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7 jun 2007 - 18h33

Não fora o Vadão, é dos verbos ser e ficar

Nunca caí de pau no Vadão, enquanto técnico de futebol; ao contrário, sempre que tive ocasião, enalteci as suas virtudes como profissional. Ele é discreto, objetivo e conciso; acho que, por prudência, não costuma fazer análises mais detalhadas acerca do comportamento da equipe nas oportunidades em que é instado a fazê-lo publicamente, por exemplo, nas entrevistas que concede à imprensa após os jogos. Isso é virtude, pois alguém já disse algures que, certa feita, ao se aproximar de um homem que então se encontrava ajoelhado, de olhos fechados e extremamente concentrado em alguma coisa que somente ele até então sabia o que era, perguntou-lhe: qual a razão dessa sua tão estranha postura? A resposta foi: “…estou orando a Deus para o meu inimigo escrever um livro; pois assim poderei derrotá-lo”.

É claro que o Vadão, de quando em vez, faz algumas coisas aparentemente inexplicáveis durante o transcorrer de uma partida de futebol, principalmente no que diz com algumas substituições de jogadores que promove, ou antes, até mesmo em relação ao team que entra em campo para jogar; todavia, com certeza, ele deve saber exatamente os porquês dessas suas atitudes. Ao meu ver, tudo começa a ter uma lógica explicação a partir do material humano de que ele (Vadão) dispõe para trabalhar. Convenhamos, o elenco do nosso Atlético não é assim tão excepcional em termos de qualidade quanto gostaríamos que fosse. As poucas exceções estão resumidas, segundo penso, nas figuras do Alex Mineiro, do Dênis Marques, do Ferreira, do Alan Bahia, do Nei e do Guilherme. Os demais, são bons jogadores sim, mas não incomuns.

Dizer, portanto, simplesmente, que o Vadão não entende nada de futebol, ou mesmo que não é capaz de estabelecer um padrão de jogo definido para a equipe, ou, ainda, que não coloca em prática nenhuma “jogada ensaiada” anteriormente nos treinos para ser executada por seus players durante os jogos, é argumento pueril e ingênuo. Ora, se a “moçada” faz o que faz e nada além disso, é porque não possui talento para fazer mais do que isso. Nesse contexto, mesmo o maior maestro do mundo vai ser sempre criticado pela performance da orquestra que está regendo, pois é evidente que, caso existam, dentre os músicos que a integram, alguns que destoam da qualidade dos demais, ora porque descuram da correta afinação de seus instrumentos, ora porque esses mesmos instrumentos não admitem qualquer afinação, todas as apresentações da orquestra no geral, salvo momentos pontuais, serão apenas razoáveis.

Quando o Cristian entrou quase no final do jogo contra o Internacional e deu o passe que permitiu ao Alex Mineiro fazer o nosso gol da vitória, todo mundo disse que o Cristian “errou o chute que endereçara ao gol” e que a bola, “por acaso”, ofereceu-se ao Alex que, então, colocou-a dentro das redes adversárias; quer dizer, ninguém sequer teve a boa vontade de imaginar que a jogada talvez pudesse haver sido adredemente “ensaiada” para uma circunstância de jogo como a que então ocorria: final de partida, equipe jogando em casa e empatando com o adversário. Outra: duvido que possa haver um só aficcionado do futebol que não tenha ficado perplexo com o que o Vadão acabou fazendo no Mineirão em termos de “esquema de jogo”. Particularmente, embora impressionado positivamente com a conduta da equipe durante o transcorrer do embate, somente entendi o que o Vadão havia feito dias depois. Ocorre que, consoante esclareceu o Vadão posteriormente -acho até que o fez unicamente para se autodefender das críticas que lhe estavam sendo dirigidas mormente por alguns torcedores-, ele somente conseguiu fazer a “orquestra” desempenhar o concerto daquela maneira por poder então contar com músicos capazes de tocar a melodia em vários tons, principalmente o Nei que, aliás, como todos viram, fez uma partida simplesmente espetacular.

Quer queiram quer não, a verdade é que o Vadão ainda vai nos dar muitas vitórias, escrevam. Ele sabe melhor do que ninguém acerca do potencial de cada um dos integrantes da orquestra que comanda e, diante disso, como ninguém mais, é capaz de dela tirar o máximo rendimento que pode apresentar.

Infelizmente -ou, quiçá, felizmente-, o dia em que o Furacão possuir somente músicos de primeira grandeza, não mais precisaremos tanto de um técnico, como ainda precisamos. Nesse dia, portanto, poderemos prescindir do Vadão ou de alguém como ele. Só para terminar, pergunto: o Dunga, técnico da nossa Seleção -com todo o respeito-, dispõe, a rigor, dos músicos tecnicamente mais qualificados do planeta; que tal o desempenho da Orquesta nas duas últimas apresentações? Alguém duvida, por exemplo, que se o Vadão fosse o técnico da Seleção, não teríamos tido desempenho tão fraco como os que tivemos nos dois últimos jogos?

O verdadeiro técnico de futebol, na minha modesta opinião, é aquele que sabe “tirar leite de pedra”, não aquele que vez por outra ou quase sempre é capaz de “azedar” o leite puro que ganha de graça.

Agora, irmãos rubro-negros, com um pouco de boa vontade, lá com seus borbotões, pensem: afinal, temos ou não temos, na nossa atual circunstância, um técnico de futebol? Caso a resposta seja positiva, vamos apoiar o Vadão; não precisa ser com aplausos, mas, pelo menos, com o silêncio da ausente reiterada injusta crítica.-



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