Crise ampla, geral e irrestrita
Devido a fatores amplamente discutidos e conhecidos de todos os apaixonados pelo Furacão, não apenas instaurou-se uma crise sem precedentes no querido rubro-negro, mas também surgiu um enorme racha, ficando a diretoria com um posicionamento, organizadas e simpatizantes com outro, time sem apoio e ainda outra facção da torcida, mais moderada, tentando propor soluções que satisfaçam a todas as partes.
Acima de tudo isso, creio existir uma crise de identidade no Furacão, que pode ser percebida através de inúmeros sintomas:
A torcida rubro-negra, antes vibrante, está chocha, parecendo a do falecido Pinheiros;
Nossos jogadores sentem falta de proximidade do apoio e da torcida, coisa realmente inédita em se tratando de Clube Atlético Paranaense;
A diretoria não se preocupa com a opinião da torcida, ou clientes, como prefere a diretoria, coisa também inédita e inadmissível;
Surgiram novos atleticanos, que não beberam, seja por falta de tradição familiar ou por ter nascido depois da ida para o Pinheirão, na fonte da baixada;
A divisão da baixada em setores diversos, com preços diferentes.
Diante de tais fatores, uma breve lembrança do passado pode trazer à luz o porquê dos problemas vividos hoje pelo Atlético:
O Joaquim Américo nunca teve qualquer tipo de segregação em relação a preços de ingressos. Na velha baixada, as cadeiras só serviam para os familiares de jogadores e para guardar cobertas as cabines de rádio e tv, além de ostentar os dizeres A Maior Torcida do Paraná. Todos os outros atleticanos, sejam quem fossem, se acomodavam nas arquibancadas. Vale lembrar que os lugares mais disputados ficavam ao lado das organizadas, Fanáticos e a saudosa Guerrilheiros da Baixada.
Desde que estreei em campos de futebol (isso foi em 1977, no 4X4 Colorado e Atlético), a torcida sempre se voltou de costas para o time quando este jogava mal. Portanto é novidade para aqueles que não viram ou não ouviram as histórias.
Xingar jogadores, técnicos e dirigentes sempre fez parte das características do torcida do Atlético. O que era inadmissível, e hoje tornou-se comum, é xingar o time. Jogadores, dirigentes, técnicos, vêm e vão. Mas o time é nosso e o amamos. Ofendê-lo, portanto, é heresia.
Nossos dirigentes podiam ser loucos, incompetentes, o diabo. Mas ignorar a torcida, jamais o fizeram.
Um episódio, contra o Grêmio Maringá, para ilustrar o espírito original da Torcida Atleticana:
Depois da grande campanha de 1983, quando ficamos em 3° lugar no Brasileirão, conseguimos manter alguns jogadores da gloriosa campanha e trazer alguns outros bons. Assim, nossa hegemonia permaneceu, ganhamos o 1° turno e, naquele momento, bastava uma vitória contra o Grêmio Maringá, em casa, para levantarmos o caneco do 2° turno e sermos campeões por antecipação. Era um sábado de Sol, a baixadinha recebeu cera de 13000 pessoas e estava lotada. Lá pelos 20 minutos de primeiro tempo, o time meio apático, devagar, e de repente, 1X0 para o Grêmio Maringá. Primeira reação de toda a torcida: xingar os jogadores. Depois, bater sobre o teto do banco de reservas do Atlético (o banco ficava encostado no alambrado), proferindo as tão típicas ameaças. Finalmente, chutar o portão de acesso ao campo, que na época estava onde hoje são as cadeiras da Getúlio Vargas. Eu, com apenas 10 anos, via diversos homens e senhores, todos de bem e apaixonados pelo Atlético, ameaçando e xingando jogadores e comissão técnica, além de é claro, torcer como desesperados. O time foi para o intervalo, voltou, fez três gols. Fomos campeões, os portões, antes tratados a socos e pontapés, foram gentilmente abertos para que torcida e jogadores se encontrassem. Tudo em paz, muita alegria, atletas nos braços da torcida. Assim era o Atlético, que do rabo do porco fazia uma feijoada, graças aos brios de sua torcida e à valentia de seus jogadores.
As coisas mudaram. As histórias do Furacão, passadas de pai para filho, não são mais contadas. Assim, os novos atleticanos não têm a chance de adquirir a identidade rubro-negra. A título do que muitas chamam civilidade, não se pode cobrar nada de jogadores, técnicos e jogadores, para não magoá-los. A diretoria, que não respeita torcida, uma vez que a considera antes de tudo consumidor e não torcedor, ignora o que sejam anseios populares, e preferem postura elitista. Os torcedores mais vibrantes e tradicionais se deixaram dominar pelo ódio e esqueceram, portanto, do amor pelo Atlético. Pararam assim de torcer, de cobrar devidamente. Verdadeiros atleticanos, não esqueçam: o time é nosso, assim como é de nossos pais, foi de nossos avós e será, Deus quer, de nossos descendentes. Gritemos, portanto, com ainda mais força, para levarmos nosso time à Vitória e mostrarmos quem realmente somos e nunca deixaremos de ser a mais vibrante torcida do Brasil.
Reflexão: Antigamente grande parte da torcida, organizada ou não, saía afônica do estádio, devido ao esforço para empurrar o time. Isso acontece hoje?