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17 ago 2007 - 18h14

Para entender o Atlético

A princípio, não será um eventual – e provável – rebaixamento que acabará com o Atlético. A situação já foi vivida antes, quando não tínhamos estrutura, estádio, dinheiro ou fama. Éramos uma agremiação minúscula sustentada por uma legião de fanáticos. Incendiávamos as arquibancadas toscas com nossa loucura e nossa paixão. E crescíamos na adversidade. Por que, então, acreditar que a segundona nos fará tão mal agora, que temos a maravilhosa “arena”, o melhor centro de treinamento e profissionais que seguem métodos científicos avançados? Quem, entre os condenados ao ostracismo, poderia competir conosco no atual momento?

Pois é. Essa sensação de pseudo-grandeza que preocupa. Quando éramos “pobres”, quando nossos jogadores entravam em campo com meias furadas e camisas quase sem cor, ao menos tínhamos consciência dos nossos limites e da nossa potencialidade. Para nós, o melhor time do mundo era o Atlético, o nosso Atlético, o Atlético dos tijolos da antiga Baixada ou do vento frio do Pinheirão. O Atlético da crise interminável, o Atlético dos títulos perdidos, dos títulos protestados, dos jogadores caricatos. O Atlético “operado” pelos canalhas do apito, o Atlético do sangue e da luta, o Atlético do povo.

O Atlético, enfim, éramos todos nós. Um clube sem patrimônio, mas de forte personalidade. Um clube que tinha tudo a ver com as nossas vidas. E hoje, o que somos? Qual o projeto que nos guia, afinal? Ninguém saberia dizer. Hoje, nossa sorte está sendo manipulada por uma mente desequilibrada. O que antes era coletivo se transformou em propriedade de uma só pessoa. O totalitarismo chegou ao extremo, se é que se pode cogitar do extremo do totalitarismo.

O método aplicado pela diretoria nos últimos anos parece ter um objetivo definido: destruir o Atlético. Exagero? Pode ser, mas eu, na minha simplicidade de torcedor, não consigo enxergar outra coisa. As peças publicitárias divulgadas pelos empresários do clube são as mais bonitas. Mas a quem se dirigem? O que pretendem? Ninguém, em sã consciência, agrediria seus potenciais “clientes” como o fazem, com freqüência irritante, os cartolas que assaltaram o antigo Furacão. Ninguém ligado aos encantos do futebol conceberia a exclusão de uma torcida capaz de proporcionar os espetáculos que a nossa já proporcionou. O mercado “deles” é outro. É o mercado subterrâneo das transações de jogadores, da política rasteira, das gangues de picaretas que se espalham pelo mundo. Para que os resultados dessa empresa sejam atingidos, nós, a massa, não passamos de estorvo. Somos dispensáveis.

Enganam-se aqueles que pensam que a consolidação da marca Caparanaense não vai alterar a essência do clube. A proposta defendida pelos diretores engravatados não tem nada de ingênua. Ela coroa o processo de esquecimento do passado, uma concepção de traços nazi-fascistas, com pitadas de stalinismo, onde o “novo” é o que importa. E o “novo” se confunde com o dono da instituição assim concebida. Daí por que o iminente rebaixamento não preocupar o Grande Chefe. Daí por que o presidente-fantoche se prestar ao papel de torturador verbal daqueles que não concordam com a doutrina em vigor, contra os quais lança os mais absurdos ataques. Esses contratempos fazem parte da marcha depuradora que levará à formação de uma leva de torcedores acostumados aos padrões europeus de vida e educação. Para estes, a História ainda não começou.

Mas para nós, que apenas amamos o Atlético, ficam a frustração e a tristeza. Jamais imaginaríamos que o nosso clube, com 15 milhões de moedas em seus cofres, proporcionasse tantos vexames em tão pouco tempo. A segunda divisão, que está a caminho, é um passo rumo ao desconhecido. Não existem mais aqueles times horrorosos que abraçávamos com carinho e transformávamos em exércitos de heróis. Não existe humanidade no concreto erguido pela soberba e pela insanidade do poder.

Uma lógica esquizofrênica nos governa e nos rouba a força. Estamos sozinhos, sob o jugo de um tirano megalômano. Mas não há de ser para sempre. O regime apodreceu, o barco afunda e os ratos que se alimentam da nossa desgraça se preparam para a inevitável e covarde fuga. De tudo isso, restará o Atlético. O Atlético que não morre nunca, o Atlético do amor imenso, maior que tudo. O Clube Atlético Paranaense, sem grilhões ou muros de vidro e preconceito, que retornará aos braços do seu povo.

Verá quem viver.



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