Votos de amor no templo da Baixada
Como atleticano, a maior decepção da minha vida foi ter sido obrigado a ver pela TV as partidas decisivas do Campeonato de 2001, pelo simples fato de que não consegui comprar ingressos nas filas monstruosas que se formaram às dez da noite do dia anterior ao da abertura das bilheterias.
Naquele ano, serviu de consolo apenas ter comemorado o título na Praça do Atlético, com toda a torcida, em frente ao telão colocado na Baixada.
Decidi que, dali para frente, não perderia um jogo sequer do Atlético na Baixada. Não haveria o que me impedisse de estar no nosso templo sagrado.
Nos dois Campeonatos Brasileiros que se seguiram comprei os pacotes de ingresso. Acredito piamente que, em todos os momentos em que assistia ao Furacão, jamais o vi tomar gol, graças aos meus gritos de “Sai!” e que, quando tal infelicidade aconteceu, foi porque eu não estava prestando atenção ao jogo.
Sofri calado a dor de, qual marido traído, não ver meu ingresso para a partida contra o Vitória ser reembolsado. Continuei com meus votos, indo à Arena e gritando “Sai!” nos ataques inimigos.
Ao saber que seriam vendidos ingressos não apenas para o Campeonato Brasileiro de 2004, como também para todo o ano de 2005, prontifiquei-me a ser o primeiro a fazer tal aquisição, em prol de manter meus votos de fidelidade e amor ao clube.
Infelizmente nesse ano de 2004 terei de quebrar esses votos. Depois de seguidamente demonstrada a sensibilidade da Diretoria do CAP para com seus seguidores, agora nosso templo se torna pátio de vendilhões. Os pacotes de ingressos, que eram vendidos com no mínimo 40% de desconto, agora têm meros 16% de desconto, a título de “esmola” para os fanáticos infelizes, sobre um preço reajustado em 100%.
Por maior que seja o amor pelo Atlético, não posso sacrificar minha família e meu sustento. Não posso pagar quase três vezes mais, por uma temporada, do que paguei na temporada anterior. Você me impôs o sofrimento da escolha, eu escolho ficar sem você.