1 jun 2010 - 23h11

Estudo diz que estádios podem virar “elefantes brancos”

A iniciativa privada não está disposta a financiar grandes e valiosos projetos de praças esportivas para a Copa de 2014 no Brasil, o que é um forte indício de que os projetos podem não ser tão rentáveis para as empresas a médio prazo, no período pós-Copa. A constatação é do estudo inédito “Gestão do ativo estádio”, elaborado pela consultoria internacional especializada em negócios esportivos Crowe Horwath RCS e cedido com exclusividade ao jornal Valor Econômico.

Segundo o estudo, a maior parte dos financiamentos para a construção ou reformas das praças esportivas brasileiras virá de investimentos públicos. Dos R$ 5,3 bilhões previstos oficialmente para as obras, 93,5% serão desembolsados pelos governos estaduais ou com financiamento federal de até R$ 400 milhões através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além disso, 9 dos 12 estádios escolhidos para receber os jogos da Copa 2014 são estatais – apenas a Arena da Baixada, de propriedade do Atlético Paranaense, o Beira-Rio, do Internacional, e o Morumbi, do São Paulo, são estádios privados.

Num comparativo com a Copa de 2006, na Alemanha, dos 1,5 bilhão de euros destinados aos projetos de arenas, 62% vieram da iniciativa privada, por empresas de diversos setores.

A diferença na origem do financiamento, diz o estudo, reforça a desconfiança de que projetos esportivos ambiciosos não vingam no Brasil – acabam eternizados como elefantes brancos, principalmente onde o “negócio futebol” é menos desenvolvido.

Confira a reportagem completa, publicada nesta terça-feira no Valor Econômico:

Investimentos: Estudo mostra que há desinteresse da iniciativa privada. Estádios podem virar “elefantes brancos”

Luciano Máximo, de São Paulo

A ausência da iniciativa privada na construção e reforma dos 12 estádios brasileiros que serão palco da Copa do Mundo de 2014 é uma evidência de que eles podem se tornar economicamente inviáveis depois do fim torneio, reforçando a velha desconfiança de que projetos esportivos ambiciosos não vingam no Brasil – acabam eternizados como elefantes brancos, principalmente onde o “negócio futebol” é menos desenvolvido.

O estudo inédito “Gestão do ativo estádio”, elaborado pela consultoria internacional especializada em negócios esportivos Crowe Horwath RCS e cedido com exclusividade ao Valor, mostra que para a Copa da Alemanha, em 2006, 62% do € 1,5 bilhão destinado aos projetos das novas arenas veio de empresas de vários setores. No Brasil, dos R$ 5,3 bilhões previstos oficialmente, 93,5% serão desembolsados pelos governos estaduais, com possibilidade de financiamento federal de até R$ 400 milhões por unidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – dos 12 estádios alemães que foram palco da Copa, 9 eram privados; 9 dos 12 campos de futebol brasileiros são estatais. O banco de fomento informou que os governos do Ceará e da Bahia solicitaram crédito para financiar projetos no modelo parceria público-privada (PPP). Em Pernambuco, eventual participação da Odebrecht no proposta da nova arena está embargada.

Para o consultor da Crowe Horwath Amir Somoggi, a questão mais importante não é de onde vem o dinheiro, mas se o investidor, público ou privado, terá retorno dos recursos aplicados. Segundo ele, para garantir a cobertura do alto investimento é preciso plano de negócios bem definido para aumentar a receita dos estádios, com venda de ingressos e outras atividades, além de dobrar a presença de torcedores nos estádios brasileiros para que a operação das futuras modernas arenas multiuso seja rentável no pós-Copa.

Essa interpretação lança dúvida quanto à viabilidade de projetos de alguns estádios nas menores cidades-sede da Copa de 2014: Manaus, Cuiabá, Brasília, Recife, Natal, Fortaleza e Salvador, onde os clubes locais precisam se profissionalizar, e os campeonatos regionais, crescer muito para ganhar maior destaque no cenário nacional. “Até agora os investidores privados não entraram, porque não veem possibilidade de lucro. Se o investimento privado não for atraído, dificilmente os projetos dessas cidades terão retorno, não há demanda de futebol nesses lugares. Inclusive mercados desenvolvidos como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba podem ter problemas”, prevê Somoggi, um dos autores da pesquisa, que será divulgada às vésperas da abertura da Copa da África do Sul, na semana que vem.

A pesquisa da Crowe Horwath mostra que, depois do Mundial de 2006, as empresas que ficaram responsáveis pela operação dos estádios alemães conseguiram aumentar e diversificar as receitas das arenas, ou seja, a média de público nos jogos da Bundesliga aumentou e os torcedores passaram a gastar mais durante os jogos. Na temporada de 2003-2004, 87% do faturamento dos campos de futebol alemães veio das vendas de ingresso e 13% de outros serviços, como comercialização de produtos e aluguel para lojas e restaurantes, por exemplo. Essa composição, na temporada 2008-2009, ficou em 73%-27%.

O estudo revela ainda que, para dar lucro, um estádio no Brasil com cerca de 50 mil lugares e custo médio de construção de R$ 500 milhões (padrão Fifa) precisa gerar receitas líquidas anuais a partir de R$ 10 milhões – sendo ideal um valor entre R$ 18 milhões e R$ 25 milhões – por até 20 anos. “A taxa de ocupação dos estádios deve subir dos atuais 40% no Campeonato Brasileiro da Série A para 80%, 90%, realidade da Europa. Os preços dos ingressos também terão que subir e deve haver uma nova distribuição de entradas premiuns e camarotes”, reforça Somoggi. Apesar de ter crescido 13% nos últimos cinco anos, a média de público do Brasileirão, de 17.807 pessoas em 2009, é bem inferior à dos principais torneios nacionais europeus, ficando abaixo, inclusive, da média de torcedores que acompanhou a Primeira División do campeonato argentino no ano passado, mais de 20,8 mil.

Em audiência da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados na semana passada, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, afirmou que as cidades-sede da Copa terão que comprovar o retorno econômico das obras das arenas. “A não aprovação da viabilidade pode cancelar a aprovação do estádio para a Copa”, declarou Teixeira. Também na semana passada, o governo federal aprovou pacote de isenções de impostos de cerca de R$ 900 milhões para ações relacionadas ao Mundial de 2014.



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