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1 fev 2013 - 10h13

Tempo, tempo, tempo, tempo…

“Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã.” Assim já ilustrava em forma de melodia o velho Buarque, que não era o Cristovam, mas sim o Chico de Hollanda, sobre as rotinas da vida e suas respectivas ‘acontecências’, na sua clássica “Cotidiano”.

Há uma tendência do ser humano, principalmente dos habitantes do hemisfério sul, devido a sua natureza conservadora, quando historicamente pobre de um passado de lutas cívicas (em relação a tantos outros povos mais “operantes”, digamos assim) em fazer do conformismo um hábito, que vira costume e nunca deixa de correr o risco de ir (de)formando a materialidade histórica deste povo, claro que negativamente, diante de sua vertente passiva, no tangente à suas condutas.

“A natureza é uma coisa, o bicho homem é outra e a mulher é uma selvagem delícia”, como dizia o filmólogo promovido a intelectualóide, Arnoldo Jabronha. Ou seja, enquanto houver conformidade em nossas veias, elas sempre estarão abertas em nossa América Latina, aos hematófilos que se habilitem em surrupiar nosso corrente plasma c/c elementos figurados. O Conde Vlad, Drácula para a turma do Desiree, definitivamente não suportou a concorrência no Brasil.

Por mais indignação que nos causem os fatos negativos da vida, sem perceber nos acostumamos a acompanhá-los como meros espectadores na poltrona, agindo (“agindo”?) como se a mídia de massa fosse realmente a verdade a ser observada, seguida e cultuada. “Pay-per-view”, não importa o que esteja vendo, mas “pay”. E o Lavoisier foi soberano, pois nada se cria, tudo se transforma, cá no Brasil se escaneia. Estendendo a interpretação sobre costumes…

Reparar que todo início de ano é sempre a mesma coisa, é mister para quem não quer pasmar na inércia da indignação. As catástrofes pluviais litorâneas, a mortandade nas estradas, o aumento dos tributos (exceto luz, façamos justiça), a dança nos secretariados, a incapacidade do poder público, a ingerência política dos radialistas, religiosos e afins, a violência fomentada pela espetacularização midiática, a parcialidade dos impressos, as ridículas propagandas de cerveja, o sexismo televisivo, a pobreza cultural e moral das telenovelas, a apelada e tardiamente global irracionalidade dos UFCs, a debilidade mental de Bial e seus seguidores…e a ganância dos empresários inconsequentes. Janeiro, mais do mesmo, trágico cotidiano de verão.

Tudo isso acontecendo e eu aqui na Santos Andrade sem dar troco às putas. Olho para o prédio onde me formei há 22 anos e vejo que nada mudou, senão pra pior. Os meios de comunicação local cada vez mais anti-Atlético. A coxarada fazendo alarde inaugurando refeitório, lançando projetos de fechamento da Mauá de fazer inveja aos arquitetos de Dubai, ganhando jogos com pênaltis inexistentes e, claro, como não poderia deixar de ser, com a volta do antipaticíssimo ídolo, depois de ter estreado em Hobbit, no papel de Gollum (vide Google imagens aquele que não viu o filme), o “precioso” que voltou para o “glorioso”. Dos paranistas, não há o que falar, em 23 anos, exceção feita ao seu pentinha.

Do lado de cá, permanece a prática de manter técnicos-aposta, permanece gente no elenco que nunca servirá ao CAP (Bruno Costa, Héracles, Foguinho, Pablo, Fernandão), permanece a torcida pagando pelos reflexos da correta postura diante da mídia. É justamente aqui onde eu quero chegar.

Porque isso é muito pouco diante do todo. O que acontece nesse sentido para nós, Atleticanos, é quase nada, é irrisório e irrelevante perto do que não acontece na sociedade, mas deveria acontecer. Já encheu o saco esse troço de atirarem no utopista (MCP). Por que ninguém reclama dos conselheiros, ou dos sócio-torcedores que o elegeram? Todo mundo sabe que futebol não é o seu forte e que já pagamos muito caro por isso. Mas infelizmente, há tempos, o futebol propriamente dito não é mais somente feito de futebol. Hoje, é um mundo de negócios. Porque os empresários, agentes, procuradores – na maioria metidos a – estão infiltrados no ramo, e “entendem” de negócios, não de futebol. Se ele também é empresário, e não está correspondendo nesse sentido positivamente ao Atlético, que responda por isso, à medida /proporção de sua culpabilidade se houver.

Mas o X da questão não é esse. É que todos nós, brasileiros conservadores, não sabemos lidar com o Tempo. Nossa visão retilineamente uniforme, nos atrapalha em bem observar as mudanças, outros movimentos. A fila anda (até Rafael Lemos está no Facebook!). Não há bônus sem ônus. Então sai ano entra ano e de novo todo mundo vendo e falando a mesma coisa, de braços cruzados. É muita saliva pra pouca adenosina trifosfato.

Esqueçam o cara. Xinguem, esperneiem, reclamem, mas esqueçam o cara. Saiam das poltronas. Mobilizem-se noutro sentido e não me perguntem como, mas chega do mesmo. Deixem que ele ganhe dinheiro com o Atlético, com cadeiras, Copa, jogadores, o escambau, foda-se! Eu já fui opositor dele – no quesito Futebol – agora sou indiferente, porque é preciso renovar até os reclames. Novas ideias, novas possibilidades, não necessariamente um Hyunday, mas mudem o disco por favor. Desde 2005 a mesma música ninguém aguenta.

Sabe por quê? Porque em janeiro de 2014, TODOS, eu disse TODOS nós, vamos esquecer o que um dia foi ruim. Não haverá um só Atleticano que entre naquele estádio e diga que todo o sacrifício não valeu a pena. Talvez a única exceção seja quem não comeu pão com bife sujo embaixo de pinheiros, e não tem base para pode reconhecer as diferenças. E os verdes não são exceção, posto que morrerão verdes, de inveja, o pior dos sentimentos. Por isso não deem mais corda pra Airton, Mafuz e RPCs da vida, pois é justamente isso que eles querem, locupletar-se. Usurpar do nosso sucesso patrimonial enaltecendo o fracasso desportivo. Assim como os mass media usurpam do sofrimento alheio.

Preocupemo-nos com outras coisas. Para que não tenhamos que assistir, depois das tragédias, a mídia explorar diária e continuamente o sofrimento de quem ficou. Para acabar com essa mania de atirar pra todos os lados querendo culpados antes mesmo dos inquéritos. Para que nossos filhos possam ser adequadamente educados e orientados quando, aonde, como, com quem e por que sair.

Chamem este autor da coluna de babaca, mas emissora(s) que cultua(m) a malhação, o adultério, a vulgarização do amor, a inversão de valores, a banalização da violência que dá a audiência suficiente para o lucro de seus anunciantes, cuja práxis é totalmente desprovida de ética, não têm moral alguma para cobrar nada de ninguém.

Em breve, eu volto com uma campanha anti-televisão. Mas no sentido amplo e irrestrito, não só pelo futebol. Porque o rapper da Inepar tá certo. MC Pet que boicote mesmo essa patuleia da comunicação estadual. Porque é muito difícil a gente compreender as coisas do Tempo. Compreender que em 2014 a capacidade da Arena comportará um número de sócios compatível com mensalidades menores. Aí, definitivamente, não precisaremos mais da televisão. Que enfiem no rabo os seus replays suspeitosamente convenientes, seus narradores retardados, apresentadores irônicos e comentaristas estúpidos. E que vomitem estes campeonatos paranaenses, refugos, recordes e outras ilusões provincianas. Não sem dispensar toda essa choldra jornalóide que chama o time do Virsonho de Curitiba, com “u”.

Falta só 12 meses. Ano que vem a gente cobra Futebol, jogador, técnico, essas coisas. Este ano, cobremos das autoridades públicas, dos poderes instituídos, das entidades de classe, das forças auxiliares, dos prestadores de serviço, dos meios de comunicação, de mim e de você, mais atenção. Porque tudo na vida tem hora e lugar adequados. Tempo e espaço, o que não aconteceu em Santa Maria.

Mas que passe logo, porque já temos 2012 nas costas. Por aqui, eu dispenso Cotidiano e vou tentando aprender com o Tempo, fazendo um modesto cover da “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso, para refletir e entender sobre a necessidade de se discernir entre costumices & perspectivas:

“…Compositor de destinos / Tambor de todos os ritmos / Tempo, tempo, tempo, tempo / Entro num acordo contigo / Tempo, tempo, tempo, tempo…”



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