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6 ago 2009 - 7h49

Bizarro

Como é difícil ser atleticano no interior do nosso querido Paraná. Torcer na quietude do quarto e “mendigar” imagens, de legalidade de transmissão duvidosa, dos jogos em sites “megaclandestinos” (desculpem-me pelo desabafo, sou estudante e não tenho dinheiro para pagar o PFC) não é fácil.

Quantas vezes me perdi nas transmissões de rádio, sintonizadas pela internet, sentado sem companhia nas frestas pouco iluminadas do meu quarto. Tantas as alegrias, celebradas com um singelo sorriso em frente à tela do computador, diversas as decepções encaradas na solidão do mesmo cômodo, poucos ou nenhum apaixonado pelo Rubro-Negro para discutir comigo e dividir a inquietude de felicidade ou tristeza por um resultado desejado ou indesejado.

Neste domingo, para minha grande felicidade, tive a oportunidade de assistir o Atlético jogar ao vivo e a cores. Isso mesmo. Viajei à Londrina e fui ao Estádio do Café na companhia de mais alguns parceiros atleticanos aqui de Maringá.

Já faz dois anos que não vou à Arena da Baixada acompanhar uma partida ao vivo e, muito embora o Estádio do Café não tenha a mesma magia que a Arena possui, acho que estava me esquecendo o quão bom é assistir o time do coração de perto. Cada passe certo atleticano foi celebrado como um grande passo à vitória, cada jogada errada do time adversário festejada como uma dádiva e o gol acabou por gerar a explosão que a minha alma atleticana tanto clamava.

Desculpem pelo fajuto senso poético, mas não posso me furtar dos sentimentos que me dominam quando falo da paixão que sinto pelo meu Atlético; contudo, não é pra falar desta paixão que estou escrevendo hoje.

Hoje, quarta-feira, se consubstanciou uma noite extremamente interessante para a grande maioria da nação atleticana: o Atlético ganhou e saiu da zona de rebaixamento e o Coritiba perdeu e entrou nela.

Não serei hipócrita ao revelar extrema insatisfação com a derrota do time do Alto da Glória, mas um fato, em especial, me chamou muita atenção, gerando uma tristeza que só estou compreendendo agora: O grande domínio da torcida do Santos na cidade de Cascavel.

Não direi que fiquei com pena do time alviverde, pois externar tal falso sentimento poderia revelar alguma espécie de gozação contra a torcida verde, intenção que, em verdade, sequer passou pela minha cabeça.

Pensei insistentemente na situação que acometeu nosso co-irmão hoje e, de primeiro plano, não achei engraçada.

Resolvi pensar melhor.

Teria fumado um cigarro, mas, felizmente, não tenho este hábito pouco saudável, poderia ainda ter tomado uma cerveja, mas essa madrugada insistiu em ventar meio gelado na cidade canção, então resolvi não inventar: tomei um resto de vinho que resta na minha geladeira.

De segundo plano achei a situação do domínio explícito de um time paulista no nosso Estado (e estampado a olhos vistos na noite de hoje pra rede nacional, afinal o jogo foi transmitido pela Rede Globo) uma verdadeira bizarridão.

Não tenho certeza se estou tratando de um neologismo (o Word acaba de acusar minha ineficiência vocabular), mas me nego a substituir o verbete por outro. Bizarridão e ponto (acabo de pensar que talvez a palavra certa seja bizarrice – essa o Word não acusou). Não mudarei a palavra. Bizarridão e ponto final.

Uma “bizarridão”, uma vez que, certamente, boa parte das pessoas que deviam se encontrar no Estádio Olímpico de Cascavel empenhando sua torcida para o Peixe sequer deviam conhecer a cidade de Santos.

Provavelmente nunca assistiram a um jogo ao vivo do time “do coração”. Raros daqueles lá presentes já deram as caras na Vila Belmiro.

Enfurnei-me nas entranhas de tais estranhos pensamentos e disparei contra mim mesmo: bizarro.

Não me venham os sabidos me dar aulas de história. Sei bem que o interior do nosso querido Estado foi colonizado por paulistas e gaúchos. Não me venham com esse papo formado para justificar a dominância da escolha pelo Futebol Paulista ao nosso.

O que acontece, é que já possuímos mais de 150 anos de emancipação política, ou seja, caros amigos, há mais de 150 anos SOMOS UM ESTADO. Não pertencemos a ninguém.

Entendo que a escolha de um time de futebol se deva, em suma, a diversos fatores, como a escolha feita pelos pais, exposição do clube na mídia e títulos. Não pensem vocês que sou um alienado.

Não me faço de bobo e entendo tudo isso. O que eu não entendo é como pode haver tanta influência de outros Estados no nosso Paraná até hoje. Por que os nossos times ainda não dominaram a torcida do nosso interior? Leva-se tempo eu sei. Não me chamem de chato, mas esse papo de “Curíntia”, “Parmera”, São Paulo e Santos aqui no interior ta me dando no saco. O Atlético Paranaense, bem como o Coritiba, não são times da capital, são times do ESTADO DO PARANÁ.

Amigos, hoje vivemos uma situação no mínimo inusitada, as pessoas nascem no interior do Paraná, estudam no Paraná, trabalham e morrem no Paraná, entretanto, torcem para times paulistas! Será que ninguém vê a gravidade de tal situação?

Aos que apelarão ao lado democrático da nossa sociedade, alegando que antes de paranaenses somos brasileiros e que não existe mal nenhum torcer para o time de qual Estado for, eu contesto afirmando que a discrepância absurda que se dá nas diferenças das torcidas dos times paranaenses e paulistas no interior do Estado subjuga tal tese, afinal, seguindo tal raciocínio me parece minimamente lógico que os Paranaenses que torcem pra times de outros Estados deveriam ser exceção, não regra.

Se ainda não se convenceu, proponho uma comparação: vá ao Estado de São Paulo e veja se achará algum torcedor de time paranaense. Frise-se que lá eles também gozam das mesmas liberdades de torcerem para quem bem quiserem, entretanto, não o fazem porque isso soa estranho por aquelas bandas. Mas afinal, por que soa estranho por lá e não por aqui?

Não quero estabelecer parâmetros duvidosos ou fazer metáforas ilusórias, mas vivemos uma situação bizarra no interior do nosso Estado. A torcida para os times paranaenses é quase inexistente e temos, no máximo, arrebatados alguns simpatizantes, entretanto, poucos torcedores de verdade.

Em resumo, achei uma grande vergonha Cascavel se mobilizar para torcer para o Santos F. C. Como atleticano que sou, não me compadeci fraternamente pela derrota do Coxa, mas me entristeci ao ver que eles, como nós, não dominamos sequer a maioria da torcida do nosso Estado.

Não chegarei ao cúmulo de alguns e chamar tais torcedores de caipiras. Mas que estes não sabem o que é torcer para um time verdadeiramente seu, que me perdoem, mas não sabem.

O que temos que fazer para um Paraná mais forte? Infelizmente o vinho acabou e a resposta não veio. Vou dormir. Tudo isso é tão bizarro.



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