Getúlio Vargas, 2087
Getúlio Vargas, 2087. Um sobrado. Na janela, a bandeira Rubro-Negra (acredito que há duas décadas). A Bandeira mudou. A original não tinha as estrelas de 1995 e 2001. Só o orgulho é o mesmo, ou talvez este também tenha mudado, crescido ao longo do tempo.
Todo dia passo por ali. Olho a Bandeira. Os olhos se enchem d’água. Graças aos óculos escuros nunca sou descoberto. Convém a um homem ser uma rocha, ou aparentar ser uma pedra.
Getúlio Vargas, 2087. A Bandeira Rubro-Negra é uma permanência. Estendida na fachada. A poucos metros da Arena. Eu fico imaginando histórias. Minha cabeça nunca foi muito boa para a realidade.
Os amigos dizem que sou poeta. Os inimigos me chamam de maluco. Eu mesmo ainda não cheguei a nenhuma conclusão. Acho que tenho um pouco das duas coisas, se é que as duas não são no fundo uma coisa só.
Sigo o meu caminho imaginando histórias.
A Bandeira pertencerá a um menino? Quem sabe um piá que, a meu exemplo, desde cedo não sabe viver sem o Atlético Paranaense e faz questão de mostrar a todos o seu imenso amor?
Quem sabe pertence a uma viúva? Talvez seja isso: uma viúva de ex-jogador, viúva de um ex-dirigente. A Bandeira na janela para que se mantenha viva a memória de quem partiu.
Às vezes penso que pertence a um cara comum, que vai ao estádio a pé, com a orelha colada no radinho, o cigarro na mão e os passos rápidos na pressa inconsciente de chegar.
Às vezes penso que a Bandeira não existe. Miragem. Só eu devo enxergá-la. Mas toda vez que eu passo pelo 2087 da Getúlio Vargas sinto que naquele sobrado mora um Atleticano, ou uma Atleticana, ou vários, ou várias, não sei ao certo.
Um dia vou tocar a campainha do 2087 da Getúlio Vargas. Vou esperar ser atendido. Alguém por certo me receberá com a indagação lógica e automática:
– O que você deseja?
E eu – certamente envergonhado – responderei quase numa súplica:
– Desejo que você mantenha esse orgulho danado que sente pelo nosso Furacão. Desejo ver sempre estendida nesta casa a Bandeira Rubro-Negra do Clube Atlético Paranaense. E, por fim, desejo que você conte pra todo mundo do que é feito o seu amor pelo Atlético. Amor que resiste ao tempo, que não depende dos resultados, que resiste à ladainha dos incrédulos e dos maledicentes. Amor que cresce todo dia. Amor que anda esquecido por muitos Atleticanos.
P.S.: Publico esta coluna como quem lança uma garrafa ao mar. Que a mensagem navegue pela grande rede até que a garrafa pare diante do número 2087 da Getúlio Vargas. Descobriremos uma linda história. Os amigos dizem que sou poeta. Os inimigos me chamam de maluco. Eu ainda não cheguei a nenhuma conclusão. Tenho um pouco das duas coisas, se é que não são no fundo uma coisa só. Enquanto ninguém conclui, podem me chamar de Atleticano, pois é a melhor definição pra um cara que é, a um só tempo, maluco e poeta!