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18 nov 2013 - 21h53

O Dia Em Que Curitiba Parou

Houve um dia, há mais ou menos 62 anos atrás que a Terra parou. Pelo menos na ficção científica, no inesquecível filme ‘O Dia em que a Terra Parou’ de 1951, de Robert Wise, onde um bondoso alienígena, paralisa toda a energia do planeta e exorta os seres humanos a serem menos violentos.

Mas há 30 anos atrás, uma cidade no sul do Brasil também parou e tudo por culpa desse jogo fascinante chamado futebol. Quem esteve presente no estádio Couto Pereira, em Curitiba, naquele já distante 15 de maio de 1983, sabe bem do que eu estou falando.

Vivíamos uma época de incertezas, o país estava mergulhado numa profunda crise econômica, do qual só viria a sair mais de uma década depois, o regime militar estava em franca decadência e ecoava pelo país o grito de ‘Diretas Já’ a partir da emenda do senador Dante de Oliveira de março de 1983.

No futebol, depois da derrota na Copa de 1982, o futebol brasileiro entrava em um labirinto do qual parecia que não iria mais sair. Começava então um êxodo de craques rumo ao novo eldorado do futebol,no caso, a Itália. O campeonato brasileiro de 1983 ainda contava com grandes estrelas como Zico, Sócrates, Reinaldo, Careca, Roberto, Cerezo, Júnior. Ainda havia craques sobrando em todos os times, mas seria por pouco tempo e logo todos eles iriam seguir os passos de Falcão, que já era o Rei de Roma..

Por ter conquistado o campeonato paranaense no ano anterior, o Atlético ganhou o direito de disputar o campeonato brasileiro de 1983. Perdeu alguns jogadores fundamentais na conquista regional como Lino, Ariovaldo e Bianchi, mas mesmo assim era apontado como um time que poderia surpreender, correndo por fora.

O início da caminhada rubro-negra nesse campeonato não foi bom. Teve altos e baixos, mas com o passar do tempo o time conseguiu entrosamento e treinado por Hélio Alves, uma lenda dos bastidores do futebol paranaense, conseguiu chegar às oitavas de final contra o poderoso São Paulo.

Após vencer o tricolor paulista em Curitiba, conseguiu outra vitória heroica no Morumbi pelo placar mínimo, gol de Assis. Naquele jogo surgiu para o mundo o goleiro Roberto Costa, que operou seguidos milagres e saiu de campo consagrado, deixando a torcida do São Paulo incrédula.

A semifinal seria contra uma potência do futebol mundial. O Flamengo, que naquela época, não era um time comum. Uma constelação de jogadores, a grande maioria da seleção brasileira e que desde o final dos anos 70 impunha respeito onde quer que fosse. Campeão mundial em 1981, do Brasileiro de 1982 e favorito para a conquista de mais um título em 1983. No primeiro confronto entre os rubro-negros, com 109.819 pessoas abarrotando o Maracanã, o Flamengo, com dois gols de Zico e um de Vítor, sacramentou um 3 x 0 e parecia ter feito o serviço.

Parecia…

Então, chegou o grande dia. Domingo, 15 de maio de 1983. No dia anterior, muita chuva. O domingo estava nublado e um sol tímido se esgueirava entre as nuvens. Ao redor do estádio, uma massa impressionante de pessoas. Não esqueço até hoje daquela imagem das ruas entupidas de atleticanos. Brigas, filas, cambistas, discussões. Muitos desistiram. Um policial militar chega para as pessoas numa fila e dispara: ‘acabou o ingresso, ninguém mais vai ver o Zico hoje’… Filas para comprar ingresso, filas para entrar no estádio.Um inferno pré-jogo.

Dentro do estádio a visão era inacreditável. Completamente rubro-negro. A torcida do Flamengo ficou espremida na metade de um anel superior. Apesar de uma corda separando as torcidas, a maioria esmagadora era de atleticanos. Gente empoleirada até nas torres de iluminação, arriscando suas vidas. Parecia que o estádio iria ruir a qualquer momento.

A contagem oficial dá conta de 67.391 torcedores. Com certeza havia muito mais. E fora do estádio, pelos arredores, outros tantos. A população de Curitiba à época, girava em torno de 1 milhão e 100 mil pessoas. Então dentro do estádio e pelo entorno deveria estar concentrada mais ou menos cerca de 7% a 8% da população da cidade.

Vi o jogo de pé encostado numa pilastra, pois não consegui sentar na arquibancada. Atrás de mim pessoas de pé que não conseguiam nem ver o jogo. Tudo bem, o importante era estar lá, ser parte daquele momento histórico.

Começado o jogo, sem perda de tempo, o Atlético instaura o terror na defesa flamenguista. Os jogadores cariocas simplesmente não conseguiam tocar na bola. O ruído era ensurdecedor, a pressão era tremenda. Júnior perde a bola, tropeça e vê Sotter lançar a bola para Capitão, que cruza à meia altura, na pequena área e Raul só vê Washington empurrar para as redes. 1 x 0. Na sequência, o mesmo Raul lança mal uma bola, que cai nos pés de Abel, ponta-esquerda do Atlético. Este faz um longo lançamento para Capitão, que dessa vez cruza pelo alto e a bola encontra a cabeça de Washington. 2 x 0. O estádio enlouqueceu. Ninguém acreditava naquilo. Se o estádio desabasse, todos morreríamos felizes, inconscientes do que estava acontecendo. Mais um gol e o Atlético estaria na final.

E num contra-ataque o mesmo Capitão em velocidade, avança decidido com a bola, chuta, mas Raul consegue espalmar para escanteio. Era a bola do jogo. Poderia tape teer cruzado para o Nivaldo que estava livre na área. Não foi daquela vez, mas o terceiro gol estava próximo, maduro. Só que…

Só que depois desse lance, o jogo ficou morno, mais pegado e no segundo tempo, o próprio Atlético esfriou a torcida. Inexplicavelmente não foi mais pra cima, o Flamengo não arriscava muito e no final ficou mesmo 2 x 0, frustrando a todos que esperávamos comemorar não só uma vitória, mas a possibilidade de disputarmos o título. Felicidade e frustração misturavam-se de um modo indefinível. Esse tipo de sensação instantânea e meio cruel que só o futebol proporciona

Essa partida marcaria a despedida de Raul do futebol e seria o antepenúltimo jogo de Zico antes de ser vendido à Udinese da Itália.

Cortando para a realidade atual, vemos os dois times novamente numa decisão.

Dessa vez, entretanto, já não se trata mais daquele Flamengo quase invencível de outrora, e o Atlético de hoje já não é mais aquele time de 1983. As diferenças diminuíram. O Flamengo não tem mais Zico & cia. e o Atlético não é mais aquele time considerado pequeno, que tremeu no Maracanã e deixou escapar por um gol a chance de ir à final.

Os mandos estão invertidos com relação à 1983. Tal qual fez o Flamengo 30 anos atrás, um bom resultado aqui faz com que o Atlético jogue mais tranquilo no Rio.

Talvez o que tenha acontecido em 1983 sirva de prenúncio a esta decisão de 2013. Talvez seja melhor jogar a primeira partida em casa e a derradeira na casa do adversário. Pelo menos essa é a teoria do Mário Sérgio Pontes de Paiva que prefere jogar a primeira em casa. Espero que essa teoria possa funcionar para o Atlético.

Me desculpe Mengão, mas dessa vez, a história terá outro final. Curitiba vai parar de novo sim, mas desta feita com a festa que iremos fazer no próximo dia 27 de novembro para festejar o título inédito da Copa do Brasil.



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