Carrasco impõe esquema 4-3-3 com pontas “invertidos”
Juan Ramón Carrasco criou uma nova identidade para o time do Atlético. Em menos de dois meses de trabalho e apenas dez partidas, o treinador uruguaio estabeleceu uma forma de jogar inédita no futebol brasileiro.
Se os resultados ainda não são motivos de comemoração, o fato de ter superado alguns obstáculos merece destaque. Carrasco assumiu um time recém-rebaixado no Campeonato Brasileiro e numa intensa transição no elenco, com jogadores chegando e saindo. Para completar, ficou sem o fator campo, a Arena, que ficará fechada para obras.
A nova identidade do Atlético, nítida nos dez jogos de 2012, é de um time que joga igual dentro ou fora de casa, que procura atacar o tempo todo e que prioriza os passes verticais, em detrimento dos tradicionais toques lentos e para o lado do futebol brasileiro.
Em entrevistas, Carrasco explicou sua filosofia. Uma das coisas que estamos trabalhando é colocar a mentalidade de jogar igual em casa ou como visitante, respeitando sempre o rival. Mas primeiro que temos que respeitar é a identidade futebolística do nosso clube, declarou.
As ideias são ousadas e poderiam esbarrar na famosa preguiça tática dos jogadores brasileiros. No entanto, Carrasco conseguiu manter até agora um grupo aguerrido, com aplicação tática fora do comum. A única exceção foi a derrota para o Arapongas, no último sábado, quando o time teve uma atuação apática.
Na parte tática, Carrasco é um técnico exótico. Na Europa, o 4-2-3-1 vem sendo o esquema mais utilizado há mais de cinco anos. No Brasil, começou a ser adotado por vários treinadores, principalmente após a Copa da África do Sul, que teve a Espanha, a Holanda e a Alemanha em evidência com o 4-2-3-1. Mas o uruguaio prefere o 4-3-3.
E não se trata de um 4-3-3 maquiado. Com Carrasco, os pontas jogam abertos e raramente voltam para buscar jogo ou para ajudar na marcação. Os laterais normalmente avançam pouco. Mas o segundo volante e o meia-armador têm funções bastante ofensivas.
Outra característica de Carrasco é usar pontas invertidos. O canhoto Bruno Furlan joga na direita. O destro Ricardinho atua na esquerda. A ideia é evitar um dos vícios do jogador brasileiro, que cruza para a área, quase que automaticamente, assim que chega à linha de fundo. Outro objetivo é favorecer o chute de fora da área pelos pontas, que ficam em situação melhor para finalizar quando cortam para dentro.
Parte da filosofia do uruguaio é colocar o esquema tático acima de tudo. O treinador não faz adaptações para encaixar jogadores importantes na equipe. Com Carrasco, ocorre o contrário. O atleta é que precisa se encaixar no esquema tático. No Brasil, é comum o técnico mudar a maneira de jogar para valorizar o craque da equipe ou para tentar aproveitar as características dos atletas do elenco.
Mais uma marca de Carrasco é improvisar sem medo. O atacante Pablo na lateral-direita, o volante Renan Foguinho de zagueiro e o lateral-esquerdo Héracles como meia-armador são algumas das tentativas.
As improvisações, porém, podem ser apenas uma fase de transição. O clube ainda está formando o elenco para a Série B do Campeonato Brasileiro. Nesse processo, Carrasco avisou que testaria todos os jogadores antes de contratar algo raro no Brasil, onde os técnicos usam o discurso precisamos de reforços a cada ponto perdido. Até agora, o uruguaio abriu bastante espaço para os jovens revelados nas categorias de base do clube, como Harrison, Pablo, Héracles e Bruno Furlan.
AS MARCAS DO URUGUAIO
Características do trabalho de Carrasco no Atlético
1) SEM MANDO DE CAMPO
O Atlético joga igual dentro e fora de casa, contrariando a tradição do futebol brasileiro, de ser mais defensivo como visitante
2) PELAS PONTAS
O esquema é um 4-3-3, com pontas abertos e fixos no ataque
3) FILOSOFIA DE JOGO
Pressionar, pressionar, pressionar e, com a bola, atacar rápido, descreve Carrasco. O técnico contraria a tradição do futebol brasileiro, de trabalhar a bola lentamente no meio-campo e esperar uma falha do adversário para atacar.
4) PONTAS INVERTIDOS
No ataque, os canhotos jogam pela direita e os destros pela esquerda. A ideia é evitar o vício dos cruzamentos para a área e facilitar os chutes de fora da área.
5) TATICOCRACIA
O esquema está acima de tudo. É como um motor de fórmula 1: cada jogador é uma peça, explica Carrasco. Para o uruguaio, os jogadores precisam se adaptar ao esquema tático, e não o contrário.
6) IMPROVISAÇÕES
Nieto na ponta, Pablo de lateral, Pablo de volante, Renan Foguinho de zagueiro, Heracles de meia-armador. Com Carrasco, tudo é possível.
7) MOTIVAÇÃO
Em nove dos dez jogos de 2012, o time mostrou garra e aplicação tática, ingredientes que foram raros no Brasileirão 2011
8) CHANCE PARA TODOS
Carrasco avisou que só pediria reforços após testar todos os jogadores
9) APOSTA NA BASE
O técnico tem aproveitado vários jogadores das categorias de base, como Bruno Furlan, Harrison, Paulo Otávio, Rodolfo, Bruno Costa, Héracles, Ricardinho, Deivid, Manoel e Pablo para o Atlético