A Baixada de agora
A Baixada está cada vez mais bonita. Camarotes arrumados, cartazes por todos os lados, banheiros limpos, praça de alimentação e confortos afins. Parece até um aeroporto internacional (opa!). Ou um moderno shopping center, com seus seguranças de terno e gravata e o disciplinado consumismo dos trouxas, digo, clientes. A destoar, a volta do horrível pombal, onde se aboletam os cartolas mais arrogantes do país. De resto, tudo perfeito.
Ou quase. Quando acomodo meu traseiro (as cadeiras são confortáveis e modernas) e olho pra frente, o espetáculo é desconcertante. Um punhado de jovens aborrecidos, trajados com a camisa do clube que amo, se arrasta em campo. Chutões, passes errados, falta de cobrança entre os jogadores, esquema tático nenhum. E falhas, muitas falhas, para a felicidade dos adversários que se habituaram a nos derrotar antes da despedida, pois somos anfitriões muito educados.
Em 2006, até o final de maio pelo menos, não ganharemos de ninguém no outrora caldeirão. Mas não há de ser nada. Os balanços financeiros são positivos, e sempre encontraremos um diretor para exaltar o marketing que nos vende um mundo virtual, no qual somos os melhores. Futebol é detalhe, a paixão é proibida, pessoas não valem nada ali. De repente, minhas pernas me fazem parar. Olho tudo em volta e não sei o que estou fazendo na Baixada, que virou Arena, que virou mercado, que virou promessa, que virou mentira. Peixe fora d´água, lembro-me da fobia que me provocam aeroportos e shoppings.