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19 dez 2012 - 10h34

Enquanto isso, na aldeia…

Foguetórios, de norte a sul, de leste a oeste, acordaram os lares brasileiros neste domingo. Em Tóquio, a equipe do Corinthians bateu o milionário Chelsea e, burradas de Rafa Benitez à parte, conquistou o bicampeonato mundial. Dono da maior torcida do Estado do Paraná, o Corinthians também, por óbvio, possui uma grande quantidade de torcedores em Curitiba, e estes, sem pudor algum, comemoraram o importante caneco pelas ruas da capital.

Diante do quadro sintomático previamente apontado, há quem se revolte: “onde já se viu, é paranaense e torce pra time de fora”. Ou “torcer pela televisão é coisa de trouxa”. Verdade ou não, imoral (palavra utilizada em larga margem por repórteres e dirigentes da nossa terra nos últimos meses) ou não, como é que nós, atleticanos, coxas e paranistas, podemos vislumbrar um panorama diverso, se a prática autofágica virou hábito dos mandatários do futebol paranaense?

Em menos de uma semana, clubes paulistas conseguiram mais dois títulos internacionais para as sua respectivas histórias. O São Paulo expandiu a sua condição de clube brasileiro mais bem sucedido em competições internacionais, ao vencer a Sul Americana. E o Corinthians voltou a brilhar, naquele pode ser considerado o momento mais especial de sua centenária história, levantando o Mundial Interclubes. A mídia especializada, na Terra da Garoa, está acostuma a comentar feitos atrás de feitos, que fazem passar despercebidos os tropeços, tais quais o rebaixamento do Palmeiras. Lá, quem tem lugar nos microfones são dirigentes que fazem acontecer. Para o bem ou para o mal, mas fazem acontecer. Este é, portanto, o panorama do futebol paulista, que vive a “roubar” a torcida de milhares de paranaenses.

Tá. E paralelo a isso, o que se passa no Paraná? Bom, ao invés de títulos, de vitórias, de avanços, aqui se briga por… Pelo quê mesmo? Ah, lembrei. Se briga para que Curitiba não receba a Copa do Mundo. Se briga para que o futebol do Estado do Paraná siga imerso na mais pura penúria. Dane-se a rivalidade sadia! Dane-se o pensamento profissional que a esmagadora maioria dos nossos dirigentes nunca teve! Dane-se o trabalho sério de jornalistas e comunicadores que não precisam se corromper! Enquanto a velha tiração de sarro, sobre quem caiu menos vezes para a Segunda Divisão seguir existindo, maravilha. Não há do que reclamar, nem mesmo o que desejar no lugar disso.

A autofagia – frise-se, prática recorrente por aqui – explica porque a “Aldeia” está parada no tempo. Somos estranhos ao progresso, às conquistas, ao crescimento. Discursos vazios, e que beiram o ridículo, estão cada vez mais em voga nos microfones da nossa impren$a. Esforços que poderiam, caso concentrados, minimizar as discrepâncias entre os nossos clubes fazem, por bem da verdade, aumentar cada vez mais as distâncias existentes entre Atlético, Coritiba e Paraná – sem contar, por óbvio, as valentes equipes interioranas. O cenário é tão deprimente, que nem mesmo a federação mãe dos times paranaenses – sinônimo de impotência, segundas intenções e total falta de credibilidade – escapa desta pobre realidade.

Dito isso, não é difícil entender porque, com quase dez da noite em Curitiba, continuamos a escutar os foguetes por conta da vitória corinthiana. O incômodo eco que toma conta do céu curitibano, é o mesmo das cabeças vazias daqueles que cuidam do nosso futebol. Aliás, se depender deles, vibrar em cima de um sofá, com olhos vidrados numa televisão, continuará a ser mais interessante, para muita gente, do que subir as escadarias de um Couto Pereira, de um Durival Britto e Silva, de um Joaquim Américo.



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