30 jun 2012 - 19h08

Jorginho: “Nosso time é muito fedido”

O técnico Jorginho mostrou que não tem papas na língua. O treinador concedeu sua primeira entrevista coletiva depois de estrear no comando do Atlético no empate sem gols com o Bragantino. Franco e objetivo, ele não fugiu de perguntas difíceis, nem tentou esconder a situação difícil pela qual passa o Rubro-Negro. Ao contrário: chegou ao ponto de criticar duramente a qualidade da equipe e a questionar se seria possível sair dessa situação.

A declaração mais polêmica ocorreu logo na abertura da entrevista: “Eu estava até conversando com eles [os jogadores] ali agora que o nosso time é muito fedido. Sabe o que é fedido? É que a bola não entra no gol de jeito nenhum. Para ficar cheiroso, precisa se dedicar muito, precisa trabalhar muito para voltar a ficar cheiroso. Porque aquele que faz gol fica cheiroso. E futebol vive de gol”.

Pelo contexto do discurso de Jorginho, a expressão é uma gíria para indicar um time azarado. “É um time fedido. É um time que possa diminuir um pouquinho esse índice de perda de gol. Para isso, só treinamento, gente. Treinamento, treinamento, treinamento. Outra: o atleta acostuma com algumas coisas. Se ele jogar, por exemplo, todo dia às 16h, quando ele jogar às 17h30, 18h, ele vai sentir diferença. É que vocês não sabem isso. A mesma forma a forma de jogar. O cara está acostumado a jogar de um jeito, e se você procura mudar é difícil para ele, é complicado. Ele se sente seguro jogando daquela forma, ninguém gosta de uma mudança drástica. Por isso, vai ter de ser aos poucos e é isso que nós vamos tentar fazer”.

Questionado sobre o nível de sua preocupação com o fato de a equipe não conseguir fazer gols, o treinador não fez rodeios: “Grande. Enorme. Agora, nós vamos ter que treinar para mudar. Com todo respeito: o campo atrapalha? Atrapalha. É ruim demais? Não. Mas também não é tão bom. Quem jogou na Arena, como eu tive o prazer, é outra coisa. Esse gramado aí ele era lá no Vitória da Bahia, antigo, mas faz tempo, eu ainda tinha cabelo, era cabelo preto. Hoje eu não tenho mais. Então, já mudou. O Vitória já mudou umas três vezes, entendeu? Até diminuiu o tamanho de lá pra cá. Isso tudo, infelizmente, é problema”.

Não vale o pedágio

Jorginho reconheceu que o rendimento ficou muito abaixo do esperado. O técnico aproveitou uma crítica que ouviu de um torcedor no Estádio Caranguejão para descrever o que foi o jogo: “Como gritou um torcedor ali: não vale o meu pedágio que eu paguei. Infelizmente. Mas é a situação que nós vamos tentar mudar e vamos precisar de todo mundo junto para mudarmos”.

Depois do jogo, as cobranças da torcida foram intensas e até ríspidas. Um torcedor discutiu com o goleiro Weverton. “Isso é natural. A única coisa que não pode é extrapolar. Quem é pai, quem sabe o que é um filho, se você também cobrar demais o seu filho você termina arrumando uma complicação para ele para o resto da vida. E muitas vezes uma cobrança muito forte e o tiro sai pela culatra. Então, tem que pensar bem. Tem de haver a cobrança, mas o cara tem de ter consciência. Consciência do que está fazendo. Porque não adianta. Não dá para mudar. Não vai dar para trazer aqui, por exemplo, o time da Espanha. Não tem como trazer. O time da Alemanha é bom e caiu fora. Então, calma. Não adianta. Eu entendo o torcedor, respeito, mas sou contra a violência. Violência só gera violência e ninguém quer isso. E violência, o torcedor já foi bastante violentado. O cara quando estiver bravo e tal, ele não precisa vir. Fica em casa, fica bravo lá mesmo. De repente, vai mudando, aí quando o time estiver bem ele vem, dá um incentivo e aí ele fica feliz. Nós queremos sempre o torcedor ao nosso lado, mas feliz. Vamos tentar fazê-lo feliz o mais rápido possível”.

Apesar de reconhecer a indignação da torcida, ele disse que não tem outro jeito de resolver o problema a não ser trabalhar. “Há uma fórmula mágica? Não existe fórmula mágica. O torcedor está bravo? Nós também estamos. Cheguei hoje e também estou bravo com o resultado. Não com a dedicação deles, não com a vontade deles, mas estamos bravos. Eles também estão. Estão chateados, magoados. Muitos não estavam aqui quando aconteceu o episódio do descenso, mas estão pagando já pelo ônus (sic). Então, nós temos de ter um pouco de tranquilidade. Vai demorar? Não sei. Vai dar tempo? Também não sei. O que nós temos que ter é trabalho, trabalho, lutar, se dedicar, porque é o seguinte: se perder o Atlético, todos nós que estamos aqui agora no momento vamos perder também. Não importa a rivalidade agora; o que importa é que todos estejam lá. E para isso vai ter de ter um árduo trabalho, uma árdua dedicação, e quanto aos reforços, a direção sabe disso, está ciente disso e está correndo atrás. Agora, Lembre-se: quem está na Série A que poderia nos ajudar vai ser ruim de vir, porque ninguém quer sair da Série A para vir para a Série B. E alguns jogadores que são de Série B, a torcida, talvez, não esteja acostumada com eles, por muitos longos anos que teve grandes times. Então, tem de sempre ter paciência e ajudar esses atletas que aqui estão”.

Não vai ser fácil

Mesmo não tendo gostado do resultado, Jorginho ainda não acenou com mudanças na escalação. O temor dele é criar uma instabilidade no grupo, que já está nervoso com a pressão por resultados. “Eu vi alguns jogos do Atlético. Em nenhum deles eu vi a mesma equipe. Então, como é que você quer fazer um time coletivo? Então, nós jogávamos aqui antigamente e era o mesmo time sempre. Nós já sabíamos quem era o adversário na Arena. Hoje já não é mais. Desde o ano passado, se você contar, eu sou hoje o nono treinador em um ano. Aí os caras falaram: ‘Pô, você tem 90, 91%” [de aprovação]‘. Aí eu falei: ‘Daqui a pouco serão os 9, 10% que vão gostar de mim, o restante, não’. Por que? Porque é isso, cara. Infelizmente, vai ser isso. A gente sente muita tristeza nisso? Lógico que sente. Nós estamos tão tristes quanto o torcedor, porque nós vivemos disso. E o torcedor está sendo muito gozado, isso é muito ruim para ele. Por isso que é complicado. O atleta se sente nervoso. Quer fazer e muitas vezes não consegue. Extrapola aquilo dentro dele. Então, mais uma vez: não vai ser fácil, mas nós vamos lutar. É as armas que nós temos e nós temos que lutarmos com essas”.

Um repórter observou que o Atlético havia melhorado em relação aos últimos jogos, ao que o técnico respondeu: “Eu não posso dizer porque eu não vivi os últimos jogos aqui dentro. Mas o que Bragantino fez? Não podemos só achar coisa ruim. O time teve uma qualidade. Não uma excelência, que deveríamos ter, até por tudo que o Atlético é. Mas, dentro da situação, não me satisfez porque nós não ganhamos, mas me dá um certo alento de que pode melhorar, e cada dia mais. Eu falei isso para eles agora lá dentro. Fiquei muito feliz com a dedicação deles, com toda a criação de jogada. Foi criação trabalhada, com toque de bola, do jeito que eu gosto? Mas nem….Olha, quase falei uma besteira, quase falei um palavrão, desculpem. Não, mas está bem longe, eu falei para eles isso lá, está bem longe. Mas nós vamos lutar para melhorarmos isso, isso não tenha dúvida de que nós vamos conseguir. Agora, espero que seja o mais rápido possível, porque senão daqui a pouco nem eu estarei aqui para falar com vocês”.

Garotos e veteranos

Ao final, outro repórter perguntou ao técnico sobre o aproveitamento do veterano Paulo Baier ao longo da temporada. “O Paulo está aí conosco. Quem vai jogar e quem vai me mostrar que vai jogar ou não é ele mesmo. Tudo vai depender do que vai acontecer com a equipe. Jogadores que vão jogar é aqueles que fazem a equipe ganhar. Aí não importa o nome. Importa, sim, que me faça ganhar. Essa é a ideia e o Paulo está dentro desse contexto. Jogando ou não, vai estar dentro desse contexto. Aqui nós não escondemos nada. Nós conversamos com ele e tudo. Vai depender do que vai acontecer. Se ele estiver na equipe e a equipe estiver ganhando, ele ou qualquer um outro, você me perguntou dele, né? Então, vai ficar. Senão, nós temos que achar alguém. Agora, ficar mudando a toda hora é difícil. Primeiro, nós temos que achar um time. Porque o Atlético hoje já não tem mais identificação porque não tem Arena. Esse já é um problema. Então, é mais um problema que nós temos que administrar, entendeu? Então, tudo vai encaixar. Se não encaixar, com certeza o Jorge também não tem muito tempo aqui”.

Jorginho observou ainda que a responsabilidade não pode se concentrar inteiramente nos jogadores mais jovens. A receita dele é fazer uma mescla entre os experientes e os garotos. “Eu, mais do que ninguém, acho que garoto tem de ter chance porque eu já fui garoto e já tive a minha chance, mesmo na época os treinadores não querendo. Mas como eu jogava só um pouquinho, eu obriguei ele a querer, a aceitar. Eu acho que garoto tem o seu momento certo e só deixar a responsabilidade na mão dele também não dá. Como também só um time de jogadores muito rodados também não dá. Então, nós temos que fazer uma mescla, para que possa ter tudo isso e que o Atlético possa ser forte por inteiro. Mas por inteiro mesmo. Não é um time, 11, e não ter um banco, não ter jogadores quando machucar os que iniciam o jogo. E para isso nós vamos ter que tentar achar. Só aqui? Não, pode ser que ache em outro lugar, enfim, nós vamos procurar ou esses mesmos, aos poucos, eles vão conseguindo, treinando, conseguindo pegar coragem e aí dar a volta por cima”, concluiu.



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