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17 jan 2014 - 12h34

A loucura

Nas vezes em que ocupou a presidência formal do CAP, MCP não se notabilizou por grandes conquistas, diferentemente do que trombeteiam os seus asseclas. Não vou fazer nenhum tipo de esforço para provar essa tese. Basta-me a memória, o que me dá o direito de cometer pequenos deslizes, se for o caso.

Quando começamos a recuperar a nossa auto-estima, em 1995, com a formação do grupo estrelado por Oséas, Paulo Rink e Ricardo Pinto, existia, no clube, algo parecido com uma direção. Muitas pessoas participavam, davam palpites, garimpavam bons jogadores e conversavam entre si. MCP, sem dúvida, era uma delas, a principal. Sob a sua liderança, vibramos intensamente na velha Baixada, com seus degraus acanhados e um calor humano que nos fazia esperar aflitos pelo próximo encontro, pelos jogos que, era sabido então, nos proporcionariam lembranças eternas. Fomos campeões e felizes porque a paixão nos unia, e não por obra de um deus imaginário.

A face autocrática de MCP, no entanto, falou mais alto. Tão logo vislumbrou a oportunidade de se livrar de antigos colaboradores, o grande timoneiro o fez. Isolado em sua infinita arrogância, xingou a torcida que lhe deu apoio, envolveu-se em sucessivas brigas com adversários e amigos, membros da imprensa, da CBF, do governo, da oposição, da igreja, do exército, da marinha e da aeronáutica. Teve razão algumas vezes, errou tantas outras, nem sempre com os olhos voltados para os interesses do clube, e segue, nos dias atuais, aprontando confusões.

Que me perdoem os devotos do rei, mas não me parece correto transformar o CAP em centro de experiências que retiram do futebol o que ele tem de melhor como esporte, lazer e cultura popular. Pois é isso que está no núcleo do projeto capitaneado por MCP: a modernidade a qualquer custo, a frieza do empreendedorismo, o lucro desenfreado e outras novidades afins. Não pretendo destilar saudosismo, mas sou – e não estou sozinho nessa condição – torcedor de um clube que marcou a minha vida, desde a infância, por sua história, sua tradição e sua camisa vermelha e preta, e não acionista de uma empresa construída para o conforto dos seus idealizadores. É justo pensar assim, mesmo que os tempos sejam de aparências mais do que de simplicidade essencial.

Concedo-me, pois, o aborrecimento legítimo. No ano passado, após as turbulências de praxe, conseguimos voltar à Copa Libertadores e restabelecer a identidade entre torcida e clube, que andava bastante arranhada. De qualquer modo, não houve tempo para comemorações. Para nós, o próximo campeonato brasileiro se transformou numa interrogação preocupante. Estamos punidos, outra vez afastados da nossa casa, assolados por processos e acusações na chamada Justiça Desportiva. E, para piorar, destituídos do time que a duras penas se colocou como o terceiro melhor do País.

Para justificar o gosto pela contratação de jogadores baratos, MCP cunhou uma frase célebre, repetida a cada início de temporada: “não faremos loucuras”. O que acontece no CAP, neste mês de janeiro, porém, é a loucura em estado puro. Depois de “inovar” na preparação dos atletas em 2013, submetendo-os a um torneio esquisito na Espanha e obtendo o reconhecimento geral de que a ideia aparentemente tresloucada foi boa, eis que chefe supremo decidiu afastar a comissão técnica vitoriosa, contratar estrangeiros de currículo mediano e devolver Paulo Baier, o ídolo, ao exílio em Criciúma. É possível que tudo dê certo (torço para que aconteça), o que fará de MCP um gênio da raça, glorificado por seus fiéis. Na hipótese provável de fracasso, a culpa será da torcida, que, com seus modos toscos e pouco civilizados, não terá compreendido a importância da adesão bovina aos planos associativos oferecidos pelo poder central. A fórmula é simplista.

Em dezembro último, ao defender perante um grupo dividido de conselheiros a criação da Funcap – um artifício jurídico maroto pelo qual imagina obter o controle absoluto do patrimônio do clube –, MCP teria esbravejado e dito que o CAP não o merece. Belas e edificantes palavras de um homem sem palavra. Palavras grosseiras, na verdade, proferidas por um ditador esmagado pela grandeza imaterial do Clube Atlético Paranaense. Pode ir embora, Petraglia. O caminho de saída nunca lhe foi impedido.



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