90 anos em 90 minutos
Lembro como se fosse ontem: camiseta com listras verticais grossas e rubro negras, com o patrocínio da Conduz e comprada na Jãojão Materiais Esportivos. A caminho do Couto Pereira, em meio a uma multidão de pernas, escuto o estourar de um rojão. Quase que simultaneamente meu amigo João, cujo pai é o grande responsável pelo meu atleticanismo, grita: A-TLÉ-TI-COOOOOO…
João, seu irmão mais novo, o Murilo, o pai deles e eu subíamos a escadaria que dá acesso ao 3º anel do estádio dos verdes quando o Paraná marcou o primeiro tento. ‘Não dá nada. Podemos virar.’ Não, não podíamos. O Paraná Clube tinha um timaço. Saulo, João Antônio, Régis, Gralak, Adoílson e Mirandinha eram os destaques do tricolor de Vila Capanema que assombrava nossos sonhos em meados dos anos de 1990. Já nosso time…bem, digamos que o pessoal, comandados pelo goleirão Gilmar e com Paulinho Kobaiash no ataque, era esforçado. E só.
Mais três gols vieram. Todos na rede de Gilmar. Um deles, calcanhar com a bola no alto de Mirandinha. No colégio no dia seguinte ao massacre, tiração de sarro e lágrimas escondidas no banheiro. ‘Sim, sou atleticano. Que se f…. o resto.’
À época, treinava futebol de salão (que hoje se transformou em futsal) no ginásio em frente a um estádio desativado e em ruínas. Um dia cheguei mais cedo ao treino e fui bater bola no gramado cheio de capim. Um ano e pouco mais tarde, lá estava eu, dentro do mesmo gramado, com uma camiseta do Bamerindus e a faixa de Campeão Paranaense de 1983, para a inauguração da velha Baixada em 1994.
Após isso tudo vieram Oséas, Paulo Rink, Alberto, Ricardo Pinto, Warley, Adriano, Kelly, Lucas, Kléber, Luisinho Netto, Gustavo, COCITO (meu maior ídolo, juro), Nem, Alex Mineiro, Kléberson, Jadson, Fernandinho, Washington, Ferreira, Lima, Rafael Moura, Paulo Baier, Marcelo, Éderson, Weverton e Manoel. Junto e por causa de todos esses, vieram os títulos paranaenses de 1998 (meu 1º título no estádio, ao vivo e com meu 1º porre de chopp em frente à Baixada), 2000, 01, 02, 05 e 09, além do Brasileiro da 2ª divisão de 1995 (ouvi e chorei via rádio), a Seletiva da Libertadores de 1999 e nossa maior glória: o eterno título nacional de 2001, que foi o primeiro de muitos vindouros. Tudo isso em um palco que se molda de acordo com o tempo: o Joaquim Américo, solo sagrado, onde a realidade e a fantasia se misturam. Costumo dizer que só faltava uma coisa para a Copa do Mundo: ter um jogo sediado na Baixada, onde Ziquita testou e venceu o impossível.
Se 90 anos fossem resumidos em 90 minutos, eu entrei no jogo da história do Clube Atlético Paranaense aos 23 minutos do 2º tempo. Agora aos 45 minutos da etapa final, o 4º árbitro ergue a placa indicando os acréscimos para esse jogo de nossa história. Olho a placa e não acredito no que vejo. Porém, os rostos sorridentes na arquibancada e a risada irônica de Petraglia me fazem acreditar: o número 8 deitado, indicando que nossa história será infinita.