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25 jan 2006 - 14h18

Trampolim

Há cerca de vinte anos, minha família costumava, quando possível, passar alguns dias na cidade de Laguna, em Santa Catarina. Viagem dura quando a BR 101 ainda era pista simples: quatrocentos quilômetros de sustos e perigos, mas fartamente recompensados pelas belezas (nos dois sentidos) que por lá existem. Lembro-me de que a única coisa que podia estragar a paz de alguém naquela época, lá por aquelas bandas, eram os turistas paulistanos. Mal educados, arrogantes, prepotentes, num tempo onde ainda não havia som automotivo capaz de derrubar um prédio, os paulistanos se encarregavam de irritar os banhistas de muitas outras formas. Além disto, eram motoristas temerários na velha BR, parecendo sentir prazer em colocar em risco a vida de todos que tinham o desprazer de estar em seu caminho rumo às praias catarinenses.

Já não vou mais para Laguna, mas ainda tenho o desprazer de me sentir desrespeitado por paulistas, agregados aos seus eternos cúmplices, os cariocas. Os dois brigam entre si para definir qual cidade é o umbigo do Brasil, mas estão juntos no desprezo por outras cidades e outros estados. Eu, sinceramente, só posso considerar o Rio de Janeiro uma “cidade maravilhosa” se somente olharmos da beira da praia em direção ao mar, sem levar em conta as línguas negras na areia. E São Paulo, a cidade que se afoga nos próprios fluídos toda vez que chove?

Na política, já são candidatos automáticos à presidência da república os prefeitos e governadores do Rio e de São Paulo. Estados satélites, como Minas e Bahia, ficam na espera de possíveis migalhas. O resto do Brasil que se recolha à sua insignificância e não se meta no que não sabe. O fato de terem vindo de São Paulo os dois últimos presidentes, que fizeram o que fizeram, é um mero detalhe.

Se nos exemplos que dei acima fica claro o pouco caso com que o resto do país é tratado pelos paulistas e pelos cariocas, o que dizer no tal do futebol, único produto de exportação onde a excelência brasileira é inquestionável, e o qual juram serem esses mesmos dois estados, os únicos e legítimos representantes dessa dita excelência?

Se somos desprezados enquanto cidadãos e consumidores, é porque temos, sim, muita culpa nessa história. Focando o futebol, o fato do campeonato paranaense de futebol de não ser transmitido pela rede globo é mais um sintoma desse descaso. O argumento é financeiro? Olha, não creio que a transmissão do campeonato mineiro seja rentável. Talvez nem o campeonato gaúcho seja, mas nesse caso há um comprometimento entre a RBS e a cultura gaúcha. Quem já teve a oportunidade de assistir aos canais da RBS lá no Rio Grande sabe que existe muita programação local, com especial ênfase aos aspectos culturais do estado. Isso trás uma identidade entre o povo e o canal de TV. Aqui no Paraná, a rede afiliada da globo parece só atuar como retransmissora, pouco se importando com programação local. Quantos minutos por dia existem de programação local, além dos tele-jornais? E o programa de esporte dominical, que começa na madrugada de segunda-feira…

Indo ainda mais longe e olhando o lado do Furacão, vejo uma parcela de culpa do comando atleticano nessa história toda. Relembro a segunda-feira logo após a sensacional vitória do Furacão de 5×0 sobre o Corinthians em pleno Pacaembú. Jádson foi destaque no Globo Esporte (estadual, é claro) em uma pequena entrevista. Quando perguntado sobre o que queria no futuro, respondeu rapidamente: “jogar na Europa!”. O rapaz nem pensou em dizer, quem sabe: “ser campeão brasileiro esse ano pelo Atlético”. Imagino que isso nem passou pela cabeça dele. Bem, Jádson, seu desejo foi satisfeito. Você está jogando em um clube bem pertinho da usina de Chernobyl, se é que isso te interessa. Já Dagoberto estava, naquela segunda-feira no Arena Sportv, um programinha onde é possível observar a xenofobia paulista-carioca em toda a sua pavônica amplitude. Conversa daqui, conversa dali e perguntam ao Dagoberto sobre sua negociação com o exterior. O rapazinho diz que o que quer agora é ser campeão pelo Atlético, quer trazer alegria à nação rubro-negra que desde sempre o apoiou? Lógico que não. Disse que seu procurador era quem tratava desses assuntos e devia aguardar. Hoje em dia temos o caso Aloísio, que prefere jogar no “sum palo” e simplesmente desconsidera o Atlético sem o menor pudor e creio ser possível enumerar outros casos idênticos. A culpa é do jogador por um comportamento desses? Em parte, só que é impossível não atribuir grande parte da culpa ao próprio Atlético por não incutir o desejo de vencer campeonatos em seus atletas, o amor à camisa, a identidade com o clube e com os torcedores. E por se utilizar da mídia de outro estado para divulgar assuntos importantes, pertinentes aos paranaenses. Afinal não se dizem “dos paranaenses”? Falta um pouco de bairrismo, um pouco de identidade com a terra, um pouco de euforia. Sobram marketing e comercialização. Exigir o quê da TV daqui e da mídia lá de fora sem dar exemplo?

Os jovens jogadores já chegam no Atlético sabendo que irão ser expostos para posterior venda ao exterior, não há engano nisso. O próprio modelo que o Atlético adotou escancara isso. Alguns outros, já experientes, quando estão em má fase procuram o Atlético, buscando valorização. Acho até desnecessário citar algum jogador para ilustrar esse ponto. A maioria dos jogadores parece saber que estão de passagem pelo Atlético e que títulos, se vierem, ótimo, mas não são imprescindíveis. O negócio, sim, é essencial. O que esperar de jogadores que não parecem ter aprendido o respeito pelo time, pela torcida, mas sim que o negócio está em primeiro lugar? E depois, gostaria de saber quem foi o gênio que decidiu emprestar o tal do Aloísio para aquele time. Logo para aquele time? Inimigos são inimigos. Negócios à parte, não é? E agora, como vão sair com dignidade desse rolo?

Os jogadores e alguns técnicos parecem não ter muito respeito pelo Atlético. Sempre que possível eles vem com aquela história da estrutura magnífica, do CT da Arena, mas no fundo parece que buscam outras posições, parecendo que utilizam o Furacão como um trampolim. Ou sprungbrett, em alemão.



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