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12 set 2012 - 10h51

O homem de cabeça de papelão

No excelente texto intitulado ‘O homem de cabeça de papelão¹’, João do Rio (João Paulo Emílio Coelho Barreto, escritor e jornalista carioca) nos conta as aventuras, venturas e desventuras de Antenor, sujeito absolutamente sem importância social, habitante do País do Sol.

O povo do País do Sol se julgava possuidor de imenso bom senso. Antenor, apesar de não ter importância alguma, era exceção mal vista. Esse rapaz, filho de boa família, agira sempre em desacordo com a norma dos seus concidadãos. Desde menino, a sua respeitável progenitora descobriu-lhe um defeito horrível: Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira.

E dizendo sempre a verdade verdadeira, Antenor foi trabalhar. E teve uma grande dificuldade para trabalhar. Passeou a sua má cabeça por várias casas de comércio, várias empresas industriais. Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua.

Por que mandavam embora Antenor? Ele não tinha exigências, era honesto como a água, trabalhador, sincero, verdadeiro, cheio de ideias. Até alegre — qualidade raríssima no país onde o sol, a cerveja e a inveja faziam batalhões de biliosos tristes.

Mas companheiros e patrões prevenidos, se a princípio declinavam hostilidades, dentro em pouco não o aturavam. Quando um companheiro não atura o outro, intriga-o. Quando um patrão não atura o empregado, despede-o. É a norma do País do Sol. Com Antenor depois de despedido, companheiros e patrões ainda por cima tomavam-lhe birra. Um dos seus ex-companheiros explicou certa vez: ‘É doido. Tem a mania de fazer mais que os outros. Estraga a norma do serviço e acaba não sendo tolerado. Mau companheiro’.

Antenor, com fama de perigoso, insuportável, desobediente, não pôde em breve obter emprego algum. Os patrões que mais tinham lucrado com as suas idéias eram os que mais falavam. Os companheiros que mais o haviam aproveitado tinham-lhe raiva.

Em certa altura, conversando com a mãe, Antenor concluiu que sua cabeça não regulava bem e que se ele não a mudasse acabaria numa pior. Levou a cabeça má a uma relojoaria e lá, deixando-a para avaliação e conserto, passou a usar uma cabeça de papelão.

Usando a cabeça de papelão, dois meses depois Antenor tinha uma porção de amigos, jogava o pôquer com o Ministro da Agricultura, ganhava uma pequena fortuna vendendo feijão bichado para os exércitos aliados. A respeitável mãe de Antenor via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era.

Os parentes, porém, estimavam-no, e os companheiros tinham garbo em recordar o tempo em que Antenor era maluco. Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Em resumo: Antenor se tornou o cara!

Até que um dia, passou Antenor pela relojoaria onde havia deixado sua cabeça má para avaliação e conserto. Resolveu entrar:

— Há tempos deixei aqui uma cabeça.

— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.

— Ah! – fez Antenor.

— Tem-se dado bem com a de papelão? —

– Assim…

— As cabeças de papelão não são más de todo. Fabricações por séries. Vendem-se muito.

— Mas a minha cabeça?

— Vou buscá-la.

Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.

— Consertou-a?

— Não.

— Então, desarranjo grande?

O homem recuou.

— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das ideias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.

Antenor ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.

— Faça o obséquio de embrulhá-la.

— Não a coloca?

— Não.

— Faz bem. Quem possui uma cabeça assim não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.

Mas Antenor era prudente, respeitador da harmonia social.

— Diga-me cá. Mesmo parada em casa, sem corda, numa redoma, talvez prejudique.

— Qual! Vossa Excelência terá a primeira cabeça.

Antenor ficou seco.

— Pode ser que você, profissionalmente, tenha razão. Mas, para mim, a verdade é a dos outros, que sempre a julgaram desarranjada e não regulando bem. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique você com ela. Eu continuo com a de papelão.

E, em vez de viver no País do Sol um rapaz chamado Antenor, que não conseguia ser nada tendo a cabeça mais admirável — um dos elementos mais ilustres do País do Sol foi Antenor, que conseguiu tudo com uma cabeça de papelão.

Desnecessário lhes dizer o quanto me vi refletido/representado nesse texto. Não por julgar ser possuidor de uma cabeça de exposição, tampouco pelo fato de usar uma cabeça de papelão.

Mas me vi retratado nesse texto pelo hábito – socialmente péssimo e reprovável – de sempre dizer a verdade e de só dizer a verdade (não a verdade útil, mas a verdade verdadeira).

Quantos problemas e desafetos tenho arranjado em nome da verdade e por me recusar a sair por aí usando uma cabeça de papelão que, provavelmente, me seria de grande utilidade.

A exemplo do Antenor original, só falo a verdade, ainda que ela incomode muita gente. E venho aqui de novo passear a minha má cabeça pelas coisas do Atlético.

Hoje, o Clube Atlético Paranaense vive sua melhor fase na Série B. Marcha firme para a Série A. Volta a passos largos para a Elite, de onde jamais sairia, não fosse o tal de MM.

Hoje, o Clube Atlético Paranaense constrói sua Casa definitiva dentro dos altos padrões da FIFA. E mesmo longe de sua Casa, voltou a jogar em Curitiba na mini panela de pressão que é o Janguitão, onde, jogo a jogo, nossa FANTÁSTICA Torcida quebra os recordes de público do Estádio.

Dez gols em dois jogos. Subida vertiginosa na tabela. A alegria de volta. O Atlético de volta aos Atleticanos. Cenário bom, felicidade, esperança renovada, o Atlético – se ainda não gigante – agigantando-se.

Aqui pergunto: por que muitos nesta hora silenciam?

Quando havia derrotas, havia colunas! Havia colunistas (fixos e colaboradores) inspirados! Escribas vociferando contra Deus e o mundo; contra o Presidente, contra o técnico, contra o elenco, contra tudo.

Sagrado direito de opinar, mas por que só nas derrotas?

Hoje que o Atlético enfim se achou no campeonato, hoje que as vitórias estão chegando, que os gols estão saindo, que a Elite volta a ser uma realidade: o silêncio? Por quê? Por quem?

Vergonha de reconhecer que as críticas eram injustas, precipitadas e exageradas? Medo de admitir que o ‘inimigo’ estava certo? Receio de mergulhar de vez no imenso mar vermelho e preto que toma conta das ruas de Curitiba de novo (VAI QUE É SÓ FOGO DE PALHA E O CAP VOLTA A PERDER, NÉ? MELHOR NÃO SE QUEIMAR. MELHOR SÓ IR NA BOA…)

Por que hoje silenciam aqueles que até ontem vociferavam em praça pública? Por quem silenciam?

Onde estão aqueles que ‘profetizavam’ a queda do Atlético Paranaense para a Série C?

Falem agora, ou calem-se para sempre!

E me desculpem por falar só a verdade, é que não me cai bem usar uma cabeça de papelão…

¹Texto integral em: http://www.releituras.com/joaodorio_homem.asp



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