Esqueçam toda essa bobagem que contei! Não exploramos o espaço! Sim, é claro, óbvio! Viajamos no tempo, em meu peito são dez dias.



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