O Fala, Atleticano é um canal de manifestação da torcida do Atlético. Os textos abaixo publicados foram escritos por torcedores rubro-negros e não representam necessariamente a opinião dos responsáveis pelo site. Os autores se responsabilizam pelos textos por eles assinados. Para colaborar com um texto, clique aqui e siga as instruções. Confira abaixo os textos dos torcedores rubro-negros:
21 abr 2012 - 17h46

Vou buscar a injeção

Nesta semana em que todos os atleticanos se deliciam com os reclamos da torcida coxa sobre a atuação do seu treinador, segundo alguns mais estremados um covarde, nada mais que chororô a justificar antecipadamente a derrota de domingo e o fim do campeonato, jogado na minha poltrona da sorte reli minhas últimas postagens neste blog de todos os atleticanos e um aspecto comum a quase todas me chamou a atenção.

Mesmo com seguidas vitórias e mais duas imensas taças já se direcionando para o CT do Caju, meus textos pouco comentam a atuação dos jogadores. Os quatro gols de Guerrón em única partida jogaram apenas leve e breve jato de luz sobre o nome do “la dinamita”. O que estaria acontecendo comigo, seria já o alemãozinho atacando sorrateiro?

Apavorado, fui ao psicólogo.

O homem magro, branco-coxa, é o nome que as tintas da hora dão ao branco hospitalar, com as barbas bem cuidadas de petista usando as rédeas do poder, me mandou sentar em cadeira onde fiquei sob a observação severa de Freud e seu cachimbo, e me fez a pergunta óbvia: “Qual o seu problema?”

Respondi que no meu hobby de escritor estava perdendo o foco do principal, escrevia sobre futebol e deixava, inconscientemente, de citar os nomes dos jogadores, as estrelas do espetáculo. O homem lançou o corpo para trás, acomodou o esqueleto no veludo da cadeira enorme e cofiou a barba com a cara de “é grave”.

– Torce para algum time em especial? – perguntou o esculápio.
– Doutor, ultimamente não torço, sofro, sofro do Mal de Lucelli, que o senhor deve conhecer bem.

O clínico cruzou as mãos no topo da cabeça, estalou o pescoço, e eu imaginei, é gravíssimo.

– Se bem entendi, o enfermo é atleticano? – indagou o filho de Freud, balançando negativamente o crânio de pouco cabelo. Fechei os olhos e não precisei responder.
– O diagnóstico é simples – continuou – desde o ano passado, o senhor vem sendo vítima de jogadores mercenários, que levaram seu time à segunda divisão.

Respirou profundamente, remexeu uns papeis sobre a mesa, enquadrou os óculos de leitura e prosseguiu.

– Há poucas semanas, os jogadores Rodholfo, criado no CT do Caju, e Paulo Rink, ex-ídolo atleticano, entraram na justiça contra o seu clube, o que, no seu inconsciente, é crime de traição máxima, daí o seu irrefletido esquecimento dos jogadores em suas colunas.

Silenciou e ficou a me observar como mísero rato de laboratório, com CPF e capacidade de pagamento. Uma luz penetrou meu cérebro vitimizado pela perfídia, cansado da deslealdade, da falsidade, por tudo isso levado a bloquear no texto as boas apresentações de Manoel, Guerrón, Zezinho, Deivid, Edigar e companhia. O jogador-herói morreu, ficou o Clube, o pai pronto a ser traído pelas 30 moedas de prata que levaram Judas ao suicídio. Entendi meu problema.

Estava assinando o cheque gordíssimo, quando não resisti perguntar:

– E o senhor torce para quem doutor?

O magrelo estalou os dedos magros e respondeu com um tremor de sobrancelhas:

– Torço para o Coritiba, Coritiba do Marcos Aurélio, do Leandro Donizetti, do Gago, do Bill, craques que amam a camisa coxa.

O tremor das sobrancelhas aumentou e uma baba grossa começou a verter da boca semiaberta. Os olhos passeavam esgazeados pelos livros na estante em cerejeira, os lábios resmungavam Aurélio, Gago, Donizetti, Bill.

Fiquei preocupado e chamei a enfermeira. A loiraça entrou e disse resignada:

– Esta semana ele está assim, mais para monstro do que para médico.

De repente o homem em transe começou a repetir:

– O Heber vai fazer falta, vai fazer falta.

A moça colocou as mãozinhas sobre as bochechas rosadas, voltou para mim sua angústia e ordenou:

– O senhor não deixe ele bater a cabeça. Vou buscar a injeção.



Últimas Notícias

Brasileiro

Fazendo contas

Há pouco mais de um mês o Athletico tinha 31 pontos, estava há 5 da zona de rebaixamento e tinha ainda 12 partidas para fazer.…

Notícias

Em ritmo de finados

As mais de 40 mil vozes que acabaram batendo o novo recorde de público no eterno estádio Joaquim Américo não foram suficientes para fazer com…

Brasileiro

Maldito Pacto

Maldito pacto… Maldito pacto que nos conduz há mais de 100 anos. Maldito pacto que nos forjou na dificuldade, que nos fez superar grandes desafios,…

Opinião

O tempo é o senhor da razão

A famosa frase dita e repetida inúmeras vezes pelo mandatário mor do Athletico, como que numa profecia, se torna realidade. Nada como o tempo para…