Atleticanismo
Sou “Atleticanólatra”. Atleticanismo é o nome que dá, a uma doença que se manifesta da mesma forma em todos os tempos. Ela é compulsiva. Às vezes, é hereditária, mas normalmente, é transmitida geneticamente. É extremamente contagiante, não contagiosa, mas contagiante. Tem em comum, o fato de que, todos os portadores dessa doença, têm uma terrível aversão às cores verde e branca e uma atração irresistível às cores vermelha e preta. Seus sintomas são iguais e imutáveis. Mudam apenas as épocas e os locais em que ela se manifesta.
Vendo a entrevista do Mafuz em nosso espaço, não pude deixar de viajar, com muitas saudades, ao ano de 1972. O ano em que o Atlético teria que fazer algumas partidas para ser campeão do primeiro turno. Os coxas estavam viajando para a Europa, tinham adiantado algumas partidas. Já havíamos estado em Ponta Grossa-PR, no jogo já haviam quebrado a perna do Ademir Rodrigues e nossos ônibus já tinham sido apedrejados, vidros quebrados, Atleticanos feridos, um verdadeiro horror. Entre os feridos tínhamos crianças, rapazes e também meninas que nos acompanhavam. Nosso último adversário seria o União Bandeirantes, o temido time do Serafim Meneghel, o homem que invadia o campo e dava de dedo em árbitros. O jogo seria no sábado. Nossos ônibus saíram de Curitiba na sexta-feira à noite. Viagem inesquecível, ninguém se conhecia e em dez minutos todo mundo era irmão. Muita cachaça nome que se utilizava para denominar todos os tipos de bebida que contivessem álcool -, mesmo que entre nós, houvesse muito tubão de qualidade. Grosso modo, o que se bebia era cachaça mesmo, em forma de caipirinha, pura, com coca-cola, enfim, de todas as formas.
Para não sermos expostos antes da hora, decidimos ir para Andirá. Almoçaríamos lá e um pouco antes do jogo, iríamos para Bandeirantes. Passamos em uma loja e compramos muitos chapéus de palha, que imitavam o chapéu do Meneghel, e os usávamos para tirar onda do dono de Bandeirantes. Estava um jogo muito difícil. Para suportar a pressão, só mesmo com com muita cerveja. Pois bem, como eu estava com muita sede, sem notar, repentinamente, vi-me, no meio da torcida do Bandeirantes, com o chapéu do Meneghel na cabeça, em frente à barraquinha onde os bandeirantinos ficavam tomando cachaça. Tomei muitos cascudos e porradas, fui salvo somente pela atuação de um jornalista esportivo, um advogado, Sr. Mazza, que escrevia muito bem sobre esportes. Esse profissional, com certeza, salvou a minha vida naquele dia. O fato é que um gol de Sergio Lopes deu-nos o título de campeão do primeiro turno e direito de ir à final do campeonato.
Mas, não é sobre isso que quero escrever. Para se ter uma idéia do que é essa terrível doença, havia um jovem, um ex-amigo, que havia estudado comigo no Colégio Militar, na década de 60, acho que corria o ano de 63, e no colégio havíamos tido uma encrenca desgraçada. O fato é que estávamos com as relações estremecidas, não nos falávamos mais.
No retorno de Bandeirantes, em uma parada do ônibus, quem eu vejo em minha frente, com a bandeira do ETA e a camisa do Atlético Paranaense? Ele, ali estava o meu inimigo algoz, aquele que eu sonhava dar um pau, como se falava na época. O que houve, em nome do Atleticanismo? Foi instantâneo, houve um caloroso abraço, foi como se nada houvesse acontecido entre nós.
Narro isso aqui em nosso espaço, somente para ilustrar o que pode, a paixão pelo Atlético fazer. Paramos em Londrina. Lembro-me, que da janela dos prédios da cidade, jogavam ovos na gente. Uma bela recepção. Fizemos outras paradas, entre elas, uma em Campo Largo, com direito a pedágio para compra de cachaça, enquanto aguardávamos o dia amanhecer quando entraríamos, triunfalmente, em Curitiba.
Na Velha Baixada, no Santuário da Baixada, Templo dos Deuses do Futebol, a torcida nos aguardava com muito Chopp. Desfilamos pela cidade, lembro-me bem, que nosso grito de guerra (estão vendo como isso não é coisa desta época? Já fazíamos isso) …Olá, olá, olá, no . . do Abatiá, ou …pepino, pepino, pepino, no .. do Evangelino. Tínhamos outros também, são completamente impublicáveis, mesmo com pontinhos. O fato, amigos, é que após isso, finalmente o guerreiro voltou para casa, eu estava exausto, tinha chegado ao meu limite. Estava até aquela hora sem dormir um minuto siquer.
Isso é uma doença desgraçada, é terrível. Para finalizar, tenho dois sobrinhos, filhos de um coxa. São Atleticanos doentes como o tio, e todos os meus filhos, 7 (sete) ao todo, são perfeitamente saudáveis, são doentes fanáticos pelo Clube Atlético Paranaense. Ah! em tempo, até o meu cunhado, depois de tanto massacre, virou Atleticano.
Quando o nosso time se dá mal, nossa casa parece um velório e em dias de alegria como têm sido os últimos dezoito jogos -, nossa casa é só festa. Hoje, 25/10/04, estamos tristes, mas nem tanto, pois, o Santo São Paulo – como já o disseram -, salvou a nossa lavoura. Para completar a nossa alegria, o timinho lá do Itupava, aquele timinho do “Treme-Treme e do CT do Aterro do Banhadão do Atuba, e mais aquele outro, aquele que não sabe de onde veio, quem é, e ou quem será o seu pai daqui a alguns anos, – podendo se chamar Ratinho Futebol Clube ou Paraná Jandaia Futebol Clube, sabe lá, como se chamará -, também perderam. Eles estão completamente sem chances de um bom calendário para o ano que vem, exceto o Brasileirão. Isso se não houver nenhuma queda. Uma boa semana para todos.