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24 dez 2011 - 18h27

[Promoção Brasileiro 2001 – 10 anos] 2001 – Uma Odisséia na Terra

Arthur Clarke não tem nada a ver com isso. Mas naqueles dias o universo girou dentro de mim, chamou a Blavatski que eu tanto gosto, e desapareceram com o espaço. Só sobrava o tempo, o tempo restante até a hora do jogo. Todas as dimensões da existência foram condensadas ali, naquela final.

Antes disso, tentei juntar uns parentes, para ir a São Caetano presenciar o feito praticamente anunciado, tal a COMPETITIVIDADE que aquele time possuía. Mas eles ficaram ‘receosos’, de atravessar a paulicéia em carro com placa de Curitiba: eu toquei o foda-se e disse que o carro era meu, fizessem o que fosse, para isto tinha seguro, só não podiam tocar fogo porque a gente precisava voltar. Arregaram. E alegaram medo, acuados pela violência imposta pela mídia neste estado policialesco em que vivemos. Às vezes as pessoas acham outras palavras para substituir a verdade: o discurso do ‘medo’ não mascarou a real ‘omissão’.

Qualquer coisa valeria a pena para estar lá. Só não fui sozinho porque não tinha mais ingresso. Aí concluí que são os próprios homens que definem os seus limites. Eu não, os abandonei. Pois estava cheio de PERSPECTIVA, e locupletado de uma coisa essencial por natureza: AMOR. Amor pelo CAP.

Assim sendo, desloquei-me com meu núcleo familiar para o interior do RS a passar o natal com os elétrons da família da Alfa 1. No dia do jogo, precisei me retirar espiritualmente, no meu quantum, isolando-me do povo e indo ao alcance da coletividade rubro-negra, uma espécie de inteligência anímica, que só os esotéricos graduados sabem explicar, apenas faço idéia. Eu não sorria, não falava, não comia, só água. Eu, não estava mais em mim.

Fui para o 2º andar do sobrado, enclausurado como numa solitária. Sentei em frente a TV, com uma latinha que nem abri, tamanho o sentimento que transbordava. Tal aconteceu com Rafael Lemos, comecei a chorar sem vergonha alguma, por sentir que meu pai e meu avô (o 1º ponta-esquerda do CAP, vindo do América) tinham vindo assistir o jogo comigo. Detalhe: eles haviam falecido há décadas. Passado e presente, toda a minha existência juntada naquele instante.

A única vez em 37 anos que eu senti inveja na minha vida: olhando a nossa torcida in loco pela telinha. Pensava o quanto aqueles que lá estavam tinham sido abençoados e não sabiam. Mas como inveja é um troço ruim, joguei fora e comecei a ter orgulho deles, torcendo para que voltassem inteiros. Ou seja, houve REPRESENTATIVIDADE. Cada um deles significava milhares de nós. O Clube Atlético Paranaense era uma coisa só.

Quando Fabiano fugiu pela esquerda e chutou, tive a certeza do gol, predestinadamente do Alex. Não tive uma parada cardio-respiratória porque não era hora, mas senti uma arritmia violenta, um descompasso, até um momento de stand by cardíaco. Sem dor nem preocupação, apenas tomado de alegria. Quando acabasse o jogo, eu podia morrer. Então iria comemorar com meu pai e meu avô lá onde eles estão. Falar do jogo, do campeonato, do futuro que se desenhava naquele início de era para nosso CAP. Apito final, regozijei. Chorei como homem, com a certeza de não estar sozinho, de não ser o único mas sim uma parte daquele todo feliz.

Às margens de um rio qualquer, me fiz criança: pulei, sorri e soltei meu heróico brado retumbante, iluminou-se o céu da Pátria, para onde estendi meus braços que vibravam com força, a conquista e o êxtase de liberdade, pela realização do sonho intenso, sob o rubro-negro de nossa flâmula: não existe para mim “seleção nacional”. Meu Brasil é o Atlético.

Foi o único natal feliz da minha vida, depois que meu pai faleceu (78). Meu avô tinha ido em 82. Porque tenho discernimento. Se Alfa 1 ler isto, vai me encher o saco dizendo que não gosto das nossas filhas, ou dos seus elétrons. Amor de família é outro plano, portanto incomparável ao amor pelo Atlético. À minha maneira, amo nossos rebentos (e também Alfa 1), isto é uma coisa. Outra coisa é o Atlético. Não cabem comparações. Repudio esse maniqueísmo superficialista em tentar aglutinar coisas imiscíveis.

Hoje, aqui no mesmo RS de 10 anos atrás. Não há tristeza, em função da força do espírito de natal, algo assim laico ou ecumênico, sei lá. O que existe, é um imensurável vácuo. Aquele espaço que se desfez naquela época, agora se agiganta em mim. Tudo porque já não há mais COMPETITIVIDADE, por falta de REPRESENTATIVIDADE, que não nos traz PERSPECTIVA, pois tudo isso tem a ver com AMOR. O amor, por sua vez, é o alimento que nutre/determina as relações entre os seres vivos. Sejam estas de qualquer natureza. Amor e relações: duas grandezas diretamente proporcionais.

Hoje, as lágrimas existem, mas por outras razões. Elas não saltam aos olhos, pegam carona na corrente sanguínea e espalham-se pelo organismo, chegando até a alma. Lá, elas são processadas, transformadas em esperança de que, quiçá em curto prazo, possamos nos apresentar sobretudo competitivos, nos sentirmos devidamente representados, imbuirmo-nos de perspectivas, por ter feito prevalecer o virtuoso Sentimento.

Hoje, eu tomo latinhas, sorrio, converso e como. Mas estou desidratado em minha relação com este Atlético que aí está, que não é o nosso. Que não é o Furacão, que não cria odisséias, que sucumbe no tempo. Por estar carente daquela coisa que move as pessoas, a natureza, o universo e conseqüentemente o nosso destino.

O Atlético não precisa das cores da mídia. Nem da Globo, muito menos da CBF ou da sua comissão de arbitragem. O Atlético não precisa de apaixonados efêmeros. Tal qual um ser humano, o Atlético precisa voltar a ser amado. Porque ele é um amor que a vida nos trouxe e temos que vivê-lo. Não devemos ter medo da chuva. Ela voltará para a terra, trazendo as coisas do ar. Digo, renascendo o Furacão.

Somos um dos quatro elementos da natureza. Terra brasilis na Baixada, fogo no coração e água nos olhos da alma. Precisamos ser concebidos como tal.

Só isso.

“Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção”. – Antoine de Saint-Exupéry



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