A necessária dessacralização das estrelas
Futebol, em verdade, é e sempre foi um jogo no qual deve invariavelmente prevalecer o aspecto coletivo da equipe.
Dia desses, após assistir pela televisão a mais uma conquista de título pelo Barcelona, afirmei, numa de nossas redes sociais, que o time catalão em si mesmo nada mais significa do que a definitiva afirmação da verdade de há muito sabida segundo a qual o futebol é association (também no sentido de solidária e imprescindível associação de atletas visando obter resultado positivo na disputa de uma partida).
Nem é preciso dizer que a materialização dessa sábia afirmação não se compadece com quaisquer individualidades, sejam elas quais forem.
É bem verdade que, mesmo nesse contexto, tanto melhor e mais eficaz será a equipe se cada um de seus elementos componentes possuirem apanágios técnicos diferenciados (é o que acontece com o Barça).
Antes disso, porém, vem a disciplina, a obediência tática, o espírito de conjunto, a incessante vontade de, por primeiro, tentar vencer as faltas para, depois, em sendo inevitável, cair, o despir-se das vaidades…
No atual grupo de jogadores do Clube Atlético Paranaense pelo menos dentre aqueles que mais estão atuando -, felizmente, não existe nenhuma grande estrela.
Portanto, não me causou qualquer espécie a recente afirmação do técnico Carrasco ao referir que o Atlético Paranaense foi a melhor equipe que ele viu atuar nesse início de temporada em nosso país em se tratando de disputas regionais.
Concordo com ele: sob o enfoque associativo, objetivo e de conjugação e reunião de forças para a obtenção de um propósito imediato (o gol ou gols) e mediato (a vitória decorrente), ninguém está jogando presentemente melhor do que o nosso Atlético.
E mais: o Carrasco é bom técnico, sem a mais mínima dúvida; mas jamais conseguiria implantar um sistema de jogo como fez se não contasse com jogadores jovens, lutadores e que, acima de tudo, buscam obter um lugar ao sol em suas carreiras (aí a coisa acontece).
Imaginem vocês se, por exemplo, ele chega num Fluminense da vida ou mesmo num Flamengo -com seus Freds, Ronaldinhos e assemelhados- e tenta implantar algo parecido com o que fez por aqui…É evidente que não conseguiria, por óbvias razões; a começar pelos empresários dessas ditas feras futebolísticas, que não iriam admitir que seus pupilos fossem impedidos de fazer jogadas individuais para adornar seus folders e assim, garantirem-lhes polpudos contratos futuros ou, antes, coloridas e longas reportagens/propaganda televisivas de seus empresariados não raras vezes pagas a preço de ouro-.
Bem, o Messi é uma estrela de primeira grandeza isso nem se discute -; mas, caso o Barça não jogasse um futebol privilegiando o coletivo, a equipe como um todo não obteria o mesmo sucesso que vem obtendo, não é mesmo? O Messi com certeza, continuaria a fazer jogadas individuais incomuns; mas a equipe, muito provavelmente, não seria tão exitosa, nada obstante o talento indiscutível do pequeno notável portenho para jogar o esporte bretão.
A conclusão é uma só: um time que joga um futebol coletivo bem caracterizado, em nível de eficiência, necessariamente será muito mais produtivo que um que possua duas ou três famosas individualidades de milionários salários a não ser, é lógico, pelo aspecto do marketing, mas aí já é outra estória. Marketing é coisa unicamente direcionada ao sucesso empresarial, econômico-financeiro e de divulgação, mas não tem nada a ver com eficiência do futebol jogado pelo time. O primeiro, favorece a imagem do Clube, o bolso dos empresários e das ditas estrelas e a contabilidade das empresas que têm o futebol apenas como business, enquanto que o segundo (futebol solidário) leva às vitórias as mais das vezes, propiciando a felicidade dos apaixonados torcedores.
Diante disso tudo, acho que devemos prestigiar o trabalho do Carrasco e os nossos jovens jogadores que, ao que tudo está a indicar, assimilaram essa filosofia.
Para encerrar, apenas uma breve sugestão ao nosso Bruno Mineiro: atacante caído não produz absolutamente nada; portanto, procure cair cada vez menos e você verá que seus gols irão se multiplicar.