[Promoção Brasileiro 2001 – 10 anos] Natal rubro-negro
O tempo pregava uma peça nos sentidos dos curitibanos, naquele verão de 2001. Um frio esquisito até pra instabilidade climática da nossa cidade diminuía os ‘farofeiros’ no litoral, mas não os ansiosos pelo descanso do incessante ritmo de trabalho, que almejavam não ter hora certa para acordar de manhã. Mas, pra mim, a ansiedade corria por outra via.
As notícias do dia-dia do Furacão ganhavam cada vez mais importância pra mim, que praticamente abstraí a data chamada ‘Natal’ da minha agenda. O motivo eu ainda não realizara direito: meu time do coração estava prestes a ser campeão brasileiro pela primeira vez! Tudo bem que a gente já havia ganhado a primeira partida por goleada (sempre disse que 4 a 2 não é goleada, mas pra decisão essa regra vira exceção), que seria a final mais ‘zebrada’ dos últimos tempos, que o técnico e o time de lá eram experts em vice-campeonatos… mas era a Final do Século, meu amigo! E meu Furacão precisava conter o ímpeto do Azulão do ABC para levantar a taça inédita de campeão brasileiro!
Naquele domingo, pensei em ir assistir a final pelo telão instalado na Baixada. Contudo, nunca fui muito de festa e barulho. Preferi me recolher e assistir no conforto de casa. Me acomodei sozinho no sofá da sala, ainda pouco crédulo do que viria a acontecer horas depois. Com o olho na tela muda e os ouvidos no radinho bem sintonizado fã que sou da narração emocionada dos artistas do rádio aguardava o começo da transmissão com um misto de aflição e alegria. A TV ainda exibia o famoso programa dominical e eu seguia ouvindo entrevistas, estatísticas e comentários pré-jogo. Cerrei os olhos e imaginei o estádio acanhado, os times aquecendo, papel picado, o cheiro da pipoca e da pólvora, bandeirões… como eu queria que esse segundo jogo também fosse na Arena!
Talvez eu revisse aquela morena que me flechou com os olhos amendoados mas que a emoção e euforia do jogo roubou de mim. Como que instintivamente, abro os olhos e o mestre está lá: Geninho! Deixo de lado o radinho e aumento o volume da TV. O técnico fala sobre a possível conquista do campeonato com uma sobriedade típica de sua personalidade. Dali a poucos instantes, em definitivo, o sonho começa a ser desenhado! Vou preparar a pipoca e, na volta, o hino já está tocando com o estádio todo pintado de azul, mais ou menos como eu havia imaginado, com o acanhamento do estádio ainda mais pronunciado. O juiz dá início ao jogo mais esperado da minha vida! Com um começo ruim e um campo pior ainda, o primeiro tempo demora um mês pra terminar, tem poucas chances pros dois lados e é resumido por alguns chuveirinhos por parte do São Caetano e inúmeros passes tortos pelo Atlético.
Segundo tempo, mais pipoca e limonada gelada, apesar do frio. O jogo melhora… o interminável Müller no lugar do lateral do Azulão. Mais do mesmo: chutões do Adãozinho, do saudoso Serginho e do seu substituto Bechara. Aliás, citando esse último me lembrei do foguete que ele disparou em direção à meta do Pantera. Fui eu que desviei aquela bola para o travessão! Entretanto, foi pelo tirambaço de um atleticano que surgiu o melhor momento do jogo. Kleber Pereira recebe no meio-campo um lançamento comprido da zaga, enquanto Fabiano parte como um foguete pela lateral. O nosso atacante, inteligentemente, leva mais pro meio abrindo espaço pro passe e rola a bola pra lateral esquerda. Ali o Fabiano domina, ninguém chega e ele mete cruzado pro gol! Silvio Luiz larga no pé direito do predestinado: Alex Mineiro! 8 decisivos gols em 4 decisivos jogos! Ele refletiu o que foi o Atlético nesse campeonato. Mineirinho, comendo quieto e pelas beiradas, foi chegando e acabando com as grandes forças de massa do futebol brasileiro, como o Corinthians e o Flamengo, que acabaram pra baixo da metade da tabela.
Nosso time tinha cabeça, força e coração. Tinha obediência tática, chutão e amor à camisa. Tinha Adriano, Cocito e Alex Mineiro. Mas faltava o apito vigoroso do Simon ao final do jogo, que veio pra confirmar o fim de uma campanha impecável e digna do que uma torcida espera do seu time.
Desliguei a TV, mas permaneci ouvindo o rádio. E dessa vez, deixei o sofá sozinho. Levantei e fui pra Baixada! Gritando pelo caminho para as buzinas dos atleticanos que eu nem conhecia, mas que partilhavam do mesmo orgulho que eu: o Atlético-PR era o primeiro campeão brasileiro do milênio!