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25 out 2004 - 12h55

Atleticanismo

Sou “Atleticanólatra”. “Atleticanismo” é o nome que dá, a uma doença que se manifesta da mesma forma em todos os tempos. Ela é compulsiva. Às vezes, é hereditária, mas normalmente, é transmitida geneticamente. É extremamente contagiante, não contagiosa, mas contagiante. Tem em comum, o fato de que, todos os portadores dessa doença, têm uma terrível aversão às cores verde e branca e uma atração irresistível às cores vermelha e preta. Seus sintomas são iguais e imutáveis. Mudam apenas as épocas e os locais em que ela se manifesta.

Vendo a entrevista do Mafuz em nosso espaço, não pude deixar de “viajar”, com muitas saudades, ao ano de 1972. O ano em que o Atlético teria que fazer algumas partidas para ser campeão do primeiro turno. Os coxas estavam viajando para a Europa, tinham adiantado algumas partidas. Já havíamos estado em Ponta Grossa-PR, no jogo já haviam quebrado a perna do Ademir Rodrigues e nossos ônibus já tinham sido apedrejados, vidros quebrados, Atleticanos feridos, um verdadeiro horror. Entre os feridos tínhamos crianças, rapazes e também meninas que nos acompanhavam. Nosso último adversário seria o União Bandeirantes, o temido time do Serafim Meneghel, o homem que invadia o campo e “dava de dedo” em árbitros. O jogo seria no sábado. Nossos ônibus saíram de Curitiba na sexta-feira à noite. Viagem inesquecível, ninguém se conhecia e em dez minutos todo mundo era “irmão”. Muita “ cachaça” – nome que se utilizava para denominar todos os tipos de bebida que contivessem álcool -, mesmo que entre nós, houvesse muito “tubão” de qualidade. Grosso modo, o que se bebia era “cachaça” mesmo, em forma de caipirinha, pura, com coca-cola, enfim, de todas as formas.

Para não sermos expostos antes da hora, decidimos ir para Andirá. Almoçaríamos lá e um pouco antes do jogo, iríamos para Bandeirantes. Passamos em uma loja e compramos muitos chapéus de palha, que imitavam o chapéu do Meneghel, e os usávamos para “tirar onda” do dono de Bandeirantes. Estava um jogo muito difícil. Para suportar a pressão, só mesmo com com muita cerveja. Pois bem, como eu estava com muita sede, sem notar, repentinamente, vi-me, no meio da torcida do Bandeirantes, com o chapéu do Meneghel na cabeça, em frente à barraquinha onde os bandeirantinos ficavam tomando “cachaça”. Tomei muitos “cascudos e porradas”, fui salvo somente pela atuação de um jornalista esportivo, um advogado, Sr. Mazza, que escrevia muito bem sobre esportes. Esse profissional, com certeza, salvou a minha vida naquele dia. O fato é que um gol de Sergio Lopes deu-nos o título de campeão do primeiro turno e direito de ir à final do campeonato.

Mas, não é sobre isso que quero escrever. Para se ter uma idéia do que é essa terrível doença, havia um jovem, um ex-amigo, que havia estudado comigo no Colégio Militar, na década de 60, acho que corria o ano de 63, e no colégio havíamos tido uma “encrenca desgraçada”. O fato é que estávamos com as relações estremecidas, não nos falávamos mais.

No retorno de Bandeirantes, em uma parada do ônibus, quem eu vejo em minha frente, com a bandeira do ETA e a camisa do Atlético Paranaense? Ele, ali estava o meu inimigo algoz, aquele que eu sonhava “dar um pau”, como se falava na época. O que houve, em nome do Atleticanismo? Foi instantâneo, houve um caloroso abraço, foi como se nada houvesse acontecido entre nós.

Narro isso aqui em nosso espaço, somente para ilustrar o que pode, a paixão pelo Atlético fazer. Paramos em Londrina. Lembro-me, que da janela dos prédios da cidade, jogavam ovos na gente. Uma bela recepção. Fizemos outras paradas, entre elas, uma em Campo Largo, com direito a pedágio para compra de “cachaça”, enquanto aguardávamos o dia amanhecer quando entraríamos, triunfalmente, em Curitiba.

Na Velha Baixada, no Santuário da Baixada, Templo dos Deuses do Futebol, a torcida nos aguardava com “muito Chopp”. Desfilamos pela cidade, lembro-me bem, que nosso grito de guerra (estão vendo como isso não é coisa desta época? Já fazíamos isso) …Olá, olá, olá, no “. .” do Abatiá, ou …pepino, pepino, pepino, no “..” do Evangelino. Tínhamos outros também, são completamente impublicáveis, mesmo com pontinhos. O fato, amigos, é que após isso, finalmente o guerreiro voltou para casa, eu estava exausto, tinha chegado ao meu limite. Estava até aquela hora sem dormir um minuto siquer.

Isso é uma doença desgraçada, é terrível. Para finalizar, tenho dois sobrinhos, filhos de um “coxa”. São “Atleticanos doentes como o tio”, e todos os meus filhos, 7 (sete) ao todo, são perfeitamente saudáveis, são doentes fanáticos pelo Clube Atlético Paranaense. Ah! em tempo, até o meu cunhado, depois de tanto massacre, virou Atleticano.

Quando o nosso time se dá mal, nossa casa parece um velório e em dias de alegria – como têm sido os últimos dezoito jogos -, nossa casa é só festa. Hoje, 25/10/04, estamos tristes, mas nem tanto, pois, o Santo São Paulo – como já o disseram -, salvou a nossa lavoura. Para completar a nossa alegria, o “timinho lá do Itupava”, aquele timinho do “Treme-Treme e do CT do Aterro do Banhadão do Atuba, e mais aquele outro, aquele que não sabe de onde veio, quem é, e ou quem será o seu pai daqui a alguns anos, – podendo se chamar “Ratinho Futebol Clube” ou Paraná Jandaia Futebol Clube, sabe lá, como se chamará -, também perderam. Eles estão completamente sem chances de um bom calendário para o ano que vem, exceto o Brasileirão. Isso se não houver nenhuma queda. Uma boa semana para todos.



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