Corações teimosos
O jogo começou, sem perspectivas. A velha alegria, cada vez mais velha e mais distante, não tinha por que se anunciar na tarde do domingo. Nem mesmo a tensão que antecedia os grandes clássicos sobreviveu. Não há grandes clássicos, nem espetáculo das torcidas, nem rivalidade criativa. Restaram os burocratas dos comandos organizados, com sua estupidez sem limites, com o seu fascismo tacanho. Talvez por isso, mais uma vez, eu estivesse em casa, diante da televisão, a seiscentos quilômetros do frio de Curitiba. Aparentemente, nenhuma emoção me esperava.
Mas eis que o meu coração teimoso acelerou. Quando levamos o gol, pensei nos Atletibas dos anos 1970. Como era comum naquela época, jogávamos melhor, o juiz ignorava um pênalti a nosso favor e os critérios de marcação de faltas e de punição com cartões amarelos beneficiavam os donos da casa. Mais uma vez, a (má) sorte nos castigava, e esquemas terríveis pareciam voltados contra nós. Enxerguei, como no passado, a injustiça absoluta, e pensei que a injustiça absoluta serviria de combustível para o nosso fortalecimento. Sempre foi assim, pois foi assim que crescemos como coletividade, como loucura, como paixão.
Permaneci nesse estado de reflexão até os 44 minutos do tempo final. Foi quando a bola caiu nos pés do nosso centro-avante. Na área pequena, a um passo da linha do gol. O que aconteceu, então, milhões de olhos incrédulos, de colorações clubísticas variadas, testemunharam: a bola colocada no único, minúsculo e improvável espaço ocupado pelo goleiro rival. Acordei. Meu time não tinha, na escalação, os jogadores do meu sonho. Não tinha Sicupira a fazer gols em profusão, não tinha Buião pela ponta, não tinha Júlio, deus da raça, não tinha Djalma Santos, ídolo maior, não tinha Picasso ou Altevir no gol, não tinha Cláudio Deodato, nem Alfredo Gotardi, nem Nilson Borges, nem Didi Duarte, nem Nilton Batata. Eu estava em 2013, e o centro-avante do meu time era Marcão. Sem conspirações, merecemos a derrota rotineira.
Estamos em 2013, e aquele Atlético que aprendemos a amar foi substituído por uma promessa de grandeza que nunca se realiza. Aquele Atlético foi aprisionado por um louco que lhe quer roubar a alma, a voz e a história. Aquele Atlético adormeceu um sono profundo. Mas aquele Atlético, que sofre e agoniza, não morreu e nem morrerá, ao menos enquanto pulsarem corações impregnados das cores fortes do amor eterno.
Da minha parte, não abandonarei a luta, apesar da tristeza e do cansaço de agora.