A tranquilidade atleticana
No apagar das luzes e quando o jogo já parecia definido, eis que Marcão surge sozinho cara a cara com o Vanderlei. Poderia passar para o Luiz Alberto que estava mais bem colocado no meio do gol, poderia rolar para o Paulo Baier do outro lado. Poderia ter enchido o pé ou tentado o drible. Mas não. Tremeu como vara verde diante do goleiro verde. Optou pelo pior. Chutou fraco, sem convicção, sem amor à camisa, como se tivesse medo de empatar o jogo – o que seria o menos pior naquele momento – e possibilitou que o goleiro adversário operasse um milagre e saísse consagrado.
Esse lance ilustra bem o atual momento atleticano.
Revela a falta de interesse, a falta de gana, de vontade de ganhar um clássico. E essa falta de vontade tem como fonte a própria atual diretoria atleticana. Como se o futebol não importasse. E justamente o que move esse clube de futebol é o seu futebol em campo, as vitórias, os títulos, isso é o que aumenta a paixão e faz com que mais torcedores venham se juntar ao clube.
O próprio Marcão antes havia feito uma boa jogada, mas Ederson deu de canela na sequência da jogada. Pedro Botelho tem suas qualidades, fez um belo gol contra o Grêmio mas não sabe defender. Deixou que o Alex armasse a jogada do gol depois do drible que tomou. Manoel sobe pra tentar o gol e depois não volta, deixando uma avenida aberta aos contra-ataques adversários. No lance do gol do CFC, chegou muito atrasado no lance. E não é de hoje que o Atlético tem tomado gols assim.
A troca de comando técnico estava mais do que na hora. Mas veja só: enquanto Dorival Junior e Paulo Autuori – que assim como Vagner Mancini foram contratados por seus novos clubes essa semana – estavam no banco de reservas gritando e orientando seus comandados, nosso futuro técnico assistiu o jogo da arquibancada, tranquilamente.
Tranquilidade! Em outros tempos, uma derrota em atletiba resultava em ações concretas como dispensas de jogadores. Hoje em dia, no dia seguinte é como se nada tivesse acontecido. Teve um ex-presidente que após uma derrota em atletiba na Arena chegou a se gabar de superávit!!
E basta ver a tabela do campeonato para concluirmos que a pré-temporada gigante não deu certo. A ideia seria revolucionária, mas não vingou. Isso é gritante. Os times todos estão em ponto de bala, entrosados e o Atlético sem ritmo de jogo, tomando gols no final, sem preparo físico. Deveria ter jogado o regional com sua equipe titular. Se o campeonato não é rentável, não o é não só para o Atlético, mas para todos os times. E todos jogaram com seus times principais. Então porque só o Atlético tem de ser o diferente? Vi fotos do Neymar na lama brigando com os beques do interior paulista. E ele só jogou o que jogou na Copa das Confederações porque estava jogando o Paulistão, ou vocês acham que ele teria o mesmo desempenho na seleção se tivesse ficado curtindo uma pré-temporada?
O Atlético precisa acordar urgente, levar a sério o futebol, parar com essa tranquilidade e com essa pasmaceira que o vem caracterizando há anos, mas, antes de tudo, procurar ser humilde e reconhecer que outros times com objetivos mais modestos estão fazendo belos trabalhos com o futebol de suas equipes. Mirem esses bons exemplos. Toda essa megalomania de Copa 2014 e Arena com teto retrátil é muito bonita mas não deve, em hipótese alguma promover o sacrifício do futebol atleticano.
Porque tantos jogadores e de tão baixo nível? Alguns não chegam nem a jogar. Veio um jogador, Vinícius, ala esquerda, com pinta de titular, cheio de discurso, nem jogou e já foi embora!Que loucura! Sem contar que certamente muitos jogadores do bravo sub-23 como Taiberson, Harrison, Junior Barros, Renatinho e outros, serão menosprezados e saindo do CAP certamente darão certo em outros clubes. Eu vi esses meninos jogarem e estou certo da capacidade deles. Será que os entendidos de futebol no Atlético não sabem reconhecer bons jogadores? Deixarão essas promessas irem embora?
O futebol é simples e a maioria dos times segue essa receita: bons e poucos jogadores, bem remunerados, com identificação junto ao clube e à torcida, alguns craques entre eles, que resolvam, um técnico experiente e competente, que saiba escalar um ‘onze’ titular e saiba dar padrão de jogo ao time, bom relacionamento com a torcida, com a imprensa e com os outros times e uma administração que saiba promover um bom marketing para angariar investidores e torcedores.
O Atlético faz tudo errado: tem um elenco inchado, com jogadores de medianos a medíocres, visivelmente desmotivados, que muitas vezes nem jogam uma partida, briga com jogadores na Justiça, utiliza técnicos sem cacife para treinar um time de primeira divisão, mantém péssimo relacionamento com a imprensa e com outros clubes, etc.
E quanto à torcida, não queiram, srs, diretores, jogar a culpa por fracassos atuais ou futuros nas costas dos torcedores e sócios. O produto que estão oferecendo é de baixíssima qualidade e só o amor incondicional justifica ainda as antigas e novas associações. Imagine se um fabricante de carros dissesse assim para o mercado: ‘comprem nosso carro para que possamos melhorá-lo’. Absurdo total. Desapareceria do mercado. Invistam num time decente e depois venham cobrar novas associações. Outros times construíram ou constroem suas arenas e nem por isso descuidaram das suas equipes. Pelo contrário, tem equipes fortíssimas, com grandes jogadores, com excelentes técnicos e estão ganhando títulos.
O bom futebol acabou em 2005. Naquele ano, após o vice-campeonato da Libertadores, o Atlético sob o comando de Evaristo de Macedo, montou um belo time, com Dagoberto, Ferreira, Lima, Denis Marques, Marcão, Durval etc. De lá pra cá, times medianos, técnicos desqualificados, derrotas vergonhosas, brigas com todo mundo, rebaixamento, arrogância e falta de humildade. Um repertório de insanidades, promessas, trapalhadas, derrotas, humilhações, chacotas de outros torcedores,etc.
Mas não adianta reclamar. Provavelmente nenhum reforço virá e o novo técnico terá de quebrar a cabeça para montar um time com o que tem. Ainda assim, espero que o Sr. Mancini consiga montar um bom time e que, pelo menos, nos salve do pior no fim do ano. Mais, infelizmente, na atual conjuntura, não se pode esperar.