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25 abr 2014 - 18h22

Sicupira – 70 Anos

O atleticano Barcímio Sicupira Junior é considerado um dos maiores jogadores da história do estado do Paraná. Ainda jovem, saiu de sua terra natal para jogar no poderoso Botafogo carioca dos anos 60, chegou a General Severiano no ano de 1964 e foi comparado fisicamente ao jogador galã e playboy Heleno de Freitas para jogar em um time que tinha; Nilton Santos, Gerson, Didi, Garrincha, Jairzinho, Paulo Cézar Caju e Zagallo, no Atlético deu espetáculos com Djalma Santos, Belline, Zequinha e Brito, em 1972 foi emprestado pelo Atlético ao Corinthians e por lá atuou ao lado de Rivellino, Zé Maria e Ado,( a saudade foi tanta da torcida atleticana que neste ano quando o Corinthians veio jogar em Curitiba parecia ATLEtiba no Belfort Duarte, estádio lotado com 45.212 sendo mais da metade de atleticanos indo ver e torcer por Sicupira). Nenhum jogador paranaense jogou com tantos campeões mundiais em times brasileiros. Chegou ao Atlético em 1968 para a disputa do Robertão, embrião dos campeonatos nacionais de futebol que viriam pela frente, e na sua estreia (em todas as estreias de Sicupira ele sempre fez gol) um empate de 1×1 no jogo contra o São Paulo na Vila Capanema na abertura do torneio; Sicupira entra no decorrer do jogo e empata a partida, mas não foi um empate qualquer e nem apenas um cartão de visita, foi um gol de bicicleta, mais um de bicicleta, em toda a sua carreira foram 8 gols de bicicleta, Sicupira é o jogador que mais fez gols de bicicleta na história do futebol mundial, Leônidas da Silva o “Diamante Negro” inventor da jogada fez somente 4 gols de bicicleta, a metade de Sicupira. No Robertão de 1968, primeiro campeonato de Sicupira com a camisa rubro-negra, em três jogos, (Cruzeiro, Náutico e Bahia) atuou em tempo integral, entrou no decorrer de mais seis jogos (São Paulo, Fluminense, Botafogo, Internacional, Corinthians e Grêmio) num total de dezesseis partidas do Atlético no campeonato e fez 4 gols da histórica campanha atleticana que assustou o Brasil. No mesmo torneio, porém em 1970 logo após ser campeão estadual, Sicupira junto com Djalma Santos passava experiência e diversão ao grupo atleticano que disputava o campeonato: “Em uma viagem do Atlético para Porto Alegre, Sicupira pediu ao centroavante Liminha que lhe pagasse o lanche no avião, Liminha esperou a cobrança e no final foi o estopim de uma grande risada dos veteranos: – Moça quanto eu devo? Perguntou Liminha. Mas antes Sicupira havia rido de Júlio, que acreditou em Djalma Santos que disse que haviam espalhado areia na pista (que estava molhada) para o avião não derrapar pois podia ser perigoso.” No decorrer do campeonato, o artilheiro também recebeu um apelido “Sicupira a alegria dos Cardiologistas”. Contra o Bahia que estava invicto Sicupira recebe a bola na frente aos 44 minutos do segundo tempo, o time baiano que só pensava em não perder e voltar do sul com um 0x0 estava fechado, Sicupira impedido cabeceou e marcou. O juiz assinala o impedimento e anula o gol, o Bahia colocou a bola em jogo depois da infração marcada chutando a pelota em cima de Luís Antônio, que dá um toque para Sicupira que aos 45 minutos chuta forte para a meta de Picasso que enfim é batido e perde a sua invencibilidade, Atlético 1 x 0 Bahia. Fazendo jus ao apelido “Sicupira a alegria dos Cardiologistas” o então diretor de futebol Lauro Rego Barros passa mal no vestiário e tem que ser levado as pressas para o hospital mais próximo da Baixada. Em menos de um mês, Sicupira decidiu três jogos em cima da hora no fim do segundo tempo (América aos 47, Bahia aos 45 e Santa Cruz 49′). Este time venceu o Santos com Pelé, Carlos Alberto e Clodoaldo em campo logo após o tri campeonato mundial no México, agora com Djalma Santos iniciando a sua carreira de treinador substituindo Alfredo Ramos tendo sempre o apoio incondicional e a ajuda do líder do craque da 8. Sicupira é o maior artilheiro da história do Atlético com 157 gols, foi artilheiro em dois campeonatos regionais os de 1970 e 1972, sendo que em 1972 marcou 29 gols somente neste estadual. Fazendo um comparativo com outros artilheiros rubros negros, Sicupira é o maior artilheiro de todos os tempos; Atacantes que o sucederam e foram artilheiros dos respectivos campeonatos: Vaquinha em 1975 foi artilheiro com 12 gols, Washington em 1983 foi o artilheiro com 23 gols, Renaldo em 1992 foi o artilheiro com 22 gols, Paulo Rink em1997, foi o artilheiro com 21 gols, Tuta em 1998, foi o artilheiro com 19 gols, Kleber Pereira em 2002,foi o artilheiro com 9 gols, Alex Mineiro em 2007, foi o artilheiro com 17 gols, Rafael Moura em 2009, foi o artilheiro com 14 gols e Bruno Mineiro em 2013, foi o artilheiro com 11 gols. Sicupira foi campeão estadual em 1970, sua única conquista, mas brilhante. Após a euforia da chegada de jogadores de seleção, dos “equívocos do apito” e da ausência de Jofre Cabral, o ano de 1970 surgia como um ano sem muitas expectativas, poucas contratações e muitas dividas administradas pelo então presidente Passerino Moura que mesmo com problemas financeiros abriu mão de uma renda maior se jogasse fora da Baixada os ATLEtibas, decisão fundamental para a conquista do título e com mais o talento de Sicupira comandando a equipe auxiliado por jogadores históricos como Djalma Santos , Zico,Amauri, Júlio, Nilson Borges e os pratas da casa Alfredo, Liminha, conseguiram um título pouco provável, foi o “Tostão contra o Milhão”, titulo após 12 anos de jejum, foi uma festa na BR 277 com “O Polvo”, técnico Alfredo Ramos passando mal no caminho de volta à Curitiba na serra do mar. Sicupira ajudou a tirar o Atlético de uma espera que duravam 12 anos e foi decisivo nos últimos jogos, contra o União Bandeirante foi o responsável pela virada faltando 15 minutos de jogo marcando os 2 gols no famoso goleiro Mão de Onça e contra o Seleto foi o maestro articulando os 4 gols da vitória. Seu amigo e companheiro de 1972, Rivellino não conseguiu fazer o mesmo para o Corinthians que não foi campeão enquanto Rivellino jogou pelo clube do Parque São Jorge. A crise iniciada no ano de 1969 segue sem dar tréguas no Atlético, mas em 1972, comandados pelo grande presidente Lauro Rego Barros, um time fantástico é formado, “Picasso,Claudio Deodatto, Di, Alfredo e Júlio; Sergio Lopes, Valtinho e Sicupira, Buião, Ademir Rodrigues ( Kelé) e Nilson Borges”. Para muitos atleticanos este foi o melhor time de todos os tempos, mas a perda do título atleticano foi triste e dramática. Quebram a perna de Ademir Rodrigues de maneira proposital num jogo em Ponta Grossa a mando do diretor coxa Luís Afonso Camargo que ofereceu uma recompensa a zaga do Operário se fizesse o trabalho sujo, a notícia chega minutos antes no vestiário dizendo que o alvo da agressão era Sicupira, então Alfredo Ramos troca o posicionamento de Sicupira pelo de Ademir Rodrigues achando que nada iria acontecer, pois saberiam que Sicupira não estava no ataque, mas Ademir Rodrigues é covardemente violentado por Ozires que pensava ter atingido Sicupira, Ademir Rodrigues tem a sua perna direita estilhaçada e é obrigado a encerrar a sua carreira. No ano seguinte em sua casa no Jardim Social o diretor corrupto que deveria ter sido banido do futebol e que ganhou mais 35 vezes na loteria esportiva manipulando resultados confessou o ato de “incentivo” e disse que jamais faria isto novamente, segundo o diretor coxa, a ideia era tirar Sicupira por apenas alguns meses, mas a atitude hedionda do diretor coxinha acabou com a carreira de Ademir Rodrigues. O time deste diretor excursionava enquanto os jogos do estadual seguiam, e na volta da excursão, que mais parecia descanso e pré-temporada o adversário já sabia de quem tinha que ganhar e como ganhar (R$) para chegar à conquista, e com um forte esquema de arbitragem e corrupção dos anos 70 conseguem tal façanha de maneira muito obscura e vergonhosa mesmo sendo bombardeados pelo ataque atleticano no segundo jogo decisivo. Em 1971 recebe um elogio fraternal do paranaense Patesko, primeiro jogador paranaense a participar de 2 Copas do Mundo 1934 e 1938, que radicado no Rio de Janeiro volta a Curitiba depois de 28 anos para assistir um ATLEtiba, “Pena que Sicupira saiu do meu Botafogo, está mostrado um futebol excelente, como este futebol de hoje seria titular absoluto no meu time”. Mesmo parado no Atlético, o clube não arrumava amistosos em 1971, Sicupira continuava a ser o grande ídolo no Paraná, somente Sicupira era capazes de lotar os estádios sabia o antigo MDB de guerra que aproveitou a brecha da falta de jogos para convidar Sicupira a ser candidatos nas próximas eleições municipais, Sicupira recusou. No cenário nacional Sicupira disputou pelo Atlético além dos dois Robertões em1968 e 1970, os nacionais de 1973,1974,1975. Em 1972 foi emprestado ao Corinthians e fez história com gols e tabelinhas ao lado de Rivelino. Com a camisa do Atlético em 1973, uma campanha modesta e problemática onde praticamente o clube debutou neste ano para o Brasil nos campeonatos brasileiros. Com graves problemas financeiros, sapos enterrados no Belford Duarte, descaso da diretoria de futebol e muitos jogadores, o discurso de Sicupira era sempre o seguinte “Olha quando a gente entra em campo não quer saber o valor do bicho ou se existem outros problemas, dentro do campo a gente briga é pra ganhar o jogo”, assim foi no ATLEtiba em que o Atlético sai aplaudido de pé pela torcida após os milagres de Jairo .Pela falta de comprometimento de alguns dirigentes da época que marcaram uma reunião com os jogadores e não comparecerem para resolver os problemas, o Atlético perde as duas ultimas partidas (Corinthians e Internacional) que poderiam ter dado a classificação ao rubro-negro. No ano de 1974, uma grande campanha, nas primeiras partidas da fase inicial destaques para as vitórias contra o Internacional (1×0), Botafogo (3×1), Fluminense (3×0), Coritiba “com arbitragem nacional” (1×0), Portuguesa (1×0), Bahia (1×0), Remo (2×0), Olaria (4×0), America RN (1X0), Sampaio Correia (1×0). O Furacão ficou em sexto lugar na classificação da primeira etapa e foi para a segunda fase que era composta por quatro grupos de seis times. Neste regulamento só existiriam jogos de ida e apenas o primeiro colocado se classificaria para o quadrangular final. O grupo do Atlético era o “4”, formado por Atlético, Internacional, São Paulo, Portuguesa, Fluminense e Goiás. O time rubro-negro jogou apenas uma partida em casa no empate contra a Portuguesa (1×1), e jogando fora de casa fez a seguinte campanha: contra o Internacional (1×1), venceu o Fluminense no Maracanã (1×0), empatou com o São Paulo no Morumbi (0x0) e venceu o Goiás (2×1). O Furacão ficou a um ponto do Internacional que jogou três partidas no Beira Rio e que foi o time que se classificou para o quadrangular final, segundo os gaúchos, o Internacional não ganhou este campeonato de 74 por descuido e soberba, e após o término da competição disputando o estadual gaúcho, foi o campeão invicto com 18 vitórias em 18 jogos. Então, o Atlético ganhou deste time na primeira fase e empatou na segunda fase, ficando a um ponto da classificação jogando praticamente toda a fase final fora de casa se mantendo invicto nestes jogos. Sicupira neste ano fez 10 gols, incluindo o do ATLEtiba em cima de Jairo dos 29 gols do Atlético, jogou 19 partidas e com ele em campo o Furacão teve um aproveitamento de 68%. Sicupira se contundiu e ficou fora de algumas partidas na fase inicial do campeonato, e sem o craque da 8 o Atlético teve um aproveitamento de 30% em 5 jogos. No campeonato nacional de 1975, após uma reformulação no elenco e com Sicupira com problemas de contusões sendo substituído constantemente em muitos jogos, o Atlético ficou na repescagem não passando para a próxima fase. Fim de uma carreira linda de Sicupira aos 31 anos.

Em uma época pouco comum para jogadores de futebol, Sicupira mostrava que estava à frente de seu tempo e já era graduado em Educação Física incentivado por seu pai muito antes de encerrar a sua carreira nos campos de futebol, que por solidariedade a muitos companheiros o fez como maneira de protesto à diretoria atleticana. Respeitou tanto a camisa do Atlético e sua torcida que sequer cogitou atuar por outro time profissional mesmo tendo idade e condições físicas. Voltou ao Atlético em 1978 como técnico para a campanha no nacional, mas permaneceu por pouco tempo no comando e foi substituído por Diede Lameiro. Nunca mais assumiu uma equipe profissional para ser treinador, foi diretor de futebol no Colorado em 1979. Vai para as rádios e é sucesso até os dias de hoje, talvez a geração Arena olhe para ele é pense, será que este senhor jogou tanta bola assim? Já nas rádios em 1980 dá uma canja de seu talento na inauguração da iluminação da Velha Baixada com um petardo de pé direito voltando a marcar um gol no ATLEtiba de veteranos, resultado 5×2.

Sicupira além de fazer companhia a campeões mundiais, devolveu a alegria aos atleticanos no titulo de 1970, foi artilheiro do estadual por 2 vezes, jogou o histórico ATLEtiba do dia 14/03/71,maior goleador da história atleticana, lutou bravamente em 1974 em uma das mais belas campanhas do Atlético em campeonatos nacionais, fez parte de um time inesquecível que está na ponta da língua de muitos vovôs atleticanos, está na Seleção dos 80 anos do Atlético, passou por muitas dificuldades numa época difícil do Atlético e jamais se entregou sendo sempre o craque da 8. Que bom seria se os Deuses do Futebol deitassem o numero 8 da camisa em suas costas e que este representasse o infinito para que Sicupira fosse eterno na Baixada não abandonando os gramados vestindo sempre o manto sagrado rubro-negro com o numero 8 nas suas costas.

Barcimio Sicupira Junior que uma vez disse que com este nome apelido nenhum pegaria, completa 70 anos no dia 10/05/2014. Espero que esta data não passe em branco pela torcida, pelos sites, pela imprensa e pela direção do Atlético e que as devidas homenagens sejam prestadas a um dos grandes ídolos da história do Atlético.

Estreia e o primeiro gol de Sicupira



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