Você é o Clube Atlético Paranaense!
Hoje, 15 de maio de 2012. Há exatos 29 anos, o Atlético Paranaense entrava em campo para enfrentar um dos melhores times do Mundo, dentro de um Couto Pereira abarrotado de gente. Era o poderoso Flamengo de Zico & Cia diante do surpreendente Atlético de Assis & Washington.
Na minha infância, o grande time era o Flamengo. Aliás, grande com justa razão. O Flamengo – do final da década de 70, início dos anos 80 – era uma máquina de jogar bola e não havia guri que não fosse, ao menos, fã do Rubro-Negro da Gávea (podiam até não torcer pelo Flamengo, mas eram fãs e gostavam de assistir aos jogos por conta do belíssimo futebol do quadro carioca).
No fim de 1981, o Flamengo decidiu o Mundial, em Tóquio, contra o Liverpool. Apesar de o jogo ter sido realizado à meia-noite, horário de Brasília, e de eu ter apenas 6 anos de idade, fiquei ligado na transmissão. O Flamengo atuou com: Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Andrade, Tita, Adílio, Nunes, Zico e Lico. Lembro-me que foi um passeio do time brasileiro que impôs ao clube inglês um incontestável 3 a 0.
O Flamengo se sagrava campeão mundial e devolvia ao Brasil a honra de ver um clube seu ocupando o topo do Mundo (o último a dar uma satisfação dessas tinha sido o Super Santos, de Pelé, o maior time de futebol de todos os tempos, sem sombra de dúvidas, bicampeão mundial em 62/63).
Após a conquista do título, a Globo passou o domingo inteiro inserindo vinhetas com o hino do Flamengo e reprisando os gols, a festa e o Zico cabeludo erguendo a taça, sob o sol tímido do Japão.
Em resumo: o Flamengo era um time de sonhos, de craques, de semideuses e todo garoto era fã do Zico, do Júnior, do Leandro, do Raul e do restante da companhia. Eu não fugi à regra e também admirava aqueles caras que jogavam por música, talvez no ritmo do pandeiro do sambista e lateral Júnior (voa, canarinho, voa!. Quem já passou dos 35 lembra bem dessa musiquinha).
Em 1982 teve Copa do Mundo e o Brasil botou em campo um selecionado espetacular, inesquecível, comandado pelas mãos do Mestre Telê. O Flamengo cedeu à Seleção seus grandes nomes: Zico, Júnior e Leandro. Timaço aquele do Telê. Time tão bom que nem precisou ser campeão para se eternizar na memória do torcedor comum.
A exemplo da Hungria de 1954 e da Holanda de 1974, a Seleção de 1982 entrou para a História das Copas como uma espécie de campeã moral, deixando a sensação de quem nem sempre vence o melhor (a Itália campeã de 1982 tinha um futebolzinho insosso, incapaz de emocionar, incapaz de ficar eternizado na memória. A Itália campeã em 2006 repetiu a dose, erguendo uma taça sem brilho, mostrando ao Mundo um futebolzinho anêmico. A Espanha de 2010 também ganhou sem emocionar).
Passada a Copa, os clubes retomaram seus destinos e o Flamengo prosseguia encantando a todos e ia atropelando quantos quisessem cruzar o seu caminho. Foi campeão brasileiro em 1982 numa campanha marcada pela força da massa rubro-negra, principalmente nos jogos que tinham por palco o Maracanã (diversas vezes o público pagante ultrapassou os 100 mil torcedores). Jogar contra o Fla no Maraca lotado era experiência traumática para qualquer adversário, por mais categorizado que pudesse ser.
Em 1982, enquanto o Flamengo fazia suas vítimas por todos os lados, o Atlético punha em campo um timaço que também encantava a todos e que, em gramados paranaenses, não conhecia adversário. Roberto Costa, Ariovaldo, Jair Gonçalves, Bianchi, Sérgio Moura, Jorge Luís, Detti, Lino, Nivaldo, Capitão, Washington, Assis e Ivair fizeram misérias no paranaense de 1982 e, para coroar tanto êxito, levantaram o caneco numa campanha em que o ataque marcou 70 gols. Time mágico que arrebatou milhares de corações, inclusive o meu, que me rendi àquelas feras que pareciam jogar por música, que pareciam heróis, semideuses, que pareciam flutuar pelo gramado, embora passassem como um rolo compressor sobre as equipes que apareciam pela frente.
Na minha cabeça, em 1982, havia duas equipes que jogavam o futebol dos sonhos: Flamengo e Atlético; mas no meu coração só havia um time: o Atlético, o meu Atlético, ou o Atlético das feras capitaneadas por Assis e Washington. Mas na minha cabeça, Raul, Zico, Júnior e Leandro eram muito melhores do que o Roberto Costa, o Assis e o Washington. Os caras do Flamengo eram jogadores de Seleção, de Copa do Mundo, enquanto os nossos eram aqui de Curitiba e isso me fazia acreditar que o Flamengo campeão do Mundo era muito mais forte que o Atlético, era mais forte que todo mundo e a gente era forte pra bater o Coritiba, ou o Colorado, e só.
Daí veio 1983. Campeonato brasileiro. O Flamengo ia degolando os adversários e o Atlético, num início tímido, ia passando de fase sem muito brilho, sem despertar grandes aspirações. Acontece que, nessa sua caminhada, o Atlético alcançou as quartas-de-final e teria pela frente o todo poderoso São Paulo, time que também havia cedido boas peças à Seleção de 1982. Logo que o confronto foi definido, o país decretou que o vencedor seria o time do Morumbi e até aqui em Curitiba a gente, no fundo, achava que o Atlético já tinha ido longe demais.
Para espanto geral ou de muitos nós despachamos o tricolor paulista com duas vitórias maiúsculas. Agora, enfrentaríamos, nas semifinais, o temido Flamengo. O primeiro jogo foi no Rio e eles venceram a gente por 3 a 0, com a ajuda de uma arbitragem nada imparcial. No jogo de volta, teríamos de vencê-los por diferença de 3 gols. A massa atleticana se mobilizou em torno do time. Curitiba foi tomada pelo vermelho e preto do Atlético. Tudo era Atlético, não havia assunto capaz de se impor à magnífica semifinal.
No dia do jogo, o Couto Pereira foi tomado por 67 mil torcedores e pelo menos outros 20 mil tiveram de voltar pra casa por falta de ingressos. Quando o Atlético entrou em campo, naquele domingo, 15 de maio de 1983, a torcida explodiu numa festa nunca vista em estádios paranaenses até então. Todas as emoções humanas foram vividas naqueles 90 minutos de jogo. Estavam, frente a frente, os dois melhores times do Brasil e, quiçá, do Mundo. Diante do Atlético estava o Flamengo, com seus craques e com a vantagem de 3 gols; diante do Flamengo estava o Atlético convertido numa força sobrenatural, empurrado por uma torcida em transe, sobre o gramado onde não encontrara adversários no ano anterior.
Naquela tarde de domingo, o Atlético jogou a melhor partida de sua existência até então e impôs ao melhor time do Mundo uma derrota de 2 a 0, incapaz de levar nosso Rubro-Negro à final, é verdade, mas incapaz de ser esquecida. Quando o árbitro apitou o fim do jogo, a massa cantou o Hino do Atlético e, ao chegar ao refrão, explodiu: Atlético, Atlético, conhecemos teu valor, e a camisa Rubro-Negra só se veste por amor! e aplaudiu o time por mais de 15 minutos, reconhecendo naqueles homens antes anônimos a grandeza dos heróis, dos craques, dos semideuses.
Haverá quem diga: ‘Esse Rafael Lemos só vive do passado!’. Alguém dirá: ‘Quer tapar o sol com a peneira!’. Dirão: ‘É marionete! Um seguidor do ‘Führer'(…)’. Grandes tolos, com suas grandes bobagens. Não lhes digo nada, ou talvez lhes diga, simplesmente: ‘Sou um Atleticano!’.
Sou um Atleticano comum, simples torcedor apaixonado pelo vermelho e preto que nos emociona. Trago comigo na memória alegrias e tristezas atemporais. Sentimentos e lembranças que, vencendo o tempo, fazem de mim um torcedor cada vez mais perdido de amor pelo Clube Atlético Paranaense!
Hoje faz 29 anos daquela inesquecível vitória. Vejo, com tristeza, torcedores comuns, como eu, rechearem este espaço com críticas, com mágoas, com ódio. Entendo, sim, que o momento (dada a perda do título estadual) é de luto, mas por que não celebrarmos a nossa História?
Vou além. Na véspera de uma decisão contra o Palmeiras, num momento em que nos encontramos rumo à inédita semifinal de Copa do Brasil, por que nos dedicamos tanto às críticas e tão pouco à esperança?
Desistimos do Atlético? Desacreditamos? Reforçamos as diferenças em detrimento da união? Somos duas torcidas que caminharão antagônicas pelos próximos anos? Ou acreditamos no Atlético, de uma vez por todas, para, como em 1983, surpreender a todos e lhes calar a boca?
Se você, amigo, quer um Atlético Paranaense forte, é chegada a hora! Você é a parte que falta, você é o grito, você é alma, você é o Clube Atlético Paranaense!
Recomeça amanhã, contra o Palmeiras! O Atlético Paranaense no rumo de reconquistar o Brasil.
Eu acredito. E você?