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5 ago 2007 - 22h24

1990 – um ano inesquecível

Saudações rubro-negras.

Coincidência ou não, ontem 04/08, após a derrota para o Sport Recife, eu fui dar uma organizada no meu arquivo atleticano, revendo as nossas conquistas passadas. Vi que hoje é dia 05/08, e que há 17 anos a gente estava comemorando aquele título inesquecível, e muito bem lembrado pelo colunista Rafael Lemos dias atrás.

Sinceramente, hoje eu abri o site do furacao.com para mandar um e-mail relembrando aquele tão comemorado título, contra tudo e contra todos.

Antes de eu enviar o e-mail, dando a minha opinião sobre a matéria diária, feita pelo próprio Rafael, percebi que ele já tinha escrito sobre o título de 1990.

Só hoje eu tive o prazer de ler aquela matéria que ele fez e quando eu percebi, a emoção veio à tona, que me fez de imediato escrever alguns momentos que eu tive o prazer de viver naquele ano.

Primeiramente, gostaria de agradecer o Rafael pela sua matéria. Me inspirei nela e mandei ver: voltei no tempo e resolvi escrever a minha história. Gostaria que o Rafael soubesse o que aconteceu comigo naquele ano; ele leu e logo me respondeu dizendo que esta minha história é de arrepiar. Pois bem, resolvi publicar e espero que todos entendam e, se viveram, recordem!

No ano de 1990 meu Pai e eterno atleticano desde 1958 (Osvaldo Dalazuana) se dedicava muito ao Atlético; ele tirava dois dias da semana para viver e respirar o Atlético, eram todas as segundas e quintas-feiras, pois nas quartas-feiras e nos finais de semana lá estávamos nós, em todos os jogos, não perdíamos um. Desde o meu primeiro jogo que eu fui em 1983, que por sinal foi na final do Campeonato Paranaense e contra a Coxarada, meu pai fazia questão de me levar em todos os jogos. Quando eu fazia algo de errado, o castigo que meu pai me dava era de não me levar no jogo e levava a minha irmã (Andréia Dalazuana) só para provocar. Hoje eu só tenho a agradecer a ele por me proporcionar estes momentos que eu guardo em minha memória com muito carinho, e fazer de mim um verdadeiro e fanático atleticano.

Pois bem. Voltando ao tempo, eu não tenho a data específica, mas quando o Atlético anunciou a contratação do atacante Kita, eu e meu pai fomos até o Aeroporto Afonso Pena recepcionar o jogador. Lá estavam dezenas de torcedores, Os Fanáticos como sempre, o Presidente Farinhaque, com o seu Monza Classic Azul e, para variar, nós, é claro. Fomos até a área de visibilidade da pista; quando o avião pousou e de dentro dele saiu um cara grande, barbudo, aparentemente fora de forma, nossa, fomos à loucura. A imprensa também estava presente e, para valorizar a matéria, eles pediram para o Presidente Farinhaque uma camisa do Atlético n° 9 para vestir no atacante e tirar fotos junto da galera. Caramba, foi aquela correria atrás da camisa 9; encontraram algumas, mas ambas eram camisas antigas, aquelas com as listras horizontais ainda. Passaram uns minutos até que o meu pai olhou para mim e disse:

– Meu filho, tire esta sua camisa. Quem sabe ela sirva no Kita…

Eu não pensei duas vezes: tirei a minha camisa (M, nº. 9, marca Jumper, listras verticais e com um detalhe, furada em baixo do sovaco); meu pai pegou a camisa e entregou para os caras da imprensa. De imediato, vestiram ela no Kita – parecia uma baby-look – os torcedores ergueram e começaram a carregar o jogador nos ombros, e eu todo metido ao lado, sem camisa.

Fizemos uma grande carreata do aeroporto até a Baixada. Chegamos a queimar a buzina do nosso Gol Branco 88 de tanta euforia. Sem problemas. Disparamos o alarme e o barulho continuou. No dia seguinte estava lá, na capa da Tribuna do Paraná as imagens: o Kita com a minha camisa furada sendo carregado e eu, polaquinho, ao lado sem camisa. É uma pena que este jornal eu tinha de recordação, mas infelizmente perdi. Mas o importante é que a gente tem memória e que certos momentos de nossas vidas a gente não esquece jamais.

Neste mesmo ano, eu lembro muito bem daquele Atletiba dos 3×0, o primeiro jogo entre os rivais no ano. Estávamos indo para o jogo de carro, ouvindo o rádio para saber dos comentários e ouvir as escalações do time. O Atlético de Toinho e cia. (não sei porque o Marolla não jogou naquele dia). Depois da escalação, entrevistaram o então Prefeito de Curitiba Jaime Lerner, presente no estádio para ver o seu timinho do coração jogar; ele foi um dos milhares privilegiadas a ouvir pela primeira vez, em Atletibas, a tímida música “Atirei um pau nos Coxa…tímida até ali.

Me recordo muito bem que durante a semana, todas as manhãs, o meu pai ouvia no rádio um programa voltado para os atleticanos que era apresentado pela Cida Teixeira. Era um programa interessante, onde o torcedor podia participar. Um belo dia, uma torcedora do Coxa, uma senhora de idade avançada, ligou para o programa para desabafar e fazer um pedido:

– Por favor, eu moro aqui, ao lado do estádio Couto Pereira. Eu não agüento mais ouvir os palavrões da torcida do Atlético. É uma vergonha o que eles dizem, mandam chupar aquilo e tomar naquele lugar… Será que vocês não podiam fazer alguma coisa? Eu não agüento mais!

Eu só espero que Deus tenha dado muitos anos de vida a esta senhora, coitada. Será que ela sabe do sucesso daqueles palavrões nos dias de hoje?

O campeonato foi chegando nas fases finais. A Atlético foi obrigado a mandar alguns jogos no Couto Pereira. Eu me recordo muito bem dos jogos contra o Operário e Matsubara, de Tico, Ratinho, Jorge Luis e cia., ambos na quarta-feira à noite. Em um desses jogos (acho que foi contra o Matsubara), ganhamos de 3×2 com um gol de falta do Gilberto Costa no apagar das luzes.

Até que enfim, chegoaram as semi-finais. Fomos assistir o jogo contra o Fantasma em Ponta-Grossa, um timinho encardido com Niquita no ataque e cia. Perdemos o jogo, mas tínhamos a certeza que iríamos reverter a situação. Não deu outra: em um jogo bem mais difícil e nervoso, ganhamos com aquele gol do Serginho, um pênalti muito contestado pelos derrotados, uma catimba generalizada pelos jogadores do Operário, de nada adiantou. “QUE VENHAM OS COXAS.”. Estamos na final, que maravilha!

Meu pai de tão nervoso não quis ir assistir o primeiro jogo da final, mas meu tio (ACIR FALAVINHA e meu primo MARCELO), foram me buscar em casa para ir no jogo. Sem pensar duas vezes, eu fui. No meio do caminho, como sempre, ouvindo o rádio, lembro muito bem que o técnico do Coritiba, o P.C. Carpegiani estava convicto que seu time seria Bi-Campeão (arrogância total do time adversário). Chegamos no Couto e ficamos no segundo anel, ao lado da Fanáticos. O jogo começou, primeiro tempo, 0 a 0. No segundo tempo, levamos um gol, festa da Coxarada. Os minutos foram passando e a coxarada gritando olé. Meu tio incomodado, resolveu ir embora antes do apito final. Ele pegou na mão do meu primo e saíram na frente, desceram as escadas e eu fiquei para trás (eram muitas pessoas indo embora naquele instante).

Ao colocar o pé para descer as escadas, o Atlético foi para o ataque. Eu olhei para trás, vi que o juiz tinha apitado alguma coisa. Eu parei. Rodos ali diziam que era a última chance.

Quando eu olhei para o lado, meu primo estava ali e o meu tio não, ficou lá embaixo. Nossa, eu só vi a bola sendo alçada na área e a rede resolveu balançar! GOL e o jogo acabou, mas a estava apenas começando.

Na hora do gol, o espaço da nossa torcida já estava bem vago, muitos torcedores já estavam fora do estádio. Logo percebi que a torcida voltou para dentro do estádio. Os espaços foram tomados e ficamos por volta de uma hora comemorando aquele resultado, todos enlouquecidos, sofrimento das orelhas da coxarada, e aquela senhora que ligou para a rádio, quanta tristeza, pois saímos nas ruas cantando ao ritmo da bateria a “THE WALL” da Coxarada, aí pegou!

Por fim, veio o domingo, 17 anos atrás. Meu pai deixou de lado o nervosismo e resolveu encarar a final. Lá fomos nós (eu, meu pai, aquele meu tio e meu primo). Fomos prevenidos, minha tia nos deu carona e nos levou de carro (Passat amarelinho) até o estádio. Na saída ela iria nos buscar, pois moramos no Bairro Bacacheri, próximo ao maior Salão de Festa do Mundo.

Chegamos ao Salão: aquilo estava lotado. Fomos subindo, subindo, até dar de cara em uma parede. Mão tinha mais como subir, fomos parar no último anel e no último degrau. Pronto, sem sentar, ficamos de pé mesmo. O resultado do primeiro tempo todo mundo já sabe, o que vocês não sabem é que o meu tio fez. Precipitado novamente e exagerado, ele resolveu ir embora antes do apito final. Ao ver a virada dos Coxas, ele ficou louco, pegou o meu primo pelas mãos e disse:

– Osvaldo, tô indo embora. Não quero ver a festa desses porcos! Marolla *** não sai nas bolas…

Caramba… Meu pai ficou sem saber o que fazer, pois a gente estava de carona com ele, ele iria ligar para a minha tia buscar nós. Começamos a descer as escadas e meu pai foi tentando convencer o meu tio, mas de nada adiantou. Como a gente tinha ido com eles, voltaríamos com eles (tio e primo).

Nem ligamos para a minha tia. Pegamos logo um táxi e, em 5 minutos, estávamos na casa do tio. Chegamos lá, todos surpresos, minha mãe e minha tia sem saber o que tinha acontecido, meu pai chateado com a atitude do meu tio e eu com meu primo pegamos uma bola e fomos jogar em frente da casa. Para a nossa alegria, um vizinho estava escutando o jogo no rádio com o som bem alto. Eu e meu primo ficamos ouvindo. Até que o iluminado Berg fez aquele golaço. Fomos até a casa gritando, “GOOOL DO ATLÉTICO”. Meu pai indignado dizia:

– Eu falei para você, Acir, nós vamos ser campeão.

Foram ligados todos os rádios da casa e combinamos que, terminando o jogo, voltaríamos para o estádio. Para resumir a história: pegamos o Passatão do tio, meu pai apanhou uma camisa do Atlético, colocou no braço, fez dela uma bandeira e fomos fazer festa!

Chegando ao estádio, para ser bem exato, na Rua Mauá, encontramos a Coxarada indo embora. Quando fomos atravessar a rápida, um rapaz, integrante da Torcida Mancha Verde, viu a camiseta que meu pai estava nos braços. Ele veio na direção do carro e disse:

-Vamos rasgar esta camisa, tio?

Inocente, o torcedor chegou próximo do carro e foi pegar no braço do meu pai. Ele jamais imaginaria que meu pai lhe daria uma gravata, que puxaria ele para dentro do carro e com o braço esquerdo acertaria vários socos no nariz do rapaz. Se não bastasse, meu tio resolveu arrancar o carro, o rapaz foi arrastado uns 20 metros até que o meu pai o soltou. Eu e o meu primo estávamos em estado de choque, eu fiquei surpreso, pois nunca tinha visto o meu pai agredir alguém, mas foi por legítima defesa.

Chegamos bem próximo ao estádio, estacionamos o carro bem próximo à triagem da polícia. Meu pai rapidamente alertou os policiais do ocorrido, mostrou as marcas do acidente, a porta do Passat estava com sangue. O guarda foi bem curto e grosso:

– Senhor, não se preocupe. Vá comemorar!

Que sacanagem! Voltamos ao mesmo local onde jamais deveríamos ter saído naquele dia. ATLÉTICO CAMPEÃO. Pronto, o ano poderia acabar naquele mesmo instante, porque a festa e os objetivos já estavam traçados.

Vou deixar os parabéns para quem viveu aqueles momentos. 1990, um ano inesquecível para nós, para muitos brasileiros, o ano futebolístico foi uma tragédia com aquele gol do Caniggia na Copa do Mundo, mas o carrasco Dirceu e o zagueiro melancia Berg fizeram valer a pena!

A luta e as emoções continuam, pena que nos dias de hoje não podemos andar junto com o Presidente, assistir um jogo ao lado do Presidente, chamá- lo de tio como eu fazia e quem dera após um jogo realizado no Pinheirão, empurrar um Fuscão todo podre, estacionado no pátio do estádio com o zagueiro FIÃO na boleia, todo feliz e descontraído; agradecia a todos depois que o carrão pegava no tranco. Interessante não é???

Hoje temos muitas regalias. É lamentável que o brilho e a transparência do futebol de tempos atrás acabou.

Quem dera se um Erandir da vida ou outros grandes craques que temos em nosso elenco atual, andassem de Fuscão sem motor de arranque e sem bateria. Bem que alguns fazem por merecer…

Podemos fazer uma pergunta para o nosso atual Presidente: por um acaso, um dia sequer, o Senhor já foi uma falácia? Ao menos, o Senhor pensou em outro falácia?

Dizer que os Atleticanos são uma falácia, eu sou uma falácia Fanático e esta falácia torcida merece todo o respeito, dignidade e, acima de tudo, pensamos em conquistas, pois futebol não se faz somente com dinheiro, tem que ter algo a mais!

Um forte abraço a toda Nação Atleticana.

Podemos comemorar sim este nosso título. Tenho certeza que ele teve mais brilho que muitos títulos conquistados por aí, que até hoje, alguns melancias se glorificam.

Atlético até a morte.



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