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15 dez 2012 - 16h29

A Copa cansa

A Copa no Brasil é um negócio concebido para beneficiar os malandros de sempre, a pretexto da construção de uma nova Europa. Não por acaso, proliferam pelo vasto território do País projetos mirabolantes, que se nutrem da ilusão de modernidade para aumentar as margens de lucro dos gigantes do mercado. Enquanto isso, a população pobre vai sendo expulsa das proximidades de aeroportos e pontos turísticos, tudo para “higienizar” uma realidade que machuca os corações de quem não perdeu totalmente a emoção. Passada a farra, constataremos que o modelo europeu que nos resta é o modelo da crise econômica e social.

Eis a opinião de um pessimista, que sou eu. Na verdade, o tema me aborrece, principalmente por envolver o Clube Atlético Paranaense, um descarado objeto de paixão. Cansado e talvez simplista demais, confesso que preferiria a conclusão da Baixada sem as frescuras exigidas pela FIFA. Mas calhou que, por um esforço monumental de MCP – e quase que só dele, convém reconhecer –, a cidade de Curitiba fosse escolhida para receber alguns jogos do torneio internacional. Razoável supor que fosse assim, uma vez confirmado o Brasil como sede. Cedemos, então, o nosso templo sagrado, com prejuízos imediatos, como a redução do quadro associativo e a peregrinação doída até encontrarmos um campo para jogar a segundona. Desnecessário aprofundar esse assunto, que é conhecido.

Tem sido difícil, convenhamos, suportar a empreitada que nos dará uma nova casa nova. Os contratempos foram muitos, desde o início. Como é comum por estas bandas sisudas, a inveja rasteira e burra tomou conta dos nossos co-irmãos, que se colocaram na condição de vítimas de um complô imaginário para nos transformar em clube chapa-branca. A tradicional arrogância do nosso timoneiro desencadeou o festival de besteiras alheias. Com base num raciocínio medíocre, negaram-nos (os co-irmãos) seus estádios decadentes, saboreando uma espécie de vingança que os saciou por um breve tempo – afinal, ficamos outra vez sem teto. Acordados do delírio, porém, constataram que suas dívidas estavam ainda maiores, que seus problemas persistiam e que a oportunidade de ganhar alguns trocados com o aluguel de seu patrimônio havia sido desperdiçada. Restou-lhes o moralismo chinfrim, hipócrita e vazio de conteúdo, que sustenta discursos grandiloquentes em defesa do interesse público.

A Copa não mudará o “triste quadro social” interpretado por Raul Seixas. A Copa não será a redenção do Brasil. Mas a Copa será no Brasil. E o Estado está investindo nisso, como faria qualquer outro Estado estrangeiro. Até onde se consegue alcançar, serão colocados recursos de órgãos estatais na construção da Baixada (porque, sem a construção da Baixada, não haveria Copa em Curitiba), por conta de um acordo firmado entre prefeitura, governo estadual e o clube, que ofereceu seus bens em garantia, o que não é pouco. Aparentemente, não há ilegalidade nessa fórmula. A questão é: dá pra confiar nos negociadores? Da minha parte, desconfio de todos, o que não me impede de reconhecer que os jogos poderão abrir perspectivas para a cidade e para o Clube Atlético Paranaense. E também para os co-irmãos, com seu complexo de inferioridade e suas notas oficiais ridículas. Se valerá a pena, não sei.



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